Quarta rodada de negociações nucleares EUA-Irã é adiada em meio a tensões contínuas

Presidente iraniano Masoud Pezeshkian ouve explicações do chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami, durante visita em Teerã, em 9 de abril.
O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, conversa com o chefe da Organização de Energia Atômica, Mohammad Eslami, em Teerã, durante evento oficial em 9 de abril. [Fonte: Iranian Presidency Office/AP Photo] / Al Jazeera

A esperada quarta rodada de conversas entre Estados Unidos e Irã sobre o programa nuclear, inicialmente agendada para sábado, 3 de maio, em Roma, foi oficialmente adiada por “razões logísticas”, conforme anúncio feito pelo ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr bin Hamad al-Busaidi, mediador das conversações .

Omã, que sediou a primeira e a terceira rodada em Mascate (12 e 26 de abril), afirmou que “novas datas serão anunciadas quando mutuamente acordadas”. Até o momento, não há previsão de reagendamento, e o cronograma dependerá do approach adotado pelos EUA nas tratativas .

Contexto das conversas e histórico de mediação

Rodadas anteriores em Omã e Roma

  • 1ª rodada (12 de abril): Mascate, Omã – foco em restauração de confiança e definição de parâmetros básicos.
  • 2ª rodada (19–20 de abril): Roma – avanços iniciais, com EUA e Irã relatando progresso em fiscalização mútua.
  • 3ª rodada (26 de abril): retorno a Mascate – EUA destacaram “avanços substanciais” na limitação do enriquecimento de urânio .
  • Papel de Omã
  • Omã atua desde 2013 como canal discreto de comunicação entre Washington e Teerã. A neutralidade omani foi fundamental para viabilizar as conversas após o colapso do JCPOA de 2018, quando o governo Trump retirou-se do pacto nuclear de 2015 .

Fatores por trás do adiamento

Sanções dos EUA durante as negociações

  • Na quarta-feira anterior, o Departamento de Estado impôs sanções a sete entidades ligadas ao comércio de petróleo iraniano, acusando-as de financiar “atividades terroristas e seus proxies” .

Retórica agressiva de Washington

  • Em paralelo, o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, ameaçou retaliação contra o Irã por seu apoio aos houthis no Iêmen, alertando que “cada tiro disparado pelos houthis será considerado um disparo do Irã” .

Críticas iranianas

  • Autoridades de Teerã qualificaram as sanções como “contraditórias e provocativas” e atribuíram parte da responsabilidade pelo adiamento às medidas punitivas americanas .

Implicações diplomáticas e próximas etapas

  • Confiança abalada: o adiamento expõe a fragilidade do ambiente de negociação, onde avanços técnicos convivem com impulsos políticos de “máxima pressão”.
  • Definição de nova data: segundo fonte anônima do governo iraniano, “dependendo da abordagem dos EUA, será anunciada a data da próxima rodada” .
  • Cenário de fundo: Trump, em entrevista à Time Magazine (25 de abril), não descartou “ataque militar” caso não se chegue a um acordo, mas reiterou otimismo quanto à possibilidade de pacto .

Análise

Logística x política

  • Embora o motivo oficial seja “logístico”, o contexto de sanções simultâneas sugere uso estratégico de pressão para obter concessões mais amplas, possivelmente visando o desmantelamento do programa de enriquecimento iraniano.

Estratégia de máxima pressão

  • A retomada das sanções e das ameaças diretas indica que a administração Trump mantém a ”máxima pressão¨como pilar, mesmo enquanto negocia, gerando desconfiança em Teerã.

Mediação de Omã

  • A continuidade do papel omani será crucial para reconstruir pontes – sua credibilidade junto a ambos os lados permite, em tese, retomar as conversas quando o ambiente político permitir.

Conclusão

O adiamento da quarta rodada reflete o dilema central das negociações nucleares: a tensão entre a busca diplomática por um acordo e a aplicação simultânea de pressões coercitivas. Enquanto Omã se prepara para reagendar as conversas, o equilíbrio entre garantias de segurança para o Ocidente e garantias de desenvolvimento pacífico para o Irã permanece o principal desafio. A definição de uma nova data dependerá não só de ajustes logísticos, mas também de um clima político menos conflituoso, capaz de sustentar um diálogo orientado a resultados concretos.

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