
Após reuniões em Paris com líderes europeus e ucranianos, o senador Marco Rubio advertiu que os Estados Unidos abandonarão os esforços de mediação de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia caso não haja progressos claros “dentro de alguns dias”. A declaração reflete a crescente frustração da administração Trump com a intransigência russa e marca um ultimato que pode redefinir o papel estadunidense no conflito.
Contexto e exigências
Rubio enfatizou que a iniciativa de paz dos EUA não se estenderá por “semanas e meses” sem sinais concretos de que um acordo é viável “nas próximas semanas”. Segundo ele, se as posições estiverem “tão distantes” a ponto de inviabilizar o entendimento, o presidente Trump declarará: “Estamos encerrados”. A fala ocorreu logo após a apresentação de um framework de paz, que, nesse contexto, é um esboço inicial de acordo, delineando princípios e diretrizes que orientam as negociações, mas que ainda precisa ser refinado e formalizado pelas partes envolvidas.
Avanços prévios e obstáculos
Em fevereiro, em Riyadh, representantes dos EUA e da Rússia estabeleceram um “diálogo de trabalho” para desenvolver um plano de paz, mas sem a presença ucraniana, o que gerou forte reprovação de Kiev e de diversos aliados europeus. Apesar de ter resultado em um acordo parcial de cessar-fogo, as hostilidades recomeçaram pouco depois, incluindo ataques russos a cidades como Sumy e Kharkiv. Paralelamente, os EUA e a Ucrânia avançaram em um preacordo sobre exploração de minerais, com a formalização prevista para a próxima semana, embora sem garantias de segurança explícitas para Kiev.
Impactos econômicos globais
A continuidade ou interrupção das negociações tem implicações diretas nos mercados internacionais e em cadeias de suprimento estratégicas. Rússia e Ucrânia são responsáveis por cerca de um terço das exportações globais de trigo, tendo enviado 40 milhões de toneladas de trigo na atual temporada e 40 milhões de toneladas de fertilizantes no ano passado, segundo dados de exportação minerária e agrícola. A falta de acordo pode agravar os preços de grãos e fertilizantes, pressionando custos de produção agrícola mundial. Além disso, sem perspectivas de paz, o mercado de petróleo tende a se manter volátil: em 14 de fevereiro, o Brent recuou 0,37% em uma sessão marcada por temores de interrupção de sanções e fornecimento russo.
Perspectiva ucraniana interna
Dentro da sociedade civil ucraniana, há receios de que um eventual acordo apressado legitime perdas territoriais. Moradores de vilarejos próximos à linha de frente, como Novopavlivka, temem que as concessões propostas deixem suas comunidades vulneráveis a novos ataques, caso a Ucrânia abra mão formalmente de regiões ocupadas. Líderes locais e figuras da oposição alertam que aceitar os termos russos equivaleria a uma rendição disfarçada, aprofundando traumas e desconfiança interna.
Papel da Europa e sanções
Rubio ressaltou que os sanções europeias a Moscou provavelmente precisarão ser levantadas como contrapartida a um pacto de paz, conferindo à União Europeia um papel central na viabilização de qualquer acordo duradouro. Ele também mencionou a discussão sobre garantias de segurança dos EUA à Ucrânia, afirmando que há margem para um formato aceitável a todas as partes, mas alertou que “temos desafios maiores a serem resolvidos” antes de concluir esse aspecto.
Implicações e cenários futuros
Caso os EUA se retirem, as negociações de paz podem fracassar, pois nenhuma outra potência dispõe da mesma alavancagem sobre Moscou e Kiev. A Rússia poderia adotar uma postura ainda mais rígida, enquanto a Ucrânia dependeria exclusivamente do apoio europeu – significativo, mas sem a dimensão militar e diplomática dos EUA. Ainda, há incerteza quanto à continuidade do apoio financeiro americano: Trump pode manter sanções e auxílio a Kiev ou optar por suspender pagamentos, como parte de pressão adicional.
Conclusão
O ultimato de Rubio define um prazo reduzido para validar a viabilidade de um acordo de paz, sublinhando que “é agora, em questão de dias”, ou o esforço será interrompido. O desfecho dependerá de concessões concretas e de um compromisso simultâneo de Moscou, Kiev e dos principais aliados europeus. Sem tais sinais, os EUA devem redirecionar seus recursos e alinhar seu foco a outras prioridades estratégicas, potencialmente alterando o equilíbrio de forças e as perspectivas de resolução do conflito na Ucrânia.
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