
A estratégia “China +1” — em que multinacionais deslocam parte da produção da China para países vizinhos — vinha ganhando força desde 2018. Mas, em julho de 2025, os EUA anunciaram tarifas de 10% a 40% sobre importações de diversos países do Sudeste Asiático, o que põe em xeque esse modelo de diversificação .
Detalhes das tarifas e suas revisões
- Taxas iniciais anunciadas (abril–maio): até 40% para Laos e Mianmar; 36% para Camboja e Tailândia; 32% para Indonésia; 25% para Malásia; 30% para África do Sul e Bósnia; 35% para Sérvia e Bangladesh.
- Negociações posteriores reduziram alíquotas:
- Indonésia conseguiu patamar de 19% sob acordo prévio, em troca de compra de 50 jatos Boeing, evitando tarifa de 32% .
- Outros grandes exportadores do Sudeste Asiático viram seus deveres ajustados para cerca de 19%, aliviando impacto imediato.
Empresas afetadas: do Vietnã à Tailândia
Empresas que haviam transferido produção para o Sudeste Asiático agora enfrentam custos elevados e incertezas regulatórias. Exemplos incluem:
- Nike: A gigante do vestuário, com fábricas no Vietnã e na Indonésia, viu suas margens de lucro comprimidas devido às tarifas elevadas sobre têxteis e calçados.
- Foxconn: O principal fornecedor da Apple, com operações no Vietnã, enfrenta desafios logísticos e custos adicionais devido às tarifas sobre eletrônicos e componentes.
- Samsung: A empresa sul-coreana, com fábricas na Malásia, observa uma desaceleração na produção e vendas devido às tarifas sobre semicondutores.
Esses exemplos ilustram como as tarifas dos EUA estão afetando diretamente empresas que buscaram alternativas à China, impactando suas operações e estratégias de mercado.
Por que isso importa para a “China +1”?
- Custo repentino e imprevisibilidade: Empresas de eletrônicos, têxteis e móveis (Samsung, Foxconn, Nike) enfrentam elevação abrupta dos custos e incerteza sobre novas revisões tarifárias.
- Triangulação comercial sob mira: A Casa Branca visa coibir a “triangulação” de produtos chineses via Vietnã ou Malásia para escapar de tarifas originais.
- Replanejamento estratégico: Investidores já estudam realocar fábricas não só para Índia e México, mas também considerar seriamente Brasil e América Central como alternativa emergente.
Reações na Ásia
- Vietnã: Considerado o maior prejudicado no primeiro anúncio, Pequim e Hanói dialogam sobre novos acordos de crédito para amortecer choque tarifário .
- Malásia e Tailândia: Chamaram consultas de emergência de exportadores e discutem contra-medidas diplomáticas em Washington .
- ASEAN: Embora tradicionalmente avessa a posições conjuntas fortes, membros propuseram “spree de compras” de produtos americanos para reduzir superávit, em tentativa de negociação coletiva com o USTR .
Quem desponta como vencedor?
- Índia: Mantém tarifa de 25% (menos que a taxa máxima anunciada), reforçando atratividade para TIER 1 da Apple, Dell e Samsung .
- México e América Central: Fortalecem-se com acesso garantido ao USMCA e acordos regionais, atraindo migração de linhas de montagem de têxteis e eletrônicos.
Panorama estratégico
A escalada tarifária não é um simples capítulo de comércio: é um instrumento de poder. Washington usa tarifas para assegurar que redes produtivas críticas fiquem sob jurisdição econômica alinhada com seus interesses, mesmo quando isso penaliza aliados regionais. Do outro lado, Pequim intensifica linhas de crédito e investimentos no Sudeste Asiático para contrabalançar o impacto .
Cenários futuros
Cenário | Possível desfecho |
---|---|
Revisão parcial das tarifas | EUA aliviam alíquotas acima de 25% para países dispostos a acordos comerciais adicionais. |
Multipolarização industrial | Produção se fragmenta entre Índia, México, Brasil e Vietnã, elevando complexidade logística. |
Ação diplomática da ASEAN | Bloco formaliza postura comum e negocia em bloco no G20 ou na Cúpula EUA–ASEAN. |
Contraofensiva chinesa | China amplia linhas de crédito e acordos preferentialistas para manter investimentos. |
Conclusão
As tarifas de 2025 redefinem o “+1” da estratégia: agora é “China +1 + política dos EUA”. A imprevisibilidade tarifária americana poderá levar a uma diversificação ainda maior, mas também a cargas logísticas e políticas que testam a resiliência das cadeias globais. Para os países do Sudeste Asiático, o dilema permanece: aproveitar investimentos externos ou buscar autonomia diante das grandes potências.
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