
Desde dezembro de 2024, após a queda de Bashar al‑Assad e a tomada de poder pelo presidente Ahmed al‑Sharaa, centenas de famílias da minoria alauíta têm sido forçadas a deixar suas casas em Damasco, muitas vezes com arma de fogo apontada para suas cabeças. Organismos de direitos humanos denunciam uma onda de perseguição sectária e exigem investigação e reparação.
Contexto histórico e demográfico
Para leitores que não estão familiarizados, é importante entender quem são os Alauítas:
Entenda o que são os Alauítas
Os Alauítas são uma corrente do Islã xiita, com crenças que mesclam elementos islâmicos e tradições locais. Historicamente minoritária, essa seita concentrou-se nas regiões costeiras da Síria. Sob os regimes de Hafez e Bashar al‑Assad, os Alauítas ascenderam a posições estratégicas no governo e nas Forças Armadas, o que alterou significativamente sua distribuição geográfica e influência política.
Para mais de meio século, a família Assad garantiu sua base de apoio promovendo Alauítas em posições militares e estatais, deslocando-os de regiões costeiras para centros urbanos como Damasco. Essa política de engenharia demográfica reforçou o domínio alauíta no aparelho de estado. Após a deposição de Assad em dezembro de 2024, esse movimento se inverteu: Alauítas agora são alvo de retaliação sectária, revertendo antigos deslocamentos forçados pelo regime anterior.
Para mais de meio século, a família Assad garantiu sua base de apoio promovendo Alauítas em posições militares e estatais, deslocando-os de regiões costeiras para centros urbanos como Damasco. Essa política de engenharia demográfica reforçou o domínio alauíta no aparelho de estado. Após a deposição de Assad em dezembro de 2024, esse movimento se inverteu: Alauítas agora são alvo de retaliação sectária, revertendo antigos deslocamentos forçados pelo regime anterior.
Padrão de evicções em Damasco
Segundo investigação da Reuters, desde dezembro, grupos armados ligados ao novo Serviço de Segurança Geral (GSS) têm invadido residências de Alauítas, apresentando documentos de propriedade sem validade legal, prendendo familiares e dando apenas 24 horas ou menos para desocupação.
Depoimentos diretos
“Vivemos nesta casa por mais de 22 anos; todo nosso dinheiro está investido aqui e não temos para onde ir”, disse Um Hussein, enquanto se afastava com seus filhos após receber apenas dois minutos para desocupar o imóvel.
“Eles nos chamaram de ‘infiéis e porcos’ e ameaçaram nos matar se não entregássemos as chaves até o anoitecer”, relatou Rafaa Mahmoud, mostrando um vídeo de 2 minutos em que discutia com os agentes armados.
Vítimas como Um Hassan também confirmam batidas a portas, ameaças de morte e apreensão de bens, incluindo lojas familiares, sem qualquer ordem judicial.
Segundo investigação da Reuters, desde dezembro, grupos armados ligados ao novo Serviço de Segurança Geral (GSS) têm invadido residências de Alauítas, apresentando documentos de propriedade sem validade legal, prendendo familiares e dando apenas 24 horas ou menos para desocupação. Vídeos e testemunhos de vítimas como Um Hassan e Um Hussein confirmam batidas a portas, ameaças de morte e apreensão de bens, incluindo lojas familiares, sem qualquer ordem judicial.
Reações de organizações de direitos humanos
A ONG Syrians for Truth and Justice (STJ) protocolou, em 16 de abril de 2025, queixa junto à Direção das Subúrbios de Damasco, classificando as evicções como violações motivadas por sectarismo e pedindo a devolução dos imóveis. A Human Rights Watch também exigiu o fim dos ataques e proteção aos civis alauítas, destacando que a destruição de casas e prisões arbitrárias podem constituir crimes contra a humanidade. A Anistia Internacional apelou por investigação independente das mortes e espólios de propriedade nas regiões costeiras e na capital, alertando para possíveis crimes de guerra.
Análise de especialistas
Fabrice Balanche, professor da Universidade Lyon 2, aponta que esse processo espelha a estratégia de “injustiça transitória”, na qual as novas autoridades usam o confisco de bens para consolidar poder e punir ex-opositores. Joshua Landis, do Center for Middle East Studies, compara o GSS a uma fusão de polícia, FBI e guarda nacional, atuando sem freios legais e promovendo clima de terror na comunidade alauíta.
Consequências sociais e geográficas
Estima-se que 500 mil Alauítas tenham se deslocado de volta para áreas costeiras, revertendo décadas de políticas de Assad de movimentação populacional, e criando pressões sobre infraestrutura e tensões comunitárias na região de Latakia e Tartous. A destruição de laços comunitários e perda de patrimônio eleva o risco de pobreza e exclusão social entre as famílias expulsas.
Perspectivas de justiça e medidas recomendadas
Apesar do anúncio de Sharaa de comitês para confisco e reclamação de propriedades, não há evidências de processos legais transparentes. Especialistas defendem:
- Estabelecimento de tribunais de transição com participação internacional.
- Monitoramento de comissões de propriedade por observadores da ONU.
- Reparação financeira e retorno assistido de famílias prejudicadas.
Essas medidas são cruciais para evitar nova espiral de violência e garantir a reconciliação nacional.
Conclusão
A onda de expulsões forçadas de Alauítas em Damasco representa um capítulo sombrio no pós‑guerra civil sírio, onde a lógica de poder substitui o Estado de Direito. Sem investigação imparcial e reparações, o país corre o risco de ver ressurgir tensões sectárias e novos ciclos de violência. A comunidade internacional deve pressionar por transparência e justiça de transição para prevenir que o terror institucional continue a moldar o futuro da Síria.
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