
Em visita oficial a Cingapura, o presidente francês Emmanuel Macron lançou um alerta contundente: caso o bloqueio humanitário à Faixa de Gaza persista, Paris estará pronta a endurecer sua posição contra Israel, podendo incluir sanções a colonos e revisão de acordos bilaterais.
Contexto do Conflito
O conflito teve início em 7 de outubro de 2023, com um ataque do Hamas que matou cerca de 1.200 israelenses e resultou em 251 reféns em Gaza, segundo fontes israelenses. Desde então, a campanha militar israelense já deixou mais de 54.000 mortos palestinos, de acordo com dados de autoridades sanitárias locais ReutersBBC.
A resposta internacional cresceu nas últimas semanas: chanceleres europeus, como falamos neste artigo sobre a Alemanha ameaça medidas contra Israel por Gaza, criticaram publicamente as operações em Gaza, e a União Europeia, como detalhado em UE revisará Acordo de Associação Comercial com Israel diante da crise humanitária em Gaza, iniciou um levantamento de suas relações comerciais com Israel, refletindo um distanciamento sem precedentes de antigos aliados .
O bloqueio humanitário e suas consequências
“O bloqueio humanitário está criando uma situação insustentável no terreno”, declarou Macron durante entrevista ao lado do primeiro-ministro de Cingapura, Lawrence Wong .
Em resposta à pressão internacional, Israel encerrou parcialmente, no fim de maio de 2025, um bloqueio que durou 11 semanas, permitindo um fluxo ainda insuficiente de suprimentos básicos – como falamos neste artigo aqui sobre a Ajuda Humanitária em Gaza: Um Fluxo Insuficiente. Ainda assim, agências como a ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha continuam a alertar para riscos de fome e surtos de doenças em todo o território .
As condições no terreno mostram hospitais operando com estoques críticos de medicamentos e civis deslocando-se diariamente em busca de água potável e alimentos racionados. Relatos de disparos contra filas em pontos de distribuição agravam o quadro de urgência humanitária .
Reação de Macron e possíveis medidas
Macron advertiu que, sem melhoria imediata nas próximas horas e dias, a França revisará sua política externa, com opções como:
- Suspensão de acordos de cooperação militar e científica;
- Restrição de produtos provenientes de assentamentos ilegais;
- Sanções individuais contra colonos e autoridades responsáveis pelo bloqueio .
Apesar do tom firme, o presidente francês manteve aberta a via diplomática: “Espero que o governo de Israel mude de postura e que tenhamos, enfim, uma resposta humanitária à altura”, concluiu .
Implicações diplomáticas
A ameaça francesa ocorre em momento de crescente divergência dentro da União Europeia. Países como Espanha e Reino Unido também avaliam reconhecer um Estado palestino nas próximas semanas, enquanto debate-se a revisão do acordo de associação UE-Israel e um possível embargo de armas. No entanto, a exigência de unanimidade entre os 27 Estados-membros dificulta medidas imediatas mais severas .
Paralelamente, chanceleres europeus vêm sinalizando que a continuidade do bloqueio pode colocar em risco não apenas parcerias comerciais, mas também a legitimidade de Israel em fóruns multilaterais.
Caminho para uma solução política
Paris reforça seu compromisso com a solução de dois Estados, vista como imperativa para a estabilidade regional. Autoridades francesas enfatizam que, além de medidas políticas, é crucial:
- Garantir corredores humanitários efetivos;
- Coordenar pressão diplomática com EUA, ONU e países árabes;
- Retomar negociações multilaterais que considerem segurança de Israel e direitos dos palestinos.
Os preparativos para a conferência da ONU, co-presidida por França e Arábia Saudita entre 17 e 20 de junho de 2025, visam justamente estabelecer um roteiro claro para o reconhecimento e construção do futuro Estado palestino, sem abrir mão das garantias de segurança solicitadas por Tel Aviv.
Conclusão
O pronunciamento de Macron marca um ponto de inflexão na política europeia em relação ao conflito. Ao vincular explicitamente o fim do bloqueio humanitário ao endurecimento das relações, a França busca não apenas aliviar a crise em Gaza, mas também reacender um processo político há tempos estagnado. Resta ver se essas ameaças diplomáticas se converterão em ações concretas capazes de garantir ajuda imediata aos civis e pavimentar o caminho para uma paz duradoura.
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Macron navega por caminho conturbado rumo ao reconhecimento do Estado Palestino
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