Futuro do Comando Militar dos EUA na África

General Michael Langley, comandante do AFRICOM, fala com repórteres ao lado do comandante das Forças de Defesa de Botswana, Tenente-General Placid Segokgo, durante conferência de defesa em Gaborone, Botsuana, em 25 de junho de 2024.
General Michael Langley, chefe do Comando dos EUA para a África, ao lado do Tenente-General Placid Segokgo, comandante das Forças de Defesa de Botswana, durante conferência de defesa em Gaborone, Botsuana (25/06/2024). REUTERS/Phil Stewart/File Photo

O Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM) está sob avaliação para possível fusão com o Comando Europeu (EUCOM), medida que visa reduzir sobreposições burocráticas e otimizar recursos. Em 3 de abril de 2025, o general Michael Langley, comandante do AFRICOM, testemunhou perante o Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA, detalhando missões e desafios futuros do comando e convocando governos africanos a manifestarem suas posições via embaixadas em Washington.

Orçamentos anuais e efetivos: AFRICOM x EUCOM

ComandoOrçamento AproximadoAnoEfetivo MilitarEfetivo Civil
AFRICOMUS$ 750 milhõesFY 2024~1.200~1.900
EUCOMUS$ 2,1 bilhõesFY 2024~1.250~1.600
  • O AFRICOM opera com cerca de US$ 750 milhões no ano fiscal de 2024, segundo estimativa de plano orçamentário de segurança para a África.
  • O EUCOM mantém orçamento superior a US$ 2 bilhões, refletindo sua abrangência europeia e norte-africana.

Estatísticas de segurança: antes e depois de 2008

  • Operações antiterroristas:
    • Antes de 2008: cerca de 50 missões anuais, descentralizadas entre comandos;
    • Em 2023: 120 operações coordenadas diretamente pelo AFRICOM, incluindo missões de vigilância e apoio a forças locais.
  • Treinamentos conjuntos:
    • Antes de 2008: aproximadamente 3.000 militares africanos treinados por ano;
    • Em 2023: mais de 15.000 participantes em exercícios como Flintlock e Obangame Express.

Flintlock e Obangame Express são exercícios militares conjuntos organizados pelos EUA com países africanos, fundamentais para:

  • Flintlock: um dos maiores exercícios antiterrorismo na África, focado em combate ao terrorismo, operações especiais e segurança fronteiriça.
  • Obangame Express: voltado à segurança marítima no Golfo da Guiné, aborda combate à pirataria e contrabando.

Níger

  • Retirada de 2023: pedido de saída de 1.000 militares e fechamento de base de drones de US$ 100 milhões.
  • Impacto: queda de 60% nas operações de vigilância aérea e aproximação com a Rússia para suprir capacidade de ISR.

Nota: (ISR) Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento).

Mali

  • Golpe de 2021: suspensão de cooperação antiterror e adoção de instrutores da Wagner Group.
  • Efeito: redução de 40% em programas de mentoria e treinamentos americanos.

Senegal

  • Contexto: Estado estável de cooperação, recebeu 200 militares dos EUA em 2022 para exercícios navais contra a pirataria.
  • Avaliação local: autoridades destacam o AFRICOM como pilar de segurança costeira e monitoramento do Sahel.

Linha do tempo histórica

  • Out/2008: ativação do AFRICOM como comando geográfico independente.
  • 2011: apoio logístico à Operação Odyssey Dawn na Líbia.
  • 2015: expansão de ações antijihadistas no Sahel (Operação Juniper Shield).
  • 2021: golpes em Mali e Burkina Faso enfraquecem parcerias tradicionais.
  • Abr/2025: general Langley testemunha no Senado sobre futuro do AFRICOM.
  • Mai/2025: anúncio público da avaliação de fusão com o EUCOM.

Incentivos alternativos: China e Rússia

  • China: via Belt and Road Initiative, investe em infraestrutura (portos, estradas), oferece crédito a juros baixos e acesso a portos civis com cláusulas que permitem uso dual.
  • Rússia: emprega atores como Wagner Group, oferecendo treinamento militar, segurança privada e trocas de minerais estratégicos por equipamentos e suporte logístico.

Contexto regional de gastos militares

Segundo o SIPRI, o gasto militar total na África atingiu US$ 52,1 bilhões em 2024, um aumento de 3% em relação a 2023, refletindo tensão crescente e investimento em segurança nacional nos países do continente.

Conclusão

A possível fusão do AFRICOM ao EUCOM traz ganhos de eficiência, mas pode comprometer a agilidade operacional e o foco exclusivo nas crises africanas. Recomenda-se que governos do continente:

  1. Formalizem suas posições via canais diplomáticos em Washington.
  2. Avaliem impactos operacionais, especialmente em missões antiterror.
  3. Negociem contrapartidas civis (saúde, infraestrutura) para fortalecer parcerias.

A competição com China e Rússia reforça a necessidade de uma presença norte-americana clara, focada e colaborativa no continente.

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