
De 15 a 17 de junho de 2025, as principais economias democráticas do mundo reúnem‑se na região de Kananaskis, nas Montanhas Rochosas canadenses, em um dos encontros mais delicados dos últimos anos. Sob a presidência de Mark Carney, o Canadá busca reforçar a paz e a segurança internacionais, garantir cadeias de abastecimento de minerais críticos e fomentar a criação de empregos, ao mesmo tempo em que administra tensões comerciais com os EUA e as recentes hostilidades entre Israel e Irã. A imprevisibilidade do presidente Donald Trump adiciona um elemento de incerteza, levando Ottawa a optar por “chair summaries” em vez de um comunicando conjunto tradicional, na esperança de evitar rupturas diplomáticas.
Prioridades do Canadá
– Paz e segurança: promover esforços de desescalada em conflitos regionais.
– Minerais críticos: estabelecer padrões conjuntos de extração e fornecimento, essenciais à transição energética.
– Empregos e crescimento: atrair investimentos em infraestrutura e inovação.
Esses três pilares refletem a combinação de experiência financeira e diplomática de Carney, ex‑governador dos bancos do Canadá e da Inglaterra, e visam resultados práticos em vez de declarações genéricas.
A escalada Israel‑Irã
Na madrugada de 15 de junho, novos ataques aéreos de Israel contra alvos iranianos e retaliações de Teerã reacenderam a urgência de um pronunciamento conjunto. A Alemanha, representada pelo chanceler Friedrich Merz, propôs quatro objetivos claros para o G7: impedir a obtenção de armas nucleares por Teerã, assegurar o direito de autodefesa de Israel, evitar nova escalada e criar vias diplomáticas para paz. Uma declaração enxuta, em formato de “chair summary”, deverá reunir essas diretrizes com apelo à moderação.
Tensão comercial e o fator Trump
Os EUA mantêm tarifas de 25% sobre o aço e 10% no alumínio canadenses, tema que Carney promete abordar diretamente com Trump. Paralelamente, o primeiro‑ministro japonês Shigeru Ishiba busca isentar exportações de automóveis dos embargos americanos. Analistas consideram que qualquer atrito pode comprometer discussões sobre segurança, clima e IA. Como ressalta Josh Lipsky, do Atlantic Council, “evitar ‘blow‑ups’ com Trump é o melhor cenário possível”.
Procedimentos: de comunicados a “chair summaries”
A experiência amarga de 2018 levou Ottawa a abandonar o modelo de um único comunicado unificado. Em vez disso, serão emitidos resumos setoriais preparados pela presidência canadense, permitindo maior flexibilidade e reduzindo o risco de veto de qualquer um dos membros, sobretudo dos EUA.
Encontros bilaterais e parceiros convidados
Além dos sete membros, participam de sessões específicas líderes de Ucrânia, Índia, Austrália, África do Sul, Coreia do Sul, Brasil e México. Para a Ucrânia, o êxito se mede hoje não por uma contundente declaração de apoio, mas pela possibilidade de um encontro cordial entre Trump e Zelenskiy, após o clima tenso da visita a Washington em fevereiro.
Pressão europeia por um cessar‑fogo
Fontes indicam que líderes como Emmanuel Macron, Friedrich Merz e Keir Starmer pressionarão Trump a justificar suas promessas de paz entre Israel e Irã e a apoiar um cessar‑fogo imediato, dada sua influência sobre Benjamin Netanyahu. Até o momento, os EUA não apresentaram provas concretas de um acordo iminente, enquanto Israel parece mirar além das capacidades nucleares de Teerã, questionando o real escopo de sua política regional.
O teste do multilateralismo
Mais do que nunca, este G7 será avaliado pela disposição dos EUA em cooperar em formatos tradicionais. Uma cúpula sem grandes conflagrações, com avanços em segurança, comércio e clima, reforçaria a relevância do grupo; o contrário, porém, exporia divisões e daria combustível a atores que exploram a fragmentação ocidental.
Conclusão
Em um momento de polarizações intensificadas e de crises simultâneas, Kananaskis pode determinar se o G7 mantém sua capacidade de resposta coletiva. Com um formato mais ágil e foco em entregas práticas, o Canadá aposta que o equilíbrio entre firmeza e flexibilidade garantirá um resultado positivo – mesmo diante da imprevisibilidade de Donald Trump.
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