G7 em Kananaskis: Desafio de Unidade em Meio a Conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio

Presidente dos EUA Donald Trump chegando à cúpula do G7 em Kananaskis, Canadá, 15 de junho de 2025.
Presidente Donald Trump chega para a Cúpula dos Líderes do G7 na cidade resort de Kananaskis, nas Montanhas Rochosas, Alberta, Canadá, em 15 de junho de 2025. Foto: REUTERS/Chris Helgren/Pool.

De 16 a 17 de junho de 2025, os líderes das sete maiores economias industriais e a União Europeia se reúnem em Kananaskis, nas Montanhas Rochosas do Canadá, para a 51ª cúpula do G7. Sob a presidência do primeiro-ministro canadense Mark Carney, o encontro busca restaurar a coesão entre democracias tradicionais em um momento de fortes turbulências geopolíticas: a continuação da guerra na Ucrânia e a recente escalada de hostilidades entre Israel e Irã, cujo impacto se traduz em pressões inflacionárias e incertezas nos mercados globais de energia. Este artigo analisa os principais pontos de tensão, as dinâmicas de negociação e os possíveis desdobramentos desta cúpula crítica.

O “elefante russo” e as sanções à Ucrânia

  • Contexto: Desde a invasão russa de fevereiro de 2022, o G7 mantém sanções econômicas rigorosas contra Moscou. Na abertura da cúpula, contudo, pairou a incerteza sobre o comprometimento dos EUA sob o segundo mandato de Donald Trump, após tarifas impostas a aliados e conversas sugerindo um papel de mediação russa em outros conflitos.
  • Análise: Para a maioria dos membros, a participação da Rússia em qualquer negociação que envolva a Ucrânia é inaceitável enquanto perdurar a ocupação de territórios ucranianos. Esse princípio orientará o debate sobre a manutenção ou até o endurecimento do preço‑teto ao petróleo russo, embora Japão e Índia tenham pressionado por flexibilizações diante do aumento dos custos de importação de energia.

Escalada no Oriente Médio e repercussões econômicas

  • Contexto: Em 12 de junho, Israel bombardeou instalações iranianas após uma série de ataques mútuos, levando Irã e grupos aliados a ameaçarem uma resposta mais ampla.
  • Impacto: O barril de petróleo superou os 95 USD, puxando para cima o custo de transporte e fertilizantes e ameaçando reavivar o fantasma da estagflação em economias avançadas. No G7, a prioridade passa a ser um apelo coordenado pela contenção de hostilidades e pela reabertura de canais diplomáticos, sem, contudo, descartar sanções adicionais contra Teerã.

Estratégia de consenso sem “communiqué” unificado

  • Decisão canadense: Para evitar o impasse de 2018 em La Malbaie, quando os EUA se retiraram de um comunicado final, Ottawa optou por um “chair’s statement” (resumo das conclusões) e seis declarações setoriais pré‑acordadas (migração, IA, incêndios florestais etc.), em vez de um único documento conjunto.
  • Avaliação crítica: Embora tenha reduzido o risco de veto unilaterais, essa fragmentação sinaliza um bloco menos coeso e reforça a necessidade de estabelecer compromissos mínimos que não dependam exclusivamente da vontade dos EUA.

Economia global, comércio e China

  • Tópicos centrais: Recuperação pós‑pandemia, reforma de cadeias produtivas e tensões comerciais com a China — classificada como “concorrente sistêmico”.
  • Dilema do petróleo russo: França e Alemanha defendem manter o limite no faturamento de Moscou; Japão e Índia pedem margem de manobra diante do recente choque de preços. O acordo exigirá encontrar um equilíbrio entre pressão política e segurança energética.

Diálogo ampliado e pressões externas

  • Convidados: Além do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e do secretário‑geral da OTAN Mark Rutte, participam representantes de Brasil, Índia, México, Austrália e Coreia do Sul. Essa composição expressa o desejo de estender o alcance das decisões do G7, alinhando‑as a interesses de economias emergentes.
  • Possíveis influências: A presença de Zelensky busca reforçar o tema ucraniano e angariar apoio por sanções adicionais. Já os líderes de países importadores de energia pressionam por mensagens mais brandas sobre o limite de preço ao petróleo russo.

Conclusão

Em meio a cenários de guerra na Europa e no Oriente Médio, a cúpula de Kananaskis concentra‑se menos em grandes declarações e mais em manter vivo o mecanismo de cooperação entre as democracias industriais. A eficácia do encontro estará no resultado prático — sanções eficazes contra a Rússia, um apelo firme por contenção no Oriente Médio e avanços discretos em comércio e tecnologia —, pois a unidade, mesmo que mínima, é essencial para enfrentar crises globais simultâneas.



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