
O governo interino de Bangladesh determinou no domingo (29/06/2025) o fim imediato da greve de dois dias dos funcionários do National Board of Revenue (NBR), incluindo fiscais de tributos e alfândega, sob pena de “medidas rigorosas” para proteger a economia nacional. A paralisação interrompeu todas as atividades de arrecadação de impostos e trouxe as operações do Porto de Chittagong — responsável por cerca de 90% do comércio exterior do país — a uma quase total imobilização.
Origens e reivindicações da greve
Renúncia da presidência: saída do atual chairman do NBR.
Reestruturação do NBR
- Em 12 de maio, o governo de Muhammad Yunus promulgou uma ordem dissolvendo o NBR e criando duas novas divisões de receita, sob o argumento de modernizar processos, eliminar sobreposições e elevar a eficiência.
- Servidores temem perda de autonomia técnica e insegurança funcional sob o novo organograma, além de questionarem a indicação política do atual presidente do NBR.
- Principais demandas dos grevistas
- Garantias de estabilidade: proteção legal contra demissões sumárias.
- Autonomia institucional: manutenção de prerrogativas decisórias do NBR.
A greve e seus efeitos práticos
Paralisação nacional
- Desde a manhã de sábado, fiscais aderiram a um “pen‑down strike”, interrompendo totalmente as atividades de lançamento de tributos, análise de declarações e fiscalizações.
- No Porto de Chittagong, mais de 41.000 contêineres estão retidos em ancoradouros externos, em filas que chegam a três dias de espera.
Gargalos logísticos
A capacidade normal de desembaraço do porto é de 4.000 contêineres por dia, mas o ritmo caiu para praticamente zero durante a paralisação.
Segundo dados oficiais, cerca de 5 lakh (500.000) toneladas de mercadorias, incluindo açúcar, grãos, cimento e aço, permanecem paradas offshore, gerando multas diárias de armazenagem e risco de escassez de insumos.
Reação oficial e possíveis sanções
O comunicado do governo interino determinou que “funcionários e empregados devem retornar ao trabalho imediatamente e abster‑se de atividades que prejudiquem os interesses nacionais”. Entre as sanções em estudo:
- Descontos salariais pelos dias não trabalhados.
- Advertências e suspensões disciplinares, com possibilidade de demissões em massa.
- Terceirização ou substituição temporária das equipes por pessoal de carreira ou contratados para garantir serviços essenciais.
O Executivo classificou serviços do NBR como “essenciais”, o que legalmente permite reprimir greves que afetem o funcionamento do Estado.
Consequências econômicas
Perdas de arrecadação
- Estima‑se que a paralisação cause um déficit diário de Tk 1.130 crore (aprox. US$ 120 milhões), totalizando quase Tk 10.000 crore (US$ 1,1 bilhão) em nove dias de protestos desde meados de maio.
- No primeiro semestre de 2024‑25, a meta de receita foi de Tk 3,22 tri, mas o NBR arrecadou apenas Tk 2,56 tri, já refletindo um déficit de 25% que a greve aprofunda.
Impacto sobre o comércio exterior
Investidores e empreendedores alertam para o risco de desvio de capitais a mercados mais estáveis na região da Ásia do Sul.
A paralisação atrasou insumos cruciais para a indústria têxtil — que responde por 80% das exportações de Bangladesh — e vem ameaçando a agenda de produção pré‑Eid, com prejuízos diários estimados em US$ 222 milhões para o setor de vestuário.
Cenários futuros
Cenário | Possíveis desdobramentos |
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Diálogo e conciliação | Cronograma gradual para implementação de reformas; criação de mesa permanente de negociação com o NBR. |
Endurecimento | Aplicação de sanções disciplinares; criminalização parcial da greve; possível recrudescimento de protestos. |
A forma como o governo gerenciará o pós-greve será decisiva tanto para retomar a arrecadação quanto para manter a estabilidade política e a confiança de investidores.
Conclusão
A determinação de retorno ao trabalho marca um ponto crítico na gestão do interino Muhammad Yunus. A resolução pacífica, mediante concessões pontuais e abertura de diálogo, poderá restabelecer rapidamente as operações essenciais. Caso contrário, o país poderá enfrentar uma nova onda de paralisações, aprofundando as fragilidades de uma economia já tensionada por lacunas fiscais e insegurança política.
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