
Em um momento de tensão crescente na disputa comercial entre as duas maiores economias mundiais, o governo chinês emitiu um alerta enfático: quaisquer nações que busquem benefícios em acordos com os Estados Unidos, prejudicando os interesses de Pequim, enfrentarão “contramedidas firmes e recíprocas”. A declaração, feita em 21 de abril de 2025 pelo Ministério do Comércio da China, responde a reportagens de que a administração Trump pretende condicionar cortes ou isenções de tarifas estadunidenses a um arrefecimento das relações comerciais desses países com a China.
Contexto da escalada tarifária (Resumo)
Após o fim da trégua parcial de 2020, os Estados Unidos impuseram, em abril de 2025, tarifas extraordinárias de até 145% sobre produtos chineses, ao passo que Pequim respondeu com alíquotas de 125% sobre bens norte‑americanos. Essa troca de penalidades elevou a disputa a um nível sem precedentes, afetando setores estratégicos como tecnologia, agronegócio e indústria naval.
Reação de Pequim e retórica de resistência
O porta‑voz do Ministério do Comércio acusou Washington de “abusar de tarifas sob o pretexto de ‘equivalência’”, ao mesmo tempo em que força negociações bilaterais para promover “tarifas recíprocas”. Ainda assim, a China ressalta que é “determinada e capaz de salvaguardar seus direitos e interesses” e se dispõe a “fortalecer solidariedade com todos os parceiros comprometidos com um comércio justo”.
Mini perfis de países da ASEAN mais afetados
A ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático)
Tailândia
A Tailândia importa grandes volumes de commodities agrícolas dos EUA — especialmente soja e milho — e ao mesmo tempo depende de tecnologia chinesa em setores como energia renovável e telecomunicações. A elevação das tarifas estadunidenses encarece insumos vitais para a indústria de ração animal, enquanto retaliações chinesas elevam o custo de equipamentos de energia solar, prejudicando projetos de infraestrutura verde.
Indonésia
No agronegócio, principal motor da economia indonésia, as tarifas americanas sobre óleo de palma e açúcar afetam a competitividade local, já que produtores buscam alternativas de exportação. Em infraestrutura, o forte investimento chinês — em portos e ferrovias — corre o risco de ter custos mais altos para importação de maquinário, caso Pequim decida retaliar setores específicos dos EUA.
Malásia
Montadora de eletrônicos, a Malásia depende de componentes vindos da China e destina boa parte da sua produção ao mercado americano. As tarifas de Washington sobre produtos acabados encarecem laptops e semicondutores nacionais, enquanto eventuais contramedidas de Pequim podem elevar o preço de módulos fotovoltaicos e baterias, impactando cadeias de valor de alta tecnologia.
Comentário de um especialista internacional
“A estratégia dos EUA de condicionar benefícios tarifários ao enfraquecimento econômico da China representa um risco significativo para a estabilidade das cadeias globais de valor”, avalia Dr. Helena Fischer, professora de Comércio Internacional na London School of Economics. “Países intermediários precisam equilibrar cuidadosamente seus alinhamentos para não sacrificar crescimento por jogos geopolíticos.”
Caminhos possíveis para os países emergentes
Diante desse impasse, nações do Sudeste Asiático e de outras regiões emergentes podem considerar:
- Diversificação de parceiros
Reduzir a dependência simultânea de China e EUA, buscando acordos com União Europeia, Japão e países da América Latina.
- Fortalecimento de blocos regionais
Apostar em iniciativas intra‑ASEAN e tratar de forma conjunta negociações tarifárias e investimentos, ampliando o poder de barganha coletiva.
- Acordos multissetoriais com cláusulas granulares
Estabelecer pactos que permitam flexibilidade por setor — por exemplo, livre comércio de tecnologias verdes, mas proteção temporária ao agronegócio local — para mitigar impactos assimétricos.
Conclusão
A guerra de tarifas entre China e Estados Unidos está longe de se resolver e coloca países intermediários em um dilema estratégico. Ao adotar políticas de diversificação e cooperação regional, essas nações podem encontrar uma “terceira via” que minimize riscos e favoreça um crescimento mais equilibrado em um cenário global cada vez mais polarizado.
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