
Esta semana, o Hamas anunciou que está examinando uma proposta de cessar‑fogo de 60 dias em Gaza, descrita como “final” pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A iniciativa, mediada pelo Egito e pelo Catar, prevê a suspensão imediata dos combates, a libertação faseada de reféns e a devolução de prisioneiros palestinos, condicionada a uma retirada gradual das tropas israelenses do território sitiado. O anúncio surge em um momento de graves tensões no terreno e pressões políticas internas em ambos os lados, reacendendo esperanças por um alívio humanitário em meio a quase dois anos de conflito contínuo.
Posição do Hamas
Fontes ligadas ao Hamas afirmam que o grupo está “estudando” a proposta recebida de mediadores internacionais, mas insistem que qualquer acordo deve incluir a retirada total das forças israelenses de Gaza e garantias de que a ajuda humanitária entrará sem restrições no enclave. Além disso, o movimento busca salvaguardas que impeçam a retomada imediata dos ataques ao término dos 60 dias de trégua, reforçando a necessidade de mecanismos internacionais de fiscalização.
Reação de Israel
O primeiro‑ministro Benjamin Netanyahu manteve postura intransigente, afirmando que “não haverá mais Hamas” e recusando compatibilizar a eliminação do grupo com um cessar‑fogo que permita sua sobrevivência política ou militar. No entanto, declarações do ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, apontam “sinais positivos” para iniciar conversas de proximidade sobre a libertação de reféns, indicando algum grau de flexibilidade israelense na forma, se não no conteúdo, das negociações.
Pressões Internas e Coalizão de Governo
Internamente, o governo de Netanyahu enfrenta resistências: facções ultranacionalistas se opõem a qualquer retirada de tropas e à libertação de prisioneiros, enquanto a oposição liderada por Yair Lapid prometeu garantir estabilidade parlamentar a um eventual acordo, recusando‑se a apoiar moções de desconfiança que poderiam derrubar o gabinete em caso de concessões. Esse equilíbrio frágil torna imprevisível até que ponto Israel permitirá cumprir as condições mínimas exigidas pelo Hamas.
Contexto Regional
Em 23 de junho de 2025, um cessar‑fogo mediado entre Irã e Israel encerrou a “Guerra dos 12 Dias” provocada pelo ataque israelense a instalações nucleares iranianas. O rebaixamento das tensões com Teerã abriu espaço para que Egito e Catar renovassem esforços de mediação em Gaza, aproveitando o momento de fragilidade iraniana para tentar estabilizar o sul de Israel e o norte de Gaza, fortalecendo perspectivas de normalização entre Israel e outros países árabes.
Impacto Humanitário
Somente nas últimas 24 horas, autoridades de saúde de Gaza registraram ao menos 139 palestinos mortos em ataques israelenses, incluindo civis e funcionários de hospitais, e um colapso generalizado dos serviços de água, energia e saúde. Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, foram contabilizadas mais de 57.000 mortes palestinas, grande parte de civis, além do deslocamento de quase toda a população de 2,3 milhões de residentes do enclave, gerando grave crise humanitária.
Desafios para um Acordo Duradouro
- Desconfiança Mútua: múltiplas trégua quebrada nos últimos meses corroeram a credibilidade entre as partes.
- Objetivos Irreconciliáveis: Israel exige a eliminação do Hamas; o grupo exige retirada total das tropas.
- Pressões Políticas Internas: coalizões beligerantes em Jerusalém e necessidade de resistência para manter apoio popular em Gaza.
- Falta de Garantias Externas: ausência de mecanismos claros de monitoramento internacional que assegurem o cumprimento do acordo.
Perspectivas
Caso o Hamas aceite formalmente a proposta até o início da próxima semana, agentes internacionais poderão mobilizar observadores de paz e missões humanitárias para supervisionar a trégua. Se houver recusa ou impasse, o risco de nova escalada militar será elevado, aprofundando o colapso humanitário e potencialmente levando a mudanças na configuração política de Israel, onde a opinião pública já demanda soluções duradouras para o conflito.
Conclusão
A proposta de cessar‑fogo de 60 dias, rotulada como “final” por Donald Trump, representa talvez a última grande chance de interromper o ciclo de violência na Faixa de Gaza antes de novo surto de hostilidades. Seu êxito dependerá não apenas da assinatura de um documento, mas de garantias efetivas de retirada, libertação de reféns e supervisão internacional — elementos essenciais para que a guerra deixe de ser a única via possível na região.
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