Crescimento da Índia em 2025 e 2026: FMI eleva previsão, mas tensões comerciais com os EUA exigem cautela

Primeiro-Ministro Narendra Modi visitando a exposição “Filosofia Saiva e as Artes do Templo dos Cholas” com um grupo de pessoas, em um ambiente iluminado e decorado para o evento.
O Primeiro-Ministro Narendra Modi durante visita à exposição "Filosofia Saiva e as Artes do Templo dos Cholas", celebrando a história e cultura tâmil.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou positivamente suas projeções para a economia indiana em seu relatório World Economic Outlook, elevando a previsão de crescimento para 6,4% em 2025 e 6,4% em 2026, ante os 6,2% projetados em abril. A melhora reflete um ambiente externo mais favorável para mercados emergentes, especialmente uma perspectiva mais otimista sobre a China, e a resiliência dos fundamentos domésticos indianos.

Fundamentos do avanço econômico

A robustez da expansão indiana apoia-se em quatro pilares principais:

  • Investimentos em infraestrutura: Sob o programa Gati Shakti, o governo intensificou aportes em redes de transporte, energia e conectividade digital, buscando reduzir custos logísticos e integrar cadeias de valor internas.
  • Consumo e crédito: A demanda interna permanece firme, sustentada pela ascensão de uma classe média urbana maior e por programas de transferência de renda e expansão do crédito rural, que dinamizam comércio e serviços em áreas interioranas.
  • Tecnologia e inovação: A Índia consolida-se como polo global de startups e serviços digitais, com destaque para fintechs de pagamentos e empresas de serviços de TI, que respondem por cerca de 8% do PIB e continuam atraindo investimento estrangeiro direto.
  • Realinhamento de cadeias globais: Em meio à rivalidade EUA-China, multinacionais realocam parte da produção para a Índia. A Apple, por exemplo, exportou mais de US$ 10 bilhões em iPhones fabricados no país para os EUA no segundo trimestre de 2025.
  • Situação fiscal sólida: O FMI também elogiou o compromisso da Índia com a consolidação fiscal, destacando a queda do déficit público para 5,3% do PIB, graças à melhora da arrecadação via GST e à disciplina em gastos correntes.

Ameaça de tarifas americanas e panorama das negociações

O otimismo interno contrasta com a postura protecionista de Washington. A administração dos EUA anunciou que exportações indianas podem sofrer tarifas de 20% a 25%, parte de uma nova estratégia para pressionar países sem acordos comerciais bilaterais. O prazo de 1º de agosto para envio de cartas formais solicitando concessões comerciais aproxima-se, mas a Índia ainda não recebeu notificação formal.

Fontes do governo indiano afirmam que já ocorreram cinco rodadas de negociações, com a visita de uma delegação americana prevista para meados de agosto, visando um acordo comercial abrangente até setembro ou outubro deste ano. O chefe-negociador indiano, Rajesh Agrawal, e o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, destacam avanços em liberalização de mercado, embora persistam divergências em produtos sensíveis, como agricultura, laticínios, aço e autopeças.

Estratégias de mitigação indianas

Para blindar o crescimento, Nova Délhi adota três frentes simultâneas:

  1. Diplomacia comercial: A ministra da Economia, Nirmala Sitharaman, reforça que a “diplomacia econômica será prioridade” para garantir estabilidade aos exportadores e buscar parcerias além dos EUA.
  2. Diversificação de mercados: Intensificação de acordos bilaterais com UE, Austrália, ASEAN e América Latina; além de agilizar negociações de parcerias regionais. Hoje, a Índia mantém 13 Acordos de Livre Comércio ativos e novos pactos em discussão.
  3. Fortalecimento interno: Incentivo à substituição de importações, apoio a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e continuidade das reformas tributárias e de simplificação regulatória.

Setores em maior risco

Caso as tarifas americanas entrem em vigor:

  • Farmacêutico: Os EUA absorvem cerca de 40% das exportações indianas de genéricos, com alto valor agregado.
  • Têxtil e vestuário: Margens já comprimidas podem se tornar inviáveis, ameaçando milhares de MPMEs do setor.
  • Eletrônicos: Embora a Índia tenha aumentado sua capacidade de montagem, insumos ainda importados podem sofrer cargas tarifárias.
  • TI e serviços: Potenciais restrições de visto H-1B e custos adicionais em contratos com clientes americanos podem reduzir a competitividade de gigantes como TCS e Infosys.

Perspectiva global e equilíbrio doméstico

Apesar dos riscos comerciais, o ambiente macroeconômico doméstico apresenta sinais positivos: o Banco da Reserva da Índia (RBI) cortou a taxa básica para 6,00%, favorecendo crédito e investimento. As reformas estruturais em curso — simplificação tributária, abertura do setor financeiro e fortalecimento de marcos de governança corporativa — sustentam a visão de um crescimento sustentável.

Em um contexto global de maior protecionismo, a capacidade da Índia de navegar habilmente entre alianças econômicas, mantendo seu apelo como destino de investimento e parceiro comercial confiável, será determinante para alcançar a meta ambiciosa de 6,4% de crescimento nos próximos dois anos. O desafio está lançado: equilibrar impulso interno e superar ventos contrários externos para consolidar-se como potência emergente nesta nova ordem econômica multipolar.

Conclusão

A elevação da projeção de crescimento pela FMI confirma o momento favorável da economia indiana, impulsionado por reformas internas e pela reconfiguração das cadeias globais. No entanto, a possibilidade de tarifas americanas revela como vulnerabilidades externas ainda podem ameaçar essa trajetória. A resposta da Índia — baseada em diplomacia ativa, diversificação de mercados e fortalecimento doméstico — será decisiva para transformar esse crescimento potencial em prosperidade sustentável e resiliente. O país caminha para se consolidar como um polo de equilíbrio em meio à volatilidade geopolítica global — desde que continue a agir com estratégia e agilidade.

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