Índia proíbe importações do Paquistão em meio à escalada de tensões após assassinatos na Caxemira

Veículos aguardam na fila na fronteira Attari-Wagah entre Índia e Paquistão, em 30 de abril de 2025.
Veículos aguardam para cruzar a fronteira Attari-Wagah rumo ao Paquistão, próximo a Amritsar, na Índia — 30 de abril de 2025. Francis Mascarenhas/Reuters (Foto de arquivo)

O governo da Índia anunciou neste sábado a suspensão imediata de todas as importações provenientes do Paquistão, incluindo produtos que transitem pelo território paquistanês, em meio a uma crescente crise diplomática provocada por um ataque mortal contra turistas na região da Caxemira. A medida, acompanhada de restrições no setor naval, amplia o atrito entre os dois países, ambos detentores de armas nucleares, e reacende alertas sobre a estabilidade regional.

Proibição comercial e bloqueio marítimo

A decisão foi formalizada pela Diretoria Geral de Comércio Exterior da Índia, que classificou a restrição como “necessária à segurança nacional e à política pública”. O texto oficial, publicado neste sábado, determina o bloqueio imediato à entrada de qualquer bem oriundo do Paquistão, mesmo que esteja apenas em trânsito por aquele país.

Simultaneamente, a Diretoria Geral de Navegação impôs um bloqueio marítimo recíproco: navios com bandeira paquistanesa estão proibidos de atracar em qualquer porto indiano, e embarcações indianas também não poderão operar em portos do Paquistão. Segundo o comunicado, a ordem visa proteger “ativos, cargas e a infraestrutura marítima da Índia”.

Tensão crescente entre potências nucleares

A nova crise teve início após um ataque armado na Caxemira indiana que resultou na morte de pelo menos 26 civis, incluindo turistas locais. A Índia acusa militantes baseados no Paquistão de estarem por trás do atentado, embora Islamabad negue qualquer envolvimento. Em resposta, o Paquistão afirmou ter “inteligência confiável” de que a Índia estaria planejando uma ação militar, aumentando a tensão na região da Linha de Controle, que separa as áreas administradas por cada país na Caxemira.

Fontes do Ministério das Relações Exteriores da Índia confirmaram que o governo está em contato com aliados para apresentar provas do envolvimento de grupos extremistas baseados em território paquistanês. Por outro lado, o governo paquistanês intensificou a retórica e classificou as acusações indianas como “infundadas e perigosas”.

Retaliação do Paquistão

Em contrapartida, o Paquistão adotou uma série de medidas retaliatórias, incluindo:

  • Suspensão total do comércio terrestre com a Índia;
  • Fechamento do espaço aéreo paquistanês para aviões comerciais indianos;
  • Expulsão de diplomatas da embaixada indiana em Islamabad;
  • Ameaça de considerar qualquer tentativa indiana de restringir o fluxo de água dos rios compartilhados como ato de guerra, em referência ao Tratado das Águas do Indo, firmado em 1960 com mediação do Banco Mundial.

Histórico de hostilidades

O comércio bilateral entre os dois países já vinha em declínio desde 2019, quando um ataque suicida na cidade de Pulwama matou 40 paramilitares indianos e levou à retaliação aérea da Índia contra alvos em Balakot, no Paquistão. Desde então, as trocas comerciais caíram de cerca de US$ 2,4 bilhões anuais para cifras residuais, limitadas a produtos essenciais por canais indiretos.

Analistas apontam que o histórico de rivalidades, somado ao aumento da retórica nacionalista em ambos os lados, transforma a atual crise em uma das mais graves dos últimos anos.

A Caxemira como epicentro da crise

A região da Caxemira, de maioria muçulmana, continua sendo o ponto central da disputa entre Índia e Paquistão desde a Partição do subcontinente em 1947. Já foram travadas três guerras e inúmeros confrontos armados entre os dois países por causa do território. Além disso, movimentos insurgentes têm atuado na área, com apoio que a Índia frequentemente atribui a Islamabad.

De acordo com o International Crisis Group, a crescente militarização da Caxemira e a ausência de canais diplomáticos estáveis aumentam o risco de uma escalada não controlada.

Possíveis cenários e reação internacional

Apesar do clima hostil, especialistas não descartam a possibilidade de mediação internacional para conter a deterioração. Os Estados Unidos, aliados estratégicos da Índia, e a China, aliada do Paquistão, vêm sendo discretamente pressionados a atuar como freios de contenção nos bastidores.

“A ausência de diálogo institucionalizado entre Nova Délhi e Islamabad aumenta os riscos. Em situações assim, incidentes de fronteira ou mal-entendidos podem se transformar rapidamente em confrontos armados”, alertou Ajay Sahni, diretor do Instituto para Estudos de Conflito na Ásia Meridional.

Enquanto isso, o Conselho de Segurança da ONU acompanha a escalada com preocupação. Representantes da União Europeia também pediram “moderação de ambas as partes” e destacaram a importância de preservar os canais diplomáticos regionais, inclusive no âmbito da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), da qual ambos os países fazem parte.

Conclusão

Com o comércio bilateral praticamente interrompido e os canais diplomáticos em colapso, a atual crise entre Índia e Paquistão volta a expor os riscos latentes em uma das fronteiras mais militarizadas do mundo. O agravamento do impasse pode ter consequências não apenas para a segurança regional, mas também para a estabilidade econômica e política do sul da Ásia. O futuro imediato dependerá da capacidade — ou disposição — de ambas as partes em retomar o diálogo e evitar uma escalada de proporções imprevisíveis.

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