Índia e Rússia fortalecem parceria no GNL: segurança energética e geopolítica em jogo

Denis Manturov e outro participante conversando em painel do Fórum Gaidar, com bandeira da Rússia ao fundo.
Denis Manturov durante painel sobre eficiência econômica no Fórum Gaidar.

A intenção russa de ampliar o fornecimento de GNL à Índia — anunciada pelo vice-primeiro-ministro Denis Manturov na quarta-feira, 20 de agosto de 2025 — destaca uma mudança estratégica nas relações de energia eurasiáticas, especialmente após sanções que redirecionaram o foco de Moscou da Europa para a Ásia.

Contexto global e bilateral

Desafios russos

Desde o início da guerra na Ucrânia, os fluxos de energia russos à Europa foram profundamente afetados por sanções. O fornecimento de gás natural por gasoduto caiu de 45% para 19%. Com isso, a Rússia intensificou seus laços com mercados asiáticos como Índia, China e Turquia.

Objetivos indianos

A Índia, em busca de segurança energética para sustentar seu forte crescimento, tem se voltado a uma matriz diversificada, incluindo carvão, petróleo, biocombustíveis, energia nuclear e gás natural. Atualmente, o gás representa apenas 6% da matriz energética indiana, mas o governo planeja aumentar essa participação para 15% até 2030. Esse salto é crucial para reduzir a dependência do carvão, ainda predominante.

O que mudou agora

  • GNL russo para a Índia — Manturov destacou o potencial de aumentar a exportação de gás natural liquefeito para o mercado indiano. Diferente do gás por gasoduto, o GNL é resfriado e transportado em navios, permitindo que chegue facilmente a países sem ligação terrestre com a Rússia, como a Índia.
  • Infraestrutura financeira bilateral — Na 26ª Reunião da Comissão Intergovernamental Índia-Rússia (IRIGC‑TEC), os dois países discutiram o uso de mecanismos de pagamento em rúpia-roupia para facilitar transações.
  • Outras energias em destaque — Moscou reafirmou a continuidade do fornecimento de petróleo, carvão e derivados à Índia, enquanto busca expandir também o mercado de GNL.

Explicando os projetos técnicos

  • Ust-Luga: um grande complexo de processamento de gás em construção no noroeste da Rússia, projetado para produzir cerca de 13 milhões de toneladas de GNL por ano. Parte dessa produção pode ser destinada ao mercado indiano.
  • Arctic LNG 2: projeto localizado no Ártico russo, alvo de sanções ocidentais, que a Rússia tenta direcionar para novos compradores na Ásia, incluindo a Índia.

Esses nomes podem soar técnicos, mas basicamente representam novas fontes potenciais de gás que Moscou busca colocar no mercado indiano.

O que isso significa para a Índia e seus cidadãos

  • Energia mais acessível: mais importações de gás podem resultar em preços domésticos mais estáveis e competitivos, beneficiando indústrias e consumidores.
  • Menos carvão na matriz: reforça a meta climática indiana de reduzir gradualmente a dependência de fontes altamente poluentes.
  • Eletricidade mais confiável: o gás pode garantir fornecimento contínuo, ajudando a suprir picos de demanda em regiões urbanas.

O papel do gás na transição energética

Apesar de ainda ser um combustível fóssil, o gás natural é visto como uma “ponte” na transição energética. Ele polui menos que carvão e petróleo e pode servir de apoio enquanto a Índia expande fortemente suas fontes renováveis. Hoje, o país já figura entre os cinco maiores geradores de energia solar e eólica do mundo — setores nos quais investe bilhões de dólares para diversificar sua matriz e reduzir emissões.

Considerações geopolíticas

Esse avanço acontece em um contexto de tensões com os EUA — que impuseram tarifas sobre produtos indianos e ameaçaram sanções secundárias caso Nova Déli mantenha importações de energia russa. A Índia, no entanto, defendeu publicamente sua posição, alegando que garantir energia a preços acessíveis para sua população é uma prioridade estratégica.

Conclusão

A parceria com a Rússia para expandir o fornecimento de GNL à Índia é mais que uma transação energética: é uma estratégia geopoliticamente carregada, baseada em lógica de mercado, necessidade energética e rivalidades internacionais.

O GNL, neste contexto, tem potencial para consolidar-se como uma alternativa competitiva e estratégica — ao lado do petróleo, das energias renováveis e da cooperação nuclear — no delicado equilíbrio que Nova Déli busca entre crescimento, independência e alinhamentos globais.

Leia também: Rússia Reafirma Compromisso com Fornecimento de Petróleo à Índia: Uma Parceria Estratégica em Meio a Desafios Geopolíticos

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