Índia Suspende Tratado de Águas do Indo e Intensifica Tensão Hídrica

Primeiro-Ministro Narendra Modi discursando em comício em Madhubani, Bihar, Índia, em abril de 2025.
Primeiro-Ministro Narendra Modi fala para apoiadores em comício em Madhubani, Bihar, no leste da Índia, em 24 de abril de 2025./REUTERS/Stringer/File Photo

Nesta quinta-feira, 22 de maio de 2025, o Primeiro-Ministro Narendra Modi anunciou a suspensão da participação da Índia no Tratado de Águas do Indo (Indus Waters Treaty – IWT), firmado em 1960 sob mediação do Banco Mundial. A medida, definida como retaliação pelo atentado em 22 de abril na Caxemira indiana que matou 26 pessoas, coloca em risco o abastecimento de água para cerca de 80% das terras irrigadas no Paquistão.

Panorama Quantitativo

RioFluxo Médio Anual (milhões ac-ft)¹Uso DestinadoImpacto na Irrigação Paquistanesa²
Indus58Paquistão (ocidentais)~50% das terras irrigadas
Jhelum12Paquistão (ocidentais)~15%
Chenab10Paquistão (ocidentais)~15%
Total8080% da agricultura paquistanesa

Dados conforme cláusulas originais do IWT, com fluxos totais (ocidentais + orientais) de ~113 milhões ac-ft.
Paquistão irrigava mais de 20 milhões de hectares antes da suspensão.

Contexto Climático e de Segurança Hídrica

  • Glaciação em declínio: A neve nos Himalaias está em seu menor nível em 23 anos, reduzindo o derretimento de primavera e comprometendo o fluxo de rios como o Indo e o Jhelum, segundo a BBC.
  • Relatório ONU-WWDR 2025: O World Water Development Report alerta para “torres d’água” – montanhas e geleiras – cujos estoques vêm diminuindo, exigindo cooperação internacional e sistemas de alerta precoce.
  • Iniciativa Living Indus: Lançada pelo governo paquistanês e ONU para restaurar 40% da bacia do Indo, enfrenta agora o desafio da abeyance do tratado.

Reações e Diplomacia Global

  • Paquistão: O ministro de Energia Sardar Awais Leghari qualificou a suspensão como “guerra hídrica” e prometeu defender “cada gota” legalmente e politicamente. Islamabad enviou apelos formais ao Ministério Jal Shakti da Índia, mas não obteve reconsideração.
  • Índia no UNSC: Índia contornou objeção de membros não permanentes, como a Eslovênia, preocupada com o tratamento de recursos hídricos como direito constitucional.
  • Campanhas de imagem: Para moldar a percepção internacional, Nova Déli despacha delegações lideradas por Shashi Tharoor, enquanto Islamabad, sob Bilawal Bhutto Zardari, aponta alegados abusos de direitos humanos indianos.

Estudo de Caso Comparativo: Rio Grande (EUA–México)

AspectoIndus Waters Treaty (1960)Tratado Río Bravo-Rio Grande (1944)
MediaçãoBanco MundialEUA & México
Órgão BinacionalComissão Permanente de Água (PC)Comissão Internacional de Limites e Águas (IBWC)
Mecanismo DisputaPainel de árbitros do BMArbitragem técnica e consultiva da IBWC
LiçãoGarantias de fluxo mínimo são cruciais para resiliênciaTratado sobreviveu a múltiplas crises políticas

Cenários Futuros e Recomendações

  1. Reabertura de Diálogo Técnico
    • Riscos: Desconfiança mútua, agenda política interna.
    • Oportunidades: Restabelecimento gradual de fluxo, diminuição de tensões.
    • Sugestão: Acordar um Protocolo de Fluxo Mínimo Emergencial com supervisão do Banco Mundial.
  2. Arbitragem pelo Banco Mundial
    • Riscos: Processo demorado, possível não-cumprimento.
    • Oportunidades: Decisão técnica imparcial, reforço do direito internacional.
    • Sugestão: Acionar a cláusula V do IWT e nomear painel de árbitros.
  3. Escalada Política e Recursos Alternativos
    • Riscos: Racionamento, insegurança alimentar, protestos.
    • Oportunidades: Catalisar projetos de dessalinização, reúso de água, financiamento multilateral.
    • Sugestão: Mobilizar ONU (FAO, UNEP) para lançar Plano de Contingência Hídrica e linhas de crédito de emergência.

Vozes do Campo e Opiniões Especializadas

“Sem água, não teremos safra de trigo este ano; cada dia de atraso no fluxo prejudica o plantio.”
— Ali Haider Dogar, agricultor em Punjab, Paquistão.

“A suspensão sem respaldo técnico viola princípios de direito internacional e mina a confiança construída em seis décadas.”
— Dra. Elena Rodríguez, Universidade de Genebra.

Conclusão

A suspensão do Tratado de Águas do Indo expõe fragilidades climáticas, jurídicas e diplomáticas na gestão transfronteiriça de recursos vitais. Mais do que uma medida de retaliação, ela desafia a comunidade internacional a reforçar mecanismos de cooperação técnica e emergencial, garantindo que os rios cumpram seu papel de vetor de paz e desenvolvimento, e não de conflito entre vizinhos nucleares.

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