Ameaça mútua e o impasse das negociações nucleares entre Irã e EUA

Ministro da Defesa do Irã, Brigadeiro-General Aziz Nasirzadeh, durante encontro com o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio de Miraflores, Caracas, em 21 de novembro de 2024.
O Ministro da Defesa do Irã, Brigadeiro-General Aziz Nasirzadeh, durante encontro com o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio de Miraflores, Caracas, em 21 de novembro de 2024. Miraflores Palace/Handout via REUTERS/File Photo

Nas vésperas de mais uma rodada de diálogos mediada por Omã, a tensão entre Irã e Estados Unidos alcançou um novo patamar. Declarações beligerantes do ministro da Defesa iraniano, Brigadeiro-General Aziz Nasirzadeh, confrontam-se com advertências de Washington sobre respostas militares “esmagadoras”. Em meio a impasses sobre enriquecimento de urânio e programa de mísseis balísticos, as potências navegam entre a diplomacia e a perspectiva de conflito aberto.

Evolução recente das conversações

Após uma série de encontros indiretos em Mascate, Roma e novamente em Omã, as negociações alcançaram resultados limitados. A quarta rodada, em 11 de maio, foi marcada por avanços precários, mas sem definição de compromissos concretos, segundo o próprio mediador omanense. Em 23 de maio, a quinta etapa em Roma também terminou “com algum progresso, mas sem resultados conclusivos” sobre o cerne do desentendimento: o direito iraniano de enriquecer urânio.

Enquanto o Irã prepara uma contraproposta, espera-se que a próxima rodada — ainda sem data oficial divulgada — tente contornar linhas-vermelhas de soberania iraniana e garantias americanas de não proliferação.

Declarações e retórica de Teerã

Nesta quarta-feira, 11 de junho de 2025, Nasirzadeh advertiu que “se um conflito for imposto ao Irã… todas as bases dos EUA estarão ao nosso alcance, e as atingiremos com audácia”. Ele ressaltou ter testado recentemente um míssil carregando ogiva de duas toneladas, sublinhando que Teerã “não aceitará limitações” em seu programa balístico. Essa postura ecoa determinação do Supremo-Líder, aiatolá Ali Khamenei, de fevereiro, para reforçar capacidades defensivas e dissuasoras do país.

Reação e estratégia dos EUA

Em Washington, o CENTCOM declarou estar “avaliando todas as opções” para impedir avanços iranianos rumo a uma arma nuclear, incluindo ação militar preventiva. O presidente Donald Trump, preparando-se para uma turnê pelo Oriente Médio em meados de junho, chegou a alertar o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para não “tomar iniciativas que prejudiquem as negociações”, num esforço de manter a coesão dos aliados na pressão diplomática sobre Teerã.

Ao mesmo tempo, autoridades americanas exigem garantias rígidas de que qualquer acordo limite o enriquecimento de urânio, condição considerada “inexorável” pela Casa Branca.

Implicações regionais e globais

A plausível retaliação iraniana contra bases em Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos — pontos-chave de projeção militar dos EUA — pode detonar uma escalada de força, com repercussões no tráfego pelo Estreito de Ormuz e elevação dos preços do petróleo. Além disso, grupos sob influência iraniana, como Hezbollah e rebeldes Houthi, podem ser encorajados a intensificar ações contra interesses ocidentais e israelenses, ampliando o risco de conflitos por procuração.

Desafios diplomáticos à frente

O principal obstáculo segue sendo a definição clara dos direitos de Teerã ao enriquecimento civil em troca de inspeções estritas. O Irã buscará preservar a soberania tecnológica, enquanto os EUA querem garantias verificáveis de natureza exclusivamente pacífica. Sem confiança mútua e cronogramas bem definidos, as rodadas futuras correm risco de estagnação, alimentando retóricas de ameaça que podem, por si só, catalisar o pior cenário.

Conclusão

Entre demandas irreconciliáveis e advertências militares recíprocas, o desenlace das negociações dependerá de quão longe cada lado aceitará ceder sem perder face. Se a diplomacia falhar, o Irã poderá transformar em alvo legítimo toda presença militar americana na região, ao passo que os EUA não hesitarão em responder com força letal. A janela para um desfecho pacífico ainda existe, mas estreita-se a cada dia em que avanços concretos não são alcançados.

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