
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã convocou recentemente o chefe de missão interino do Reino Unido, em resposta às detenções que qualificou de “suspeitas e injustificadas” de vários cidadãos iranianos no Reino Unido. Esta ação diplomática ocorre num momento de crescentes tensões bilaterais, impulsionadas pelas preocupações internacionais sobre o programa nuclear iraniano e as repercussões da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Prisões e acusações no Reino Unido
No início deste mês, as autoridades britânicas acusaram três cidadãos iranianos de espionagem ao serviço do Irã, sem, segundo Teerão, apresentarem provas concretas e sem garantirem o acesso consular devido. Os detidos – Mostafa Sepahvand, Farhad Javadi Manesh e Shapoor Qalehali Khani Noori – enfrentam acusações sob a recém-aprovada Lei de Segurança Nacional de 2023 do Reino Unido, que os acusa de atividades que podem auxiliar serviços estrangeiros de inteligência entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025.
Além disso, os três foram acusados de vigilância e reconhecimento com intenção de cometer ou apoiar atos violentos no Reino Unido. O caso foi remetido a um tribunal central, com audiência marcada para junho.
Estas detenções fazem parte de uma investigação mais ampla que resultou na prisão de oito pessoas em maio, entre as quais sete cidadãos iranianos. Uma das detenções decorreu no âmbito de uma operação contra terrorismo, ainda em curso, enquanto um indivíduo foi libertado sem acusações.
Reação do Irã
O Irã considerou estas detenções como politicamente motivadas, acusando o Reino Unido de exercer pressão sobre o país através de “medidas injustas e arbitrárias”. O Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano salientou que o Reino Unido falhou em comunicar as acusações atempadamente à embaixada iraniana e negou acesso consular aos detidos, violando normas internacionais.
Tensão diplomática e o programa nuclear
Este confronto diplomático ocorre num momento sensível nas relações entre o Irão e as potências europeias, especialmente o Reino Unido, França e Alemanha – os chamados “E3” – que têm vindo a criticar o Irã pela falta de cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para garantir a natureza pacífica do programa nuclear iraniano.
Desde a saída unilateral dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015, que previa a limitação do programa iraniano em troca do levantamento de sanções, as negociações têm enfrentado vários entraves. Os EUA, sob a administração de Donald Trump, endureceram a postura, rejeitando o enriquecimento de urânio pelo Irão acima de níveis mínimos.
Apesar das conversações mediadas por Omã e o recente encontro em Istambul entre diplomatas iranianos e europeus, ainda não houve avanços significativos para a renovação do acordo. O Irão tem reiterado a sua determinação em continuar o desenvolvimento do seu programa nuclear civil, incluindo o enriquecimento de urânio.
Contexto geopolítico e repercussões
Além das tensões nucleares, o Irã enfrenta acusações, negadas por Teerã, de fornecer armamento à Rússia para o conflito na Ucrânia. O Reino Unido colocou o Irão no seu mais alto nível de monitorização dentro do Foreign Influence Registration Scheme, numa tentativa de conter influências estrangeiras ocultas que possam ameaçar a segurança nacional.
Em declarações recentes, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmail Baghaei, referiu que Teerão aguarda uma proposta formal dos EUA para a continuação das negociações e expressou apoio à cooperação nuclear na região do Golfo Pérsico, incluindo com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Conclusão
A convocação do chefe de missão interino britânico pelo Irã é um reflexo das tensões crescentes entre ambos os países, alimentadas por questões delicadas como as detenções de cidadãos iranianos e o futuro do programa nuclear iraniano. O panorama diplomático permanece complexo, marcado pela busca de um equilíbrio entre segurança internacional, direitos soberanos e o impacto de conflitos globais, como a guerra na Ucrânia.
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