Irã Reafirma Inalienáveis “Direitos Nucleares” Antes de Nova Rodada de Negociações com os EUA

Ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, em coletiva de imprensa após encontro com Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, em Moscou, 18 de abril de 2025.
Abbas Araqchi, Ministro das Relações Exteriores do Irã, durante coletiva de imprensa em Moscou, após reunião com Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, em 18 de abril de 2025.Tatyana Makeyeva/Pool via REUTERS/File

No sábado, 10 de maio de 2025, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, declarou em Doha que Teerã não abrirá mão de “nenhum de nossos direitos nucleares” — uma mensagem direta aos Estados Unidos pouco antes de uma nova rodada de conversações indiretas, mediadas por Omã, sobre o programa nuclear iraniano.

Contexto das Negociações

As conversas, já na sua quarta rodada, têm sido realizadas em formato indireto: cada delegação permanece em salas separadas, trocando propostas por intermédio de mediadores omanenses. O enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, tem exigido a desmontagem completa das instalações de enriquecimento de urânio de nível civil e potencialmente militar — incluindo Natanz, Fordow e Isfahan —, uma postura que rompe com os termos do Plano de Ação Conjunto Global de 2015, que permitia enriquecimento limitado até 3,67%.

Por sua vez, Teerã insiste que seu programa tem fins estritamente pacíficos e se apoia no Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que garante a todos os signatários o direito ao uso de tecnologia nuclear para fins civis, sob supervisão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Esta divergência de entendimento sobre o que constitui “direito” e “limite” está no cerne do impasse.

Fundamentação Jurídica e Técnica

Segundo especialistas em direito internacional, o TNP (enxertado em 1970) confere a Estados não detentores de armas nucleares o direito soberano de desenvolver atividades nucleares pacíficas, desde que cumpram obrigações de transparência e inspeção pela AIEA. O Irã, signatário desde 1970, reforça que suas instalações estão abertas a auditorias e que sua expansão de capacidade visa suprir demandas energéticas e médicas internas, não a fabricação de armas.

Entretanto, a Administração Trump adotou em 2018 uma política de “pressão máxima”, revertendo a abertura do JCPOA de 2015 e impondo sanções severas que afetam desde exportações de petróleo até transações bancárias internacionais. Para Washington, o simples potencial de enriquecimento acima de certos patamares representa risco de quebra de contenção e “linha vermelha” para proliferação.

Análise Geopolítica

A recusa iraniana em transferir seu estoque de urânio altamente enriquecido para um país terceiro — proposta norte-americana-chave — reflete não apenas uma questão técnica, mas uma distrust profunda em garantias externas, após a retirada unilateral dos EUA do acordo em 2018. Tehran teme que, uma vez fora de suas fronteiras, tal material possa ser retido caso o cenário político mude novamente, deixando o Irã vulnerável.

Além disso, Araqchi aproveitou sua passagem por Doha para reforçar alianças regionais, participando do Diálogo Irã‑Mundo Árabe e articulando apoio político entre vizinhos do Golfo antes do encontro em Omã. Esse movimento sublinha a estratégia iraniana de vincular sua política nuclear a uma agenda de segurança regional mais ampla, envolvendo Arábia Saudita, Qatar e demais atores.

Possíveis Cenários de Desfecho

  1. Acordo Parcial de Curto Prazo: o Irã concorda em limitar temporariamente o enriquecimento, em troca de liberação de ativos financeiros congelados e algum alívio em sanções, sem demolir sua infraestrutura nuclear.
  2. Impasse Prolongado: Washington mantém exigências rígidas e Teerã adota novas contramedidas (aumento de enriquecimento e redução de inspeções), elevando tensões e risco de confrontos indiretos.
  3. Impasse Prolongado: Washington mantém exigências rígidas e Teerã adota novas contramedidas (aumento de enriquecimento e redução de inspeções), elevando tensões e risco de confrontos indiretos.

Segundo analistas, o fator-chave será a elasticidade política de ambos os lados: até que ponto Trump aceitará um enriquecimento limitado, e até onde o Irã está disposto a abrir mão de garantias absolutas sobre seu programa civil. A inclusão de especialistas técnicos na delegação iraniana sugere que Teerã buscará propostas detalhadas e alternativas de verificação que não impliquem perda de soberania sobre seu material nuclear.

Implicações para a Segurança Internacional

Um acordo que permita ao Irã manter parte de sua capacidade de enriquecimento, mas sob um regime de inspeção mais robusto, poderia desanuviar tensões no Oriente Médio, reduzir o risco de corrida armamentista na região e reestabelecer canais de cooperação econômica. Por outro lado, um fracasso nas negociações elevaria o espectro de retaliações — tanto por parte dos EUA quanto de aliados árabes preocupados com o avanço nuclear iraniano — e abriria caminho para cenários militares.

Para a União Europeia e a ONU, o ideal seria uma solução de compromisso que recoloque o Irã no JCPOA revisado, com garantias multilaterais, sem apagar completamente o programa nuclear civil de Teerã. Observadores destacam que o papel de Omã como mediador tem sido fundamental para manter o diálogo, funcionando como “ponte de confiança” entre dois polos de desconfiança histórica.

Conclusão

A afirmação de Araqchi em Doha — que o Irã não cederá em seus “direitos nucleares” — deixa claro que qualquer avanço dependerá de flexibilidade mútua: os EUA terão de moderar suas exigências de desmantelamento, enquanto o Irã precisará oferecer novos mecanismos de verificação que satisfaçam as preocupações de não proliferação.
Nesta encruzilhada, as negociações em Omã poderão definir se o mundo caminha rumo a um novo entendimento nuclear, equilibrando soberania e segurança, ou se o impasse se transformará em mais um capítulo de tensão no já volátil tabuleiro do Oriente Médio.

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