Impasse em Genebra: as conversas Europa-Irã em meio à escalada Israel-Irã

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, fala à imprensa após negociações nucleares com o Irã, ao lado de Jean-Noel Barrot (França), David Lammy (Reino Unido) e Kaja Kallas (União Europeia).
Johann Wadephul (Alemanha), Jean-Noel Barrot (França), David Lammy (Reino Unido) e Kaja Kallas (União Europeia) falam à imprensa após negociações nucleares com o Irã em Genebra./ Reuters

Em 20 de junho de 2025, os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, Reino Unido, França (o “E3”) e o alto representante da União Europeia reuniram-se em Genebra com o chanceler iraniano Abbas Araqchi. O encontro de cerca de três horas não rendeu avanços concretos, mas expôs o profundo impasse estratégico: enquanto Teerã condiciona qualquer negociação à interrupção dos ataques israelenses, Europa e Estados Unidos — com Trump no cargo e Mike Pompeo à frente da diplomacia — mantêm intensa pressão por um retorno ao diálogo sobre o programa nuclear iraniano e por novos mecanismos de verificação.

Posicionamentos divergentes

  • Estados Unidos: A administração Trump, através de Mike Pompeo, sinalizou apoio aos esforços europeus como forma de evitar um conflito aberto, mas advertiu que considerará “opções militares” caso Teerã não demonstre comprometimento real. Ao mesmo tempo, autoridades americanas deixaram em aberto a hipótese de conversas diretas se o Irã desse sinais concretos de flexibilidade.
  • Europa (E3 + UE): Jean-Noël Barrot (França) e David Lammy (Reino Unido) alertaram para o risco de escalada e defenderam um formato de negociações paralelas — começando sem os EUA, para depois integrá-los — combinando limites ao enriquecimento de urânio e às capacidades de mísseis balísticos iranianos, com inspeções internacionais rígidas.
  • Irã: Abbas Araqchi reafirmou que “as capacidades defensivas do Irã não são negociáveis” e que o país só considerará diplomacia “quando Israel cesse seus ataques e seja responsabilizado”. Essa condição mantém o impasse, já que Israel não demonstra interesse em um cessar-fogo imediato.

Riscos à segurança nuclear

Em 16 de junho de 2025, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, advertiu que ataques a instalações como Natanz ou Fordow podem causar contaminação radiológica, comprometendo a segurança de todas as partes. Grossi enfatizou que “instalações nucleares jamais devem ser atacadas” e que o sistema de verificação da agência é capaz de impedir a proliferação de armas.

Consequências humanitárias e diplomáticas

  • Diplomáticas: O Reino Unido fechou sua embaixada em Teerã e retirou pessoal não essencial, enquanto outros Estados europeus organizaram evacuações de cidadãos. Esse movimento sinaliza a crescente desconfiança na contenção pacífica do conflito.
  • Humanitárias: Desde o início dos confrontos em 12 de junho, estima-se que mais de 650 iranianos e 24 israelenses tenham morrido, além de danos a hospitais e centros civis em Beersheba e Haifa.

Próximos passos e janela diplomática

Nenhuma data para uma nova rodada de negociações foi definida. Ainda assim, diplomatas europeus garantiram que a “janela para a diplomacia” permanecerá aberta nas próximas duas semanas, antes que o presidente Trump decida sobre medidas militares adicionais. O alto-representante Josep Borrell anunciou que intensificará consultas com Teerã e as capitais do E3, objetivando um acordo-quadro que permita a reintegração dos EUA ao processo de mediação.

Conclusão

As conversas em Genebra ressaltam o desafio de manter aberto um canal diplomático em um contexto de bombardeios e contra-ataques. Para avançar rumo a um desarmamento gradual do programa nuclear iraniano, será crucial que Teerã demonstre flexibilidade mínima em seus níveis de enriquecimento e que Israel — juntamente com seus apoiadores — condescenda em oferecer um cessar-fogo temporário. Sem essas concessões mútuas, o risco de uma conflagração mais ampla no Oriente Médio torna-se cada vez mais iminente.


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