
Em 12 de junho de 2025, o Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) votou pela primeira vez em quase 20 anos para declarar o Irã em violação de suas obrigações de não-proliferação nuclear. A resolução, adotada por 19 votos a favor, 11 abstenções e oposição de Rússia, China e Burkina Faso, expôs desentendimentos profundos entre Teerã e a comunidade internacional e elevou os riscos de encaminhamento ao Conselho de Segurança da ONU . Em resposta, o Irã anunciou Contramedidas imediatas, intensificando o impasse diplomático justamente quando se aproxima a sexta rodada de negociações nucleares mediadas por Omã em Mascate, marcada para 15 de junho.
A Decisão da IAEA: Motivações e Consequências
O relatório da IAEA apontou falhas sistêmicas de cooperação iraniana, sobretudo a incapacidade de explicar vestígios de urânio em locais não declarados, derivados de um programa clandestino ativo até os anos 2000. O voto do Conselho reflete não apenas preocupações técnicas, mas também o desgaste político pós-retirada dos EUA do Plano de Ação Conjunto em 2018 e subsequente desmantelamento de salvaguardas .
- Risco de sanções: O encaminhamento ao Conselho de Segurança pode resultar em sanções adicionais ou até mesmo em autorização de medidas coercitivas.
- Credibilidade da IAEA: A agência reforça seu papel de fiscal independente, sinalizando que divergências geopolíticas não anularão a aplicação das normas de não-proliferação.
Contramedidas Iranianas: Expansão do Enriquecimento
Imediatamente após a resolução, o Irã informou à IAEA que elevará seu programa nuclear:
- Instalação de centrífugas de sexta geração na usina de Fordow, aumentando significativamente sua capacidade de enriquecimento.
- Construção de uma nova instalação de enriquecimento, ainda sem localização divulgada pelas autoridades iranianas.
O porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, ressaltou que o enriquecimento é um “direito inalienável” previsto no Tratado de Não-Proliferação Nuclear, e que as medidas visam “responder proporcionalmente” ao que chamou de “resolução punitiva” da IAEA.
Escalada Regional e Movimentações dos EUA
O clima de tensão já vinha se intensificando:
- Aviso britânico a navios comerciais: Autoridades marítimas do Reino Unido recomendaram cautela em estreitos e passagens próximas ao Irã, preocupadas com atividades de grupos apoiados por Teerã.
- Retirada de pessoal não essencial: O governo dos EUA deslocou dependentes de militares e autorizou saídas voluntárias de funcionários de embaixadas no Iraque, Bahrein e Kuwait, citando “ameaças de segurança não especificadas”.
- Alertas de aliados e risco de ataque israelense: Informações de inteligência, segundo fontes ocidentais, indicam preparativos para possíveis ataques israelenses a instalações nucleares iranianas, levando o Irã a antecipar exercícios militares e reforçar defesas antiaéreas.
A Perspectiva Diplomática: Rumo a Mascate
A sexta rodada de discussões, mediada por Omã, buscará avanços no freio ao enriquecimento escalonado pelo Irã e na oferta de alívio gradual de sanções americanas. Analistas destacam dois cenários principais:
- Fracasso das conversações: A manutenção das “linhas vermelhas” de ambas as partes — suspensão total do enriquecimento versus garantias de não militarização — aumenta o risco de retaliações unilaterais, com potencial para escalada militar na região.
- Sucesso negociado: Um acordo preliminar que limite as centrifugadoras e restabeleça verificações reforçadas poderia pavimentar a retomada de benefícios econômicos para Teerã e estabilizar os mercados de energia.
Implicações Geopolíticas e de Segurança
A conjunção entre o programa nuclear iraniano, a guerra em Gaza e as contínuas tensões entre Irã e grupos regionais (como os Houthis e milícias no Iraque) forma um mosaico de riscos interligados. Um Irã nuclearmente mais avançado poderia influenciar a política de dissuasão israelense, alterar o equilíbrio de poder no Golfo e incentivar corridas armamentistas em nações vizinhas.
Conclusão
A decisão da IAEA e a resposta iraniana realçam o dilema entre soberania nacional e segurança global. Com as negociações em Mascate marcadas para 15 de junho de 2025, o mundo observa um delicado embate entre sanções e incentivos, pressões diplomáticas e demonstrações militares. O desfecho dessas conversações poderá determinar se a região avança rumo a um acordo de coexistência controlada ou mergulha em nova espiral de confrontos.
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