IAEA Declara Irã em Não-Conformidade e Tensões Crescem Antes da Sexta Rodada de Negociações em Omã

Bandeira da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) tremulando em frente à sede em Viena, Áustria.
Bandeira da IAEA em frente à sede da agência em Viena, Áustria, 10 de julho de 2019. REUTERS/Lisi Niesner/ File Photo

Em 12 de junho de 2025, o Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) votou pela primeira vez em quase 20 anos para declarar o Irã em violação de suas obrigações de não-proliferação nuclear. A resolução, adotada por 19 votos a favor, 11 abstenções e oposição de Rússia, China e Burkina Faso, expôs desentendimentos profundos entre Teerã e a comunidade internacional e elevou os riscos de encaminhamento ao Conselho de Segurança da ONU . Em resposta, o Irã anunciou Contramedidas imediatas, intensificando o impasse diplomático justamente quando se aproxima a sexta rodada de negociações nucleares mediadas por Omã em Mascate, marcada para 15 de junho.

A Decisão da IAEA: Motivações e Consequências

O relatório da IAEA apontou falhas sistêmicas de cooperação iraniana, sobretudo a incapacidade de explicar vestígios de urânio em locais não declarados, derivados de um programa clandestino ativo até os anos 2000. O voto do Conselho reflete não apenas preocupações técnicas, mas também o desgaste político pós-retirada dos EUA do Plano de Ação Conjunto em 2018 e subsequente desmantelamento de salvaguardas .

  • Risco de sanções: O encaminhamento ao Conselho de Segurança pode resultar em sanções adicionais ou até mesmo em autorização de medidas coercitivas.
  • Credibilidade da IAEA: A agência reforça seu papel de fiscal independente, sinalizando que divergências geopolíticas não anularão a aplicação das normas de não-proliferação.

Contramedidas Iranianas: Expansão do Enriquecimento

Imediatamente após a resolução, o Irã informou à IAEA que elevará seu programa nuclear:

  1. Instalação de centrífugas de sexta geração na usina de Fordow, aumentando significativamente sua capacidade de enriquecimento.
  2. Construção de uma nova instalação de enriquecimento, ainda sem localização divulgada pelas autoridades iranianas.
    O porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, ressaltou que o enriquecimento é um “direito inalienável” previsto no Tratado de Não-Proliferação Nuclear, e que as medidas visam “responder proporcionalmente” ao que chamou de “resolução punitiva” da IAEA.

Escalada Regional e Movimentações dos EUA

O clima de tensão já vinha se intensificando:

  • Aviso britânico a navios comerciais: Autoridades marítimas do Reino Unido recomendaram cautela em estreitos e passagens próximas ao Irã, preocupadas com atividades de grupos apoiados por Teerã.
  • Retirada de pessoal não essencial: O governo dos EUA deslocou dependentes de militares e autorizou saídas voluntárias de funcionários de embaixadas no Iraque, Bahrein e Kuwait, citando “ameaças de segurança não especificadas”.
  • Alertas de aliados e risco de ataque israelense: Informações de inteligência, segundo fontes ocidentais, indicam preparativos para possíveis ataques israelenses a instalações nucleares iranianas, levando o Irã a antecipar exercícios militares e reforçar defesas antiaéreas.

A Perspectiva Diplomática: Rumo a Mascate

A sexta rodada de discussões, mediada por Omã, buscará avanços no freio ao enriquecimento escalonado pelo Irã e na oferta de alívio gradual de sanções americanas. Analistas destacam dois cenários principais:

  • Fracasso das conversações: A manutenção das “linhas vermelhas” de ambas as partes — suspensão total do enriquecimento versus garantias de não militarização — aumenta o risco de retaliações unilaterais, com potencial para escalada militar na região.
  • Sucesso negociado: Um acordo preliminar que limite as centrifugadoras e restabeleça verificações reforçadas poderia pavimentar a retomada de benefícios econômicos para Teerã e estabilizar os mercados de energia.

Implicações Geopolíticas e de Segurança

A conjunção entre o programa nuclear iraniano, a guerra em Gaza e as contínuas tensões entre Irã e grupos regionais (como os Houthis e milícias no Iraque) forma um mosaico de riscos interligados. Um Irã nuclearmente mais avançado poderia influenciar a política de dissuasão israelense, alterar o equilíbrio de poder no Golfo e incentivar corridas armamentistas em nações vizinhas.

Conclusão

A decisão da IAEA e a resposta iraniana realçam o dilema entre soberania nacional e segurança global. Com as negociações em Mascate marcadas para 15 de junho de 2025, o mundo observa um delicado embate entre sanções e incentivos, pressões diplomáticas e demonstrações militares. O desfecho dessas conversações poderá determinar se a região avança rumo a um acordo de coexistência controlada ou mergulha em nova espiral de confrontos.

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