Impasse em Genebra: Propostas Europeias ao Irã São “Irrealistas”, Diz Alta Fonte Iraniana

Fachada do hotel InterContinental em Genebra durante negociações nucleares entre Irã e potências europeias em 20 de junho de 2025.
O hotel InterContinental, em Genebra, foi palco das negociações nucleares entre representantes do Irã e da União Europeia, em 20 de junho de 2025. REUTERS/Denis Balibouse/Foto de arquivo.

Em 20–21 de junho de 2025, em meio à escalada de tensões entre Israel e Irã, representantes dos “E3” (Reino Unido, França e Alemanha) e o Alto Representante da UE reuniram-se em Genebra com o chanceler iraniano Abbas Araqchi. O objetivo era reabrir um canal diplomático sobre o programa nuclear de Teerã e, simultaneamente, tentar conter o conflito militar que já deixou centenas de mortos de ambos os lados. No entanto, um alto funcionário iraniano criticou publicamente as propostas europeias como “irreais”, criando um novo estirão no impasse nuclear que paira desde 2018.

Conteúdo das Propostas Europeias

  • Inspeções Ampliadas: acesso reforçado a todas as instalações nucleares, incluindo as de enriquecimento de baixo grau.
  • Monitoramento de Mísseis: sugestão inédita de estender o escopo de verificação também ao programa balístico iraniano.
  • Limites de Enriquecimento: cláusulas semelhantes às do JCPOA de 2015, mas com prazos “sunset” estendidos para manter restrições ativas além de 2030.

Os diplomatas europeus admitiram que o formato visasse inicialmente uma “pista paralela” sem participação norte-americana, dada a incerteza política em Washington.

Reação Oficial do Irã

Falando à Reuters sob anonimato, o alto funcionário iraniano afirmou que:

  1. “Zero enriquecimento é beco sem saída” – rejeição a qualquer proposta que vise eliminar completamente a capacidade de enriquecimento de urânio.
  2. Soberania em Defesa – não haverá negociação sobre o programa de mísseis, considerado pilar da dissuasão iraniana.

Teerã informou que avaliará as propostas em detalhes em Teerã e dará resposta na próxima rodada de conversas, ainda sem data definida.

Contexto Militar e Geopolítico Atualizado

  • Escalada de Hostilidades: desde 13 de junho, Israel lançou ataques aéreos contra sítios nucleares e militares iranianos; em retaliação, Teerã disparou mísseis e drones contra território israelense.
  • Mortes de Comandantes: Israel afirma ter eliminado dois generais da Força Quds – Saeed Izadi e Benham Shariyari – em operações em Qom e Khorramabad, respectivamente.
  • Casualidades: ao menos 430 iranianos e 24 israelenses morreram até 21 de junho; mais de 3.500 feridos em Irã e 25 em Israel, segundo fontes oficiais.
  • Mobilização dos EUA: aviões B-2 foram reposicionados para Guam, enquanto o presidente Trump avaliava em até duas semanas se os EUA entrariam mais ativamente no conflito.

Perspectivas Diplomáticas

  1. Visita a Moscou: após Genebra, Araqchi segue a convite para discutir alinhamento estratégico com a Rússia, possivelmente já em 23 de junho.
  2. Pressão de Macron: em conversa telefônica com o presidente iraniano Masoud Pezeshkian, Emmanuel Macron insistiu na urgência de “garantias claras” de caráter pacífico e no aceleramento dos diálogos.
  3. Inclusão de Outras Potências: avalia-se convidar Turquia, China e até países do Golfo para mediar pontos sensíveis e criar um formato mais robusto do que o unilateral E3.

Desafios e Caminhos para um Acordo

  • Falta de EUA à Mesa: sem o aval norte-americano, qualquer pacto corre o risco de ter sua eficácia limitada no Conselho de Segurança da ONU.
  • Calendário de Sanções: mecanismos de “snap-back” estão programados para reativar sanções em outubro de 2025, pressionando por um avanço antes dessa data.
  • Condições de Tehran: o Irã condiciona retorno a negociações a uma trégua mínima, o que depende da vontade de Israel em moderar seus ataques.

Para romper o impasse, seria necessário:

  1. Pacote de alívio de sanções mais atrativo, negociado com o apoio norte-americano;
  2. Mecanismos de verificação confiáveis, que atendam às preocupações internacionais sem ferir a soberania iraniana;
  3. Engajamento convergente de potências regionais e globais para legitimar e sustentar qualquer nova fórmula de acordo.

Conclusão

As negociações em Genebra, inicialmente vistas como uma oportunidade para conter a escalada militar e reabrir o diálogo nuclear, expuseram novamente o abismo entre as expectativas do Ocidente e as linhas vermelhas do Irã. A insistência europeia em incluir o programa balístico e impor limites severos ao enriquecimento nuclear colide com a narrativa de soberania e resistência de Teerã, especialmente em um momento de forte pressão militar externa.

A conjuntura é especialmente delicada: o aumento da violência entre Israel e Irã, a ausência dos EUA na mesa e o calendário apertado de sanções aumentam a urgência, mas também a complexidade das decisões. A disposição das partes em manter o canal aberto é positiva, mas sem concessões práticas – especialmente no campo das sanções – a próxima rodada poderá repetir o impasse.

Para que haja progresso real, será essencial combinar firmeza diplomática com realismo estratégico. Europa e Irã precisarão abandonar posições maximalistas e trabalhar em um modelo que ofereça garantias mútuas: segurança e transparência para o Ocidente, soberania e dignidade para Teerã. Com o relógio diplomático correndo e a ameaça militar latente, o tempo para construir esse equilíbrio é curto – mas ainda não esgotado.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*