Irã Suspende Cooperação com a AIEA em Resposta a Ataques e Acusações de Viés

Presidente iraniano Masoud Pezeshkian falando durante reunião em Ilam, Irã, 12 de junho de 2025.
Presidente Masoud Pezeshkian durante encontro em Ilam, Irã, em 12 de junho de 2025. Foto: Website presidencial do Irã / WANA / Reuters.

Em 2 de julho de 2025, o presidente iraniano Masoud Pezeshkian promulgou uma lei que interrompe toda cooperação de Teerã com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A medida, aprovada por unanimidade no parlamento e ratificada pelo Conselho Guardião, exige que qualquer futura inspeção das instalações nucleares iranianas receba aval prévio do Conselho Supremo de Segurança Nacional. A decisão reflete o agravamento das tensões após ataques aéreos israelenses e estadunidenses, bem como as crescentes acusações de parcialidade contra a AIEA.

Tramitação Legislativa

  • Parlamento: Em 25 de junho de 2025, a Assembleia Consultiva Islâmica aprovou o projeto de lei por voto unânime, em resposta a um conflito de 12 dias que incluiu ataques a instalações nucleares do país.
  • Conselho Guardião: No dia seguinte (26 de junho), o órgão constitucional ratificou sem objeções a legislação, encaminhando‑a para sanção presidencial.
  • Sanção Presidencial: Em 2 de julho, o presidente Pezeshkian sancionou o texto, tornando‑o imediatamente efetivo, sem estabelecer prazos adicionais de implementação.

Principais Disposições da Lei

  1. Suspensão Imediata: Cessa o intercâmbio de dados técnicos, concessão de vistos a inspetores e acesso físico a instalações nucleares.
  2. Autorização Centralizada: Futuras inspeções dependerão de autorização expressa do Conselho Supremo de Segurança Nacional, presidido pelo líder supremo do país.
  3. Condições para Retomada: Exige garantias formais de que a AIEA atuará sem viés político e sem propiciar justificativas externas para possíveis ataques.

Contexto e Motivação

  • Acusações de Viés: O governo iraniano acusa a AIEA de agir sob influência ocidental e de ter fornecido pretexto para ofensivas israelenses que começaram em 13 de junho, um dia após o Conselho de Governadores da agência declarar o Irã em violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
  • Ataques aos Sítios Nucleares: Além dos raios‑X israelenses, em 22 de junho os Estados Unidos bombardearam o complexo de Fordow. O ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, afirmou que o ataque “danificou seriamente” as instalações.
  • Fratura do Diálogo: Embora o Irã mantenha alguma abertura para conversas nucleares — condicionadas ao fim de ações militares — o sentimento de desconfiança em relação ao diretor‑geral da AIEA, Rafael Grossi, intensificou o rompimento temporário de laços.

Reações Internacionais

  • AIEA: Rafael Grossi advertiu que o Conselho de Governadores poderá adotar novas resoluções caso o acesso siga restrito, ressaltando que “nenhuma avaliação completa pode ocorrer sem inspeções em Fordow, Natanz e Isfahan”.
  • G7 e União Europeia: Líderes do G7 reiteraram a urgência de manter inspeções, enquanto a UE alertou que a suspensão compromete negociações e pode levar a sanções adicionais.
  • Estados Unidos: A Casa Branca expressou “profundo desapontamento” e condicionou futuras negociações à retomada das salvaguardas nucleares.
  • Israel: O Ministério das Relações Exteriores israelense qualificou a lei iraniana como “um avanço perigoso rumo a uma cortina de ferro nuclear” e defendeu a adoção de novas sanções na ONU.

Implicações para a Segurança Nuclear

  • Verificação de Estoques: Sem acesso independente, a AIEA não consegue confirmar quantidades de urânio altamente enriquecido, estimadas em mais de 400 kg, risco que pode favorecer o desvio de material para fins bélicos.
  • Potencial de Proliferação: Analistas alertam que a ausência de monitoramento facilita atividades não declaradas, acelerando hipotético desenvolvimento de armamento nuclear.
  • Estabilidade Regional: A escalada de desconfiança amplia o risco de confrontos diretos e retaliações, criando um ciclo de insegurança no Oriente Médio.

Perspectivas Futuras

  • Reversão Condicionada: O Irã poderá restabelecer a cooperação caso receba garantias internacionais de segurança para cientistas e sítios nucleares — algo considerado improvável no curto prazo.
  • Esforços Diplomáticos: Parceiros europeus trabalham para mediar a crise, ressaltando que o rompimento das salvaguardas afeta todo o regime de não-proliferação.
  • Cenário Militar: Sem verificação, eventuais ações preventivas de Israel ou dos EUA carecerão de monitoramento credível, aumentando o perigo de escaladas regionais.

Conclusão

A lei que suspende a cooperação com a AIEA marca um ponto de ruptura na relação entre Teerã e o principal órgão de verificação nuclear global. Reflete o aprofundamento das tensões geopolíticas e a crescente desconfiança mútua, ao mesmo tempo em que desafia a estabilidade do sistema internacional de não‑proliferação. A comunidade global, dividida entre pressão diplomática e riscos militares, enfrenta agora o desafio de restaurar canais de diálogo e evitar que o programa nuclear iraniano evolua sem supervisão.

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