IAEA deve declarar Irã em violação das salvaguardas nucleares em meio a tensões diplomáticas

Logo da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) na sede em Viena, Áustria.
Logo da IAEA exibido na sede da agência em Viena durante a abertura da reunião trimestral do Conselho de Governadores, em 3 de junho de 2024. REUTERS/Leonhard Foeger/File Photo

Diplomatas ocidentais antecipam que os Estados Unidos e os aliados europeus (Reino Unido, França e Alemanha – E3) apresentarão, em 9 de junho de 2025, uma resolução inédita em quase 20 anos no Conselho de Governadores da IAEA: declarar o Irã em violação de suas obrigações de salvaguardas nucleares. A medida visa aumentar a pressão sobre Teerã, mesmo com negociações paralelas entre EUA e Irã estagnadas.

Histórico e contexto atual

  • Última declaração de violação: setembro de 2005, após descoberta de atividades nucleares clandestinas no Irã, seguida de encaminhamento ao Conselho de Segurança da ONU e sanções subsequentes.
  • Nível de enriquecimento: Teerã já eleva urânio a até 60% de pureza, próximo ao grau bélico (≈ 90%), o que lhe garantiria material suficiente para até seis ogivas, segundo critérios da IAEA.
  • Vestígios em locais não declarados: rastros de urânio detectados pela agência geraram várias resoluções cobrando explicações imediatas.

A dinâmica na IAEA

  1. Relatórios trimestrais
    • IAEA enviará dois documentos: um resumo do status e um relatório “compreensivo” cobrindo cooperação, acesso a inspetores e investigação de sítios não declarados.
    • Diplomatas europeus preveem tom duro no relatório abrangente.
  2. Projeto de resolução
    • Assim que o relatório compreensivo for divulgado, os EUA redigirão o texto para declarar formalmente o Irã em violação de suas salvaguardas.
    • O rascunho será discutido em consultas prévias à reunião e, então, submetido pelo E3 durante o encontro.

Informações recentes

  • Em 28 de maio de 2025, o diretor-geral da IAEA, Rafael Grossi, afirmou que qualquer novo acordo nuclear deve incluir inspeções “muito robustas” da agência, evitando referendar protocolarmos frouxos e garantindo verificação contínua.
  • No mesmo dia, o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami, indicou que Teerã poderia aceitar inspetores norte-americanos da IAEA em um eventual acordo, um gesto inédito que sinaliza disposição de concessões caso haja oferta de contrapartidas econômicas e políticas.

Possíveis desdobramentos diplomáticos

  • Reação de Teerã: o governo iraniano anunciou que responderá “expandindo o trabalho nuclear” na esteira de qualquer resolução adversa, incluindo aceleração do enriquecimento e restrição a inspeções.
  • Referência ao Conselho de Segurança: embora ainda não definido o momento de encaminhar a matéria à ONU, o envio ao Conselho de Segurança permanece uma opção para sanções mais severas.
  • Votos no Conselho: espera-se aprovação, com Rússia e China se opondo ou se abstendo, mas sem conseguir vetar a maioria necessária.

Impactos no programa nuclear

  • Pressão por acordo: apesar das divergências – EUA exigem fim do enriquecimento; Irã reivindica seu direito civil –, o cenário pode forçar negociações pontuais para suspender etapas mais sensíveis.
  • Elevação do risco de proliferação: com estoques de urânio enriquecido a 60%, o caminho para 90% torna-se mais curto.
  • Isolamento e sanções: aprofundamento de sanções secundárias dos EUA e medidas diplomáticas mais duras dos europeus.

Conclusão

A proposta de declarar o Irã em violação de suas salvaguardas nucleares pela IAEA reforça o caráter político-diplomático da agência e marca um novo capítulo de tensão. Ao mesmo tempo, declarações recentes de Grossi e potenciais concessões de Teerã indicam que ainda há espaço para negociações, desde que acompanhadas de mecanismos de verificação sólidos e recíprocos.

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