
Em 28 de abril de 2025, cinco combatentes das Forças Democráticas Sírias (SDF) foram mortos em um ataque coordenado do ISIL na província de Deir Az Zor, no leste da Síria. Considerado “um dos mais mortíferos ataques contra o grupo em algum tempo”, esse episódio evidencia não apenas a persistência do Estado Islâmico após sua derrota territorial, mas também os vácuos de segurança e as crises humanitárias que permitem seu ressurgimento. Neste artigo, apresentamos uma análise detalhada do ataque, seu impacto sobre a população local, interpretações de especialistas e propostas de mitigação, além de uma linha do tempo visual que ilustra a ascensão, o apogeu e a queda do ISIL.
Linha do Tempo Visual: Ascensão e Queda do ISIL
Ano | Evento Principal |
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2013 | Fundação do precursor “Estado Islâmico do Iraque” expande-se para a Síria. |
2014 | Proclamação do “califado” por Abu Bakr al-Baghdadi; controle sobre Raqqa e Mossul. |
2015 | Pico territorial: domina área equivalente à metade do Reino Unido. |
2017 | Perda de Mossul (julho) e Raqqa (outubro) após ofensivas iraquianas e SDF. |
2019 | Captura de Baghouz (março) encerra controle territorial do ISIL na Síria. |
2020–2023 | Transição para insurgência: ataques esporádicos e recrutamento clandestino. |
Dez 2024 | Aumento de emboscadas no Vale Médio do Eufrates, segundo Institute for the Study of War. |
Abr 2025 | Ataque em Deir Az Zor: cinco combatentes SDF mortos – sinal de ressurgimento. |
Ataque Mortal e Panorama Imediato
Na manhã de 28 de abril de 2025, o grupo ISIL reivindicou ter morto cinco combatentes das Forças Democráticas Sírias (SDF) em um ataque coordenado na província de Deir Az Zor, leste da Síria. A informação foi confirmada pelo porta-voz Farhad Shami, que qualificou a ação como “um dos mais mortíferos ataques contra o grupo em algum tempo” .
De acordo com agências de monitoramento de conflitos, as células do Estado Islâmico executaram três operações simultâneas em diferentes pontos de patrulha da SDF, aproveitando o terreno desértico e a dispersão das tropas para infligir baixas significativas. A área, rica em petróleo e estrategicamente localizada às margens do rio Eufrates, permanece volátil desde a queda do último reduto do ISIL em Baghouz, em março de 2019 .
Contexto Histórico e Ressurgimento do ISIL
Em 2014, o ISIL chegou a controlar um território equivalente à metade do Reino Unido, com Raqqa (Síria) e Mossul (Iraque) como capitais de facto do califado declarado por Abu Bakr al-Baghdadi. Após uma campanha internacional liderada pelos EUA e pelas SDF, o último enclave em Baghouz foi tomado em março de 2019, marcando o fim oficial da guerra territorial contra o grupo .
Entretanto, o grupo nunca foi completamente erradicado. Segundo o Institute for the Study of War, a partir de dezembro de 2024 células remanescentes intensificaram ataques na região do Vale Médio do Eufrates, explorando vácuos de segurança e o descontentamento de comunidades locais . Esse ressurgimento tem se traduzido em emboscadas contra postos de controle, ataques a infraestrutura energética e recrutamento via redes clandestinas.
Impacto Humanitário em Deir Az Zor
A retomada de hostilidades em Deir Az Zor agrava uma crise humanitária já crítica. Um levantamento rápido conduzido pela Middle East Consulting Solutions (MECS) em fevereiro de 2025, com 416 domicílios, revelou que 56% das famílias relatam acesso insuficiente a serviços básicos de saúde e 72% dependem de ajuda externa para alimentação diária .
O Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alerta que cortes de financiamento recentes pioraram as condições em campos de deslocados em Raqqa, Hassakeh e Deir Az Zor, elevando riscos de violência, exploração e recrutamento forçado por milícias . Civis entrevistados descrevem longas filas para o único hospital operacional na cidade, danos estruturais e medo constante de novos ataques.
Vozes da População Local
Um morador de Al-Tayyanah, subúrbio rural de Deir Az Zor, relatou:
“Não sabemos mais a quem recorrer. A SDF nos protege, mas o Estado Islâmico ataca sem aviso. Nossas crianças não têm escola e vivemos sob constante tensão.”
Tal relato foi coletado por uma ONG de direitos humanos que atua na região, reforçando a urgência de corredores humanitários e de uma presença internacional de monitoramento de direitos civis.
Análise de Especialistas
Aaron Stein, pesquisador sênior do Atlantic Council, aponta que o ataque evidencia a capacidade de infiltração do ISIL em áreas antes consideradas seguras:
“O grupo está explorando tanto rivalidades tribais quanto a reduzida presença de forças regulares para realizar operações de baixo custo e alto impacto.” .
Analistas da ONG International Crisis Group destacam que a fragmentação das milícias pró-governo e a falta de coordenação entre Damasco e a coalizão liderada pelos EUA criam brechas de segurança exploráveis pelo ISIL.
Resposta das SDF e Aliados
Em reação, as SDF lançaram uma operação de cerco e perseguição contra células suspeitas, com apoio de inteligência aérea da coalizão internacional. Fontes militares afirmam que oito suspeitos foram detidos e depósitos de armas foram destruídos em ataques precisos de drones nas últimas 48 horas .
O comando da coalizão reforçou em comunicado a continuidade de patrulhas conjuntas e o compromisso com a estabilidade na região, mas admite desafios logísticos e políticos para manter a vigilância em um território extenso e de difícil acesso.
Caminhos para Mitigação e Paz Duradoura
- Reforço humanitário: criação de corredores seguros para chegada de alimentos, remédios e apoio psicológico, em parceria com OCHA e UNICEF.
- Diálogo comunitário: inclusão de líderes tribais em fóruns de segurança para reduzir ressentimentos locais e impedir recrutamento pelo ISIL.
- Monitoramento internacional: ampliação de missões de observadores de direitos humanos para documentar abusos e pressionar por responsabilidade.
- Iniciativas de reconstrução: investimentos em infraestrutura crítica (saúde, educação, energia) para diminuir o terreno fértil ao extremismo.
Conclusão
O ataque que matou cinco combatentes curdos em Deir Az Zor evidencia que o ISIL permanece uma ameaça viva e adaptativa. A combinação de estratégias militares, engajamento comunitário e robusta assistência humanitária é essencial para conter o ressurgimento do grupo e proteger a população civil. Somente um esforço coordenado, envolvendo atores locais e a comunidade internacional, poderá romper o ciclo de violência e assentar bases para uma paz sustentável.
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