
Duas explosões atingiram o Hospital Batista Al-Ahli Arab, um dos principais centros médicos de Gaza, durante a madrugada de domingo. Os mísseis, disparados por Israel, destruíram completamente o setor de emergência e recepção do hospital, forçando a evacuação de pacientes e interrompendo os serviços médicos da instituição, ligada à Igreja Anglicana. O ataque, segundo o Exército israelense, visava combatentes do Hamas que estariam utilizando o local para fins militares — alegação negada pelo grupo palestino.
O hospital foi desativado imediatamente após a ação, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. De acordo com Khalil Al-Deqran, porta-voz da pasta, “centenas de pacientes e feridos tiveram que ser evacuados no meio da noite, muitos dos quais agora estão nas ruas sem cuidados médicos, o que coloca suas vidas em risco.”
Apesar da destruição, não houve registro de mortos ou feridos diretamente no ataque, graças a uma ligação prévia de um suposto membro da segurança israelense que alertou sobre a iminência da ofensiva.
Impacto humanitário ampliado
A ofensiva contra o Hospital Al-Ahli agrava ainda mais uma crise humanitária já catastrófica na Faixa de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde local, mais de 30 hospitais e centros de saúde foram parcialmente ou totalmente destruídos desde o início da guerra, tornando inviável a prestação de cuidados médicos adequados à população.
Organizações internacionais relatam um colapso do sistema de saúde, com escassez aguda de insumos médicos, medicamentos essenciais, combustível para geradores, além de água potável e eletricidade.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) declarou em nota que “a situação em Gaza é desesperadora. Estamos operando com recursos mínimos e sendo obrigados a tomar decisões dolorosas sobre quem pode ser tratado. O bombardeio de hospitais agrava o sofrimento de uma população já traumatizada.”
A Cruz Vermelha Internacional também se manifestou: “Atacar instalações de saúde não apenas viola as convenções internacionais, como impede que civis tenham acesso a cuidados médicos básicos — um direito fundamental mesmo em tempos de guerra.”
Análise de especialistas
Especialistas em Direito Internacional expressaram sérias preocupações quanto à legalidade dos ataques a estruturas médicas. Para a professora Amal Al-Taher, da Universidade Americana do Cairo, “mesmo que grupos armados utilizem hospitais como escudo, o direito humanitário internacional exige provas claras, proporcionalidade e que todos os meios possíveis de mitigação de danos civis sejam adotados.”
Já o pesquisador britânico James H. Evans, especialista em conflitos no Oriente Médio, avalia que “a repetição de ataques contra hospitais em Gaza está levando a um padrão de violação de normas internacionais, o que pode configurar crimes de guerra, dependendo da motivação e do conhecimento prévio das Forças de Defesa de Israel sobre a presença de civis.”
Repercussões
A Igreja Batista de Jerusalém, responsável pelo hospital atingido, condenou o ataque, afirmando que o aviso chegou apenas 20 minutos antes da destruição de um laboratório genético e dos prédios da farmácia e emergência. Em comunicado, a instituição fez um apelo: “Chamamos todos os governos e pessoas de boa vontade a intervir para deter os ataques contra instituições médicas e humanitárias.”
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina e o grupo Hamas também condenaram a ação, acusando Israel de “tentar destruir sistematicamente o sistema de saúde de Gaza”.
Israel, por sua vez, alega que o Hamas utiliza instalações civis, como hospitais e escolas, para esconder armamentos e planejar ataques — algo que o grupo nega.
Contexto do conflito
O conflito atual teve início em 7 de outubro de 2023, com um ataque surpresa do Hamas ao sul de Israel, deixando 1.200 mortos e 251 sequestrados, segundo autoridades israelenses. A resposta militar de Israel resultou, até o momento, em mais de 50.000 mortos na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
Grande parte da região está em ruínas, com cerca de 80% da população deslocada internamente, enfrentando fome, doenças e risco constante de novos bombardeios.
Outras ofensivas no domingo
Além do ataque ao hospital, outros bombardeios em Gaza deixaram ao menos 14 palestinos mortos, entre eles o chefe de uma delegacia de polícia em Khan Younis e seis irmãos que estavam em um carro em Deir Al-Balah, segundo autoridades médicas locais.
Conclusão
O ataque ao Hospital Al-Ahli Arab Baptist e os bombardeios adicionais em diferentes pontos da Faixa de Gaza ilustram a brutalidade contínua do conflito israelo-palestino e o colapso iminente dos serviços essenciais em meio à guerra. A destruição de uma das principais instalações médicas da região não só agrava a crise humanitária, como também evidencia o alto custo humano das operações militares em áreas densamente povoadas. Com negociações de cessar-fogo ainda incertas, a população civil segue exposta à violência, ao deslocamento forçado e à falta de assistência. A comunidade internacional, pressionada por organizações humanitárias e líderes religiosos, é convocada a agir de forma mais enérgica para garantir a proteção de civis e a preservação da infraestrutura humanitária em Gaza.
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