
Hoje (22 de abril de 2025), as Forças de Defesa de Israel (IDF) deflagraram uma das maiores ondas de bombardeios sobre a Faixa de Gaza nas últimas semanas, intensificando significativamente as operações terrestres, aéreas e navais. De acordo com moradores locais, tanques, aviões e embarcações costeiras abriram fogo contra residências, acampamentos improvisados e vias de comunicação, deixando um rastro de destruição que já impede até mesmo operações básicas de socorro.
Escalada de violência e colapso da infraestrutura de saúde
Desde o colapso do cessar‑fogo em 18 de março, Israel mantém um bloqueio total de todos os suprimentos para o território. Em pouco mais de um mês, as ações militares já deixaram mais de 1.600 palestinos mortos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, e forçaram centenas de milhares a abandonar suas casas diante do avanço israelense, que tomou porções de solo na chamada “zona de segurança”. As estimativas apontam que 2,3 milhões de habitantes vivem hoje em abrigos precários ou em plena via pública, sob tendas improvisadas e com acesso quase nulo a serviços básicos.
Enquanto isso, o sistema de saúde de Gaza se aproxima do colapso total. Hospitais funcionam sem insumos críticos, com estoques de anestésicos, antibióticos e oxigênio prestes a se esgotar. Máquinas para remoção de destroços e veículos que auxiliavam no resgate de corpos foram destruídos pelos ataques, agravando a crise humanitária.
Risco de retorno da poliomielite
Em um cenário já dramático, o Ministério da Saúde de Gaza anunciou a suspensão imediata de sua campanha de vacinação contra a poliomielite, apoiada pela ONU, que tinha como meta imunizar mais de 600.000 crianças. Khalil Deqran, porta‑voz do ministério, alerta para “uma catástrofe real caso as doses não cheguem nas próximas horas. Crianças e pacientes não podem ser usados como peças de chantagem política.” Ele ressaltou que, atualmente, cerca de 60.000 crianças já exibem sinais de desnutrição, o que eleva exponencialmente o risco de um surto da doença — anteriormente considerada praticamente erradicada na região.
Escassez de recursos médicos e alimentares
- Medicamentos e insumos críticos: conforme relatório da OCHA, 87% dos consumíveis médicos necessários para cirurgias ortopédicas estão fora de estoque, e 99% dos medicamentos usados em cateterismo cardíaco não estão disponíveis.
- Capacidade hospitalar: apenas 20 dos 36 hospitais continuam parcialmente funcionais, segundo a OMS, com falta de medicamentos essenciais e combustível para geradores.
- Alimentos: o Programa Mundial de Alimentos (WFP) informou que não consegue levar novos suprimentos a Gaza há mais de três semanas, e que os estoques remanescentes sustentam operações por, no máximo, duas semanas.
- Padarias: todas as 25 padarias mantidas pela ONU foram fechadas devido ao bloqueio.
- Dependência de caridade: 80% da população depende de cozinhas de organizações humanitárias, recebendo refeições básicas de arroz ou massa, sem vegetais frescos ou carne.
Consequências humanitárias e denúncias de punição coletiva
Com todas as 25 padarias sustentadas pela ONU paralisadas desde o início do bloqueio, a fome e o risco de epidemias tornam‑se ameaças tangíveis. Agências de ajuda internacional e organismos de direitos humanos condenam o uso de ajuda humanitária como moeda de negociação. Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, classificou o cerco como “um ato de punição coletiva” contra a população e clamou pelo fim imediato do bloqueio: “O acesso a suprimentos essenciais não pode ser restringido como ferramenta de guerra.”
Testemunhos pessoais
- Mirjana Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, descreveu a situação em Gaza como “inferno na Terra” e alertou que seu hospital de campanha ficaria sem suprimentos dentro de duas semanas.
- Hani Almadhoun, cofundador de uma cozinha comunitária em Gaza, disse: “Mas comida é um termo amplo. Temos apenas massa e arroz, sem vegetais frescos nem carne. Só temos carne enlatada. De 15 a 20% das pessoas saem de mãos vazias”.
- Shaina Low, porta‑voz do Conselho Norueguês de Refugiados, afirmou que a população está reduzida a “uma refeição por dia”, bem abaixo do mínimo necessário.
- Tarik Jasarevic, porta‑voz da OMS, informou que, mesmo entre os hospitais ainda operacionais, falta combustível e medicamentos essenciais para tratar feridos e manter o funcionamento básico das unidades de saúde.
Tentativas de trégua e impasse diplomático
Em paralelo à ofensiva, uma delegação do Hamas viajou ao Cairo para retomar as negociações de paz. Fontes locais mencionam que o grupo levou uma proposta revisada de trégua de longo prazo — entre cinco e sete anos — condicionada à libertação de todos os reféns e ao fim imediato dos bombardeios. Até o fechamento desta edição, Israel não havia respondido oficialmente ao novo esboço de acordo.
O principal ponto de discórdia permanece a exigência israelense de desarmamento total do Hamas, algo que o movimento considera inaceitável. Sem avanços nesse ponto, o conflito tende a se prolongar, aprofundando a crise humanitária e aumentando o risco de colapso social em Gaza.
Reflexões e desdobramentos futuros
A intensificação dos ataques e o bloqueio sanitário revelam um quadro cada vez mais sombrio para os palestinos em Gaza. A suspensão da vacinação contra a poliomielite, combinada à falta de alimentos, água potável e remédios, pode resultar em uma tempestade perfeita de doenças e mortalidade em massa. Do ponto de vista militar, Israel busca neutralizar a capacidade do Hamas, mas corre o risco de criar um vácuo humanitário de proporções catastróficas.
Para a comunidade internacional, resta ampliar a pressão diplomática por um imediato acesso de ajuda humanitária e pela retomada das negociações de paz, buscando um cessar‑fogo duradouro que permita a reconstrução de infraestruturas e o restabelecimento dos serviços básicos. Sem esse movimento, o colapso em Gaza se tornará irreversível — com consequências que vão muito além das fronteiras do enclave, impactando toda a ordem regional e a credibilidade das instituições internacionais.
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