
O príncipe herdeiro da Jordânia, Hussein bin Abdullah, anunciou a reativação do programa de serviço militar obrigatório, suspenso desde 1991. A medida visa fortalecer a defesa nacional, a disciplina juvenil e a identidade cívica, em meio a tensões regionais intensificadas.
Contexto e motivações
Em encontro com jovens em Irbid, o príncipe destacou que “jovens jordanianos devem estar preparados para servir e defender seu país” e ressaltou que antigos participantes compreenderam o valor da experiência para moldar caráter e identidade nacional. A decisão ocorre num momento de instabilidade regional crescente, principalmente devido ao conflito em Gaza.
Comparação histórica: antes e agora
O serviço militar obrigatório foi uma prática consolidada na Jordânia até 1991. Naquele período, todos os homens maiores de 18 anos eram convocados para até dois anos de serviço, com treinamento militar rigoroso e mobilização contínua. O modelo antigo tinha caráter essencialmente bélico e de defesa territorial.
Já o novo programa, com início em 2026, apresenta diferenças marcantes:
- Duração reduzida: apenas três meses por ciclo, com possibilidade de expansão futura.
- Foco ampliado: além do treinamento militar, haverá forte ênfase em cidadania, identidade nacional e preparação para o mercado de trabalho.
- Perfil dos convocados: inicialmente restrito aos jovens nascidos em 2007, com inclusão gradual de novas faixas etárias.
Essa mudança reflete uma tentativa do governo de equilibrar a segurança nacional com a integração social e econômica da juventude, reduzindo custos e adaptando o modelo às novas necessidades do país.
Detalhes e operações do programa
- Início: Programado para 1º de fevereiro de 2026, com três cortes anuais de três meses.
- Primeiro grupo: 6.000 jovens nascidos em 2007, distribuídos equitativamente por províncias.
- Essência do programa: Treinamento militar intensivo + componente teórico sobre cidadania, história nacional e empregabilidade.
- Benefícios e penalidades: Bolsa mensal de JD 100; proibição de celulares; pena de 3 meses a 1 ano de prisão por evasão.
- Logística: Implementado pelo Exército (JAF) nos acampamentos Khaw e Shway’ar.
Perspectiva de longo prazo
O governo jordaniano já anunciou que o programa não ficará restrito a 2026. A meta é expandir gradualmente o contingente de 6.000 para até 10.000 recrutas anuais nos próximos anos, consolidando o serviço como um instrumento permanente de formação cívica e defesa nacional.
Autoridades também indicam que, dependendo da aceitação popular e dos resultados iniciais, o programa poderá evoluir para uma política de Estado de caráter contínuo, resgatando parte do espírito do serviço pré-1991, mas em versão adaptada às necessidades sociais e econômicas atuais.
Reação governamental e estratégicas legais
O primeiro-ministro Jafar Hassan elogiou a iniciativa, destacando alocação de fundos emergenciais em 2025 e inclusão no orçamento de 2026. O ministro da Comunicação reafirmou que o programa é um “projeto nacional” para formar jovens responsáveis e comprometidos com o futuro do país.
Panorama regional e cooperação internacional
Embora a Jordânia seja formalmente aliada de Israel desde o Tratado de Paz de 1994, a relação é marcada por cooperação estratégica e tensões recorrentes.
No campo da segurança e inteligência, os dois países mantêm coordenação próxima em fronteiras e combate ao contrabando, além de acordos de fornecimento de gás natural e água, fundamentais para a economia jordaniana.
Porém, a guerra em Gaza reacendeu divergências profundas. Amã suspendeu projetos conjuntos de grande porte e reforçou um discurso crítico à ocupação israelense, sobretudo pela sua posição de guardiã dos lugares santos islâmicos em Jerusalém e pela pressão interna de sua maioria populacional de origem palestina.
Nesse equilíbrio delicado, a Jordânia busca manter o tratado de paz com Israel sem abrir mão de sua legitimidade regional e da solidariedade à causa palestina. Paralelamente, o país segue recebendo apoio militar dos Estados Unidos (US$ 350 milhões anuais) e assistência da União Europeia para modernizar suas forças, além de cooperar com a Síria em segurança fronteiriça contra drogas e extremismo.
Conclusão
O serviço militar obrigatório retorna à Jordânia com um novo formato, mais curto, inclusivo e voltado à cidadania. Se no passado ele servia prioritariamente à defesa territorial, agora busca também integrar jovens ao mercado de trabalho e reforçar a coesão social. A ampliação prevista para 10.000 recrutas mostra que o governo aposta na medida como um pilar estratégico de longo prazo.
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