
O ayatollah Ali Khamenei, líder supremo do Irã, classificou nesta terça‑feira as exigências dos Estados Unidos para que Teerã interrompa o enriquecimento de urânio como “excessivas e ultrajantes”, questionando se as rodadas atuais levarão a um acordo eficaz. Em discurso durante um memorial ao ex‑presidente Ebrahim Raisi, Khamenei também rejeitou a ideia de que seu país precisasse de autorização externa para conduzir seu programa nuclear civil.
“Não creio que as conversas nucleares com os EUA produzirão resultados. Não sei o que vai acontecer”, afirmou o líder supremo, sugerindo que Washington abstenha‑se de formular demandas tão desproporcionais.
Contexto histórico e político
Desde a assinatura do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) em 2015, que impôs limites ao programa iraniano em troca de alívio de sanções, o tema das centrífugas e do nível de enriquecimento tem sido central. Em 2018, os EUA se retiraram unilateralmente do acordo, reimpondo sanções severas e motivando Teerã a elevar seu grau de enriquecimento gradualmente.
As conversas indiretas, iniciadas em abril de 2025 com mediação da Omã, chegaram ao impasse diante do veto americano ao enriquecimento doméstico de urânio, considerado por Teerã um direito inalienável sob o Tratado de Não‑Proliferação Nuclear
Posicionamentos oficiais e impasses atuais
- Majid Takht‑Ravanchi, vice‑chanceler, avisou que as negociações “fracassarão” se os EUA mantiverem a exigência de suspensão do enriquecimento interno.
- Kazem Gharibabadi, outro vice‑ministro, confirmou o recebimento de uma nova proposta norte‑americana, ainda em avaliação por Teerã.
- O presidente Donald Trump, retomando retórica dura, alertou para “consequências graves” caso o Irã não ceda rapidamente, inclusive mencionando opções militares.
Análise das implicações
- Colapso diplomático iminente: a rejeição de Khamenei a essa cláusula central pode encerrar precocemente as conversas, revertendo a retomada de inspeções internacionais e ampliando as sanções.
- Tensão energética: qualquer ruptura tende a pressionar para cima o preço do petróleo, dada a importância estratégica do estreito de Ormuz.
- Efeito geopolítico: o impasse fortalece o alinhamento de Teerã com Rússia e China, que vêm ampliando seu apoio econômico e militar ao Irã diante do esfriamento dos laços com Washington.
Cenários futuros
- Acordo restrito: limitação parcial do programa sob fiscalização mais rigorosa da AIEA, sem reconhecimento pleno do direito ao enriquecimento.
- Ruptura completa: retomada total das sanções e possível expansão acelerada das atividades nucleares.
- Mediação multilateral: União Europeia e potências asiáticas podem tentar intervir para viabilizar um “compromisso controlado”, preservando parte do programa pacífico.
Conclusão
O tom intransigente de Khamenei sinaliza a disposição do Irã de manter seu programa nuclear civil a qualquer custo, mesmo sob forte pressão de Washington. Com as negociações em estado crítico, o mundo observa atentamente os próximos passos de ambos os lados: ou os EUA ajustam suas demandas, ou as tensões no Oriente Médio poderão escalar para novos patamares.
Dados técnicos atualizados
Segundo reportagem do Financial Times, neste mês de maio de 2025 o Irã atingiu níveis de enriquecimento próximos ao grau de armas (cerca de 60% de U‑235), com capacidade técnica para produzir material físsil suficiente para uma arma em poucos meses, caso decidisse acelerar o programa militar.
Faça um comentário