
Presidente francês inicia giro pelo Vietnã, Indonésia e Singapura em busca de ampliar a presença europeia na região e contrabalançar influência de EUA e China
Com o objetivo de reforçar a presença estratégica da França e da União Europeia no Indo-Pacífico, o presidente francês Emmanuel Macron iniciou neste domingo (25) uma viagem de cerca de uma semana por três países asiáticos: Vietnã, Indonésia e Singapura. A missão busca consolidar parcerias em setores de alta prioridade para Paris — como defesa, energia sustentável e tecnologia de ponta — ao mesmo tempo em que projeta a França como um ator global de peso diante das tensões geopolíticas em crescimento.
A visita também simboliza um esforço mais amplo da Europa para diversificar suas alianças na Ásia, num momento em que os Estados Unidos, sob Donald Trump, adotam posturas comerciais protecionistas e a China amplia sua atuação com métodos considerados coercitivos ou predatórios por líderes ocidentais. Ao longo do percurso, Macron deverá apresentar a França como um parceiro confiável, defensor do multilateralismo, da inovação e da cooperação baseada em regras.
A seguir, o artigo completo com todos os detalhes, análises e potenciais desafios dessa ofensiva diplomática.
Visita histórica e objetivos estratégicos
Em sua primeira viagem ao Vietnã em quase uma década, o presidente francês Emmanuel Macron desembarcou em Hanói em 25 de maio de 2025, dando início a um périplo de aproximadamente uma semana que inclui ainda Jacarta (27–29 de maio) e Singapura (30 de maio), onde proferirá discurso de abertura no Diálogo de Shangri-La, a principal conferência de defesa da Ásia.
Macron declarou em sua conta no X que veio reforçar parcerias em quatro pilares:
- Defesa
- Inovação tecnológica
- Transição energética
- Intercâmbios culturais.
A iniciativa corresponde ao esforço de França e União Europeia de diversificar suas parcerias no Indo-Pacífico, equilibrando o peso de políticas protecionistas americanas e a crescente influência chinesa.
Defesa: europeus em busca de novos mercados e alianças
A França, segunda maior exportadora de armamentos da Europa, pretende expandir contratos militares no Sudeste Asiático. Em Hanói, estão previstos memorandos para:
- Sistemas de radar e vigilância marítima para as Forças Armadas vietnamitas;
- Capacitação de pilotos e técnicos com a Airbus Defence and Space;
- Pesquisa e desenvolvimento de drones de patrulha naval.
Analistas do Instituto de Estudos de Defesa e Segurança de Hanói estimam que tais parcerias podem elevar em até 20% a capacidade de vigilância costeira do Vietnã nos próximos cinco anos, reduzindo dependência de fornecedores regionais.
Energia: transição e inovação sustentável
No setor energético, Macron chega com ambições de participar do Just Energy Transition Partnership apoiado pela UE e de assinar até 30 acordos em infraestrutura e renováveis durante a visita. Os principais pontos são:
- Pequenas centrais nucleares modulares (SMRs) — embora nenhum contrato de grande porte seja esperado, o tema nuclear permanece na pauta, à medida que o Vietnã busca retomar seu programa para atender ao crescimento da demanda.
- Energia solar flutuante no Delta do Mekong, aproveitando terreno e logística portuária de Hanói.
- Hidrogênio verde, com criação de cadeias de produção locais financiadas pelo Banco Europeu de Investimento.
- Substituição de satélite de observação terrestre de 2013, com tecnologia Airbus, e estudo de viabilidade para o ambicioso projeto de trem de alta velocidade (US$ 67 bi) entre Hanói e Cidade de Ho Chi Minh.
ONGs como a Green Future Vietnam exigem estudos de impacto socioambiental rigorosos para proteger comunidades ribeirinhas e evitar deslocamentos, o que pode atrasar licenças.
Tecnologia: construir a economia digital
Para fomentar a economia digital, estão previstos acordos de cooperação em:
- Inteligência artificial e big data, com incubadoras conjuntas em universidades vietnamitas;
- Cibersegurança, para formação de especialistas locais em centros de excelência franco-asiáticos;
- Semicondutores, diante da escassez global, beneficiando-se de investimentos europeus.
Um memorando com a Vietnam National University(Universidade Nacional do Vietnã) garantirá intercâmbio acadêmico e startups incubadas, com aportes estimados em €300 mi até 2028, segundo o Centro Europeu de Estudos Tecnológicos.
Análise de Riscos e Desafios
Apesar das oportunidades, diversos entraves podem comprometer o sucesso dos acordos:
- Burocracia local:
- Processos administrativos no Vietnã, Indonésia e Singapura variam entre províncias e exigem múltiplas aprovações, elevando riscos de atrasos e custos extras.
- Flutuações cambiais:
- Moedas como o dong e a rupia podem se desvalorizar, pressionando contratos de longo prazo denominados em euros ou dólares e demandando renegociações.
- Preocupação ambiental e social:
- Projetos de SMRs e hidrelétricas necessitam de estudos de impacto detalhados. Comunidades do Delta do Mekong podem opor-se a obras que alterem o regime hídrico.
- Resistências políticas e geopolíticas:
- Pressões de Pequim para favorecer fornecedores chineses e eventuais mudanças de governo em Hanói ou Jacarta podem reorientar prioridades, pausando negociações.
Conclusão: promessas e cautela
A visita de Macron reafirma o compromisso de França e Europa com uma abordagem baseada em diálogo e regras, diferenciando-se de práticas coercitivas. Os acordos previstos em defesa, energia e tecnologia têm potencial para fortalecer cadeias produtivas e transferir know-how, mas exigem gestão de riscos, transparência e respeito a impactos socioambientais.
O sucesso desta missão será crucial não apenas para os laços bilaterais, mas também para a projeção de uma política externa europeia mais autônoma no cenário global.
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