
Em discurso no Shangri-La Dialogue, em Singapura, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que o maior risco global hoje é a crescente divisão entre Estados Unidos e China. Para conter essa ameaça à ordem internacional, ele defendeu a formação de coalizões de ação entre França (e Europa) e parceiros do Indo-Pacífico, reforçando cooperação em saúde, clima e direitos humanos.
Contexto e apelo a novas parcerias
- Fim da não-alinhamento: “O tempo para não-alinhamento passou, mas o tempo para coalizões de ação chegou”, afirmou Macron, exortando países capazes a unirem esforços práticos na região.
- Aliança equilibrada: Apesar de reafirmar que “França é amiga e aliada dos EUA”, Macron destacou que Paris também coopera — e por vezes compete — com a China, alertando que “escolher um lado” pode “matar a ordem global”.
Dimensão estratégica e comercial
- Diversificação de cadeias: A visita de Macron ocorre em meio a esforços de Paris e da UE para diversificar parcerias comerciais na Ásia, reduzindo dependência das flutuações de tarifas americanas.
- MoUs bilaterais: Durante a estadia, França e Indonésia assinaram 27 memorandos de entendimento avaliados em US$ 11 bilhões, abrangendo defesa, energia e infraestrutura.
Credibilidade ocidental em xeque
Macron advertiu que, se EUA e Europa não conseguirem resolver rapidamente a crise da Ucrânia, sua credibilidade para agir no Indo-Pacífico ficará comprometida. “Se permitirmos que a Rússia anexe parte da Ucrânia sem reação, como reagiríamos em caso de agressão a Taiwan?”, questionou.
Desafios regionais e coalizões de segurança
- China e Coreia do Norte: Macron pediu que Pequim use sua influência para impedir apoio militar norte-coreano a Moscou, ressaltando que a autonomia estratégica depende de respostas coletivas às tentações coercitivas de potências revisionistas.
- Ausência chinesa: A ausência do ministro de Defesa chinês, Dong Jun, no fórum sinalizou o esfriamento das vias diplomáticas militares entre Pequim e Ocidente.
Reações e controvérsias
- Críticas de Israel: Ao condenar práticas israelenses em Gaza, Macron foi alvo de críticas contundentes de autoridades israelenses, que consideraram desequilibradas suas referências ao conflito no Oriente Médio.
- Apoio do “Quad” e ASEAN: Analistas do IISS e do CSIS avaliam que Japão, Austrália e Índia (o “Quad”) acolhem positivamente a ideia de alianças múltiplas, enquanto países da ASEAN reforçam a necessidade de respeitar a centralidade regional nos processos de cooperação.
Enquadramento europeu
- Estratégia da UE: Em 16 de setembro de 2021, a União Europeia apresentou sua Estratégia para Cooperação no Indo-Pacífico, com sete áreas-prioridade — de transição verde a segurança marítima — e metas como fortalecer acordos de conectividade e cooperação em defesa.
- Rota do comércio: Cerca de 40 % do comércio externo da UE transita pelo Mar do Sul da China, realçando o interesse europeu em manter rotas abertas e uma ordem baseada em regras.
Conclusão
Com seu apelo, Macron busca posicionar França e Europa como facilitadores de um “terceiro caminho” entre as superpotências, promovendo coalizões pragmáticas que preservem a integridade do sistema multilateral e ofereçam aos países do Indo-Pacífico alternativas de parceria além dos blocos polarizados.
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