Macron ressalta risco das divisões EUA-China e propõe coalizões no Indo-Pacífico

Presidente francês Emmanuel Macron discursa no Diálogo de Shangri-La 2025 em Singapura.
O presidente da França, Emmanuel Macron, discursa na abertura do Diálogo de Shangri-La, principal fórum de segurança da Ásia, realizado em Singapura, em 30 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Edgar Su

Em discurso no Shangri-La Dialogue, em Singapura, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que o maior risco global hoje é a crescente divisão entre Estados Unidos e China. Para conter essa ameaça à ordem internacional, ele defendeu a formação de coalizões de ação entre França (e Europa) e parceiros do Indo-Pacífico, reforçando cooperação em saúde, clima e direitos humanos.

Contexto e apelo a novas parcerias

  • Fim da não-alinhamento: “O tempo para não-alinhamento passou, mas o tempo para coalizões de ação chegou”, afirmou Macron, exortando países capazes a unirem esforços práticos na região.
  • Aliança equilibrada: Apesar de reafirmar que “França é amiga e aliada dos EUA”, Macron destacou que Paris também coopera — e por vezes compete — com a China, alertando que “escolher um lado” pode “matar a ordem global”.

Dimensão estratégica e comercial

  • Diversificação de cadeias: A visita de Macron ocorre em meio a esforços de Paris e da UE para diversificar parcerias comerciais na Ásia, reduzindo dependência das flutuações de tarifas americanas.
  • MoUs bilaterais: Durante a estadia, França e Indonésia assinaram 27 memorandos de entendimento avaliados em US$ 11 bilhões, abrangendo defesa, energia e infraestrutura.

Credibilidade ocidental em xeque

Macron advertiu que, se EUA e Europa não conseguirem resolver rapidamente a crise da Ucrânia, sua credibilidade para agir no Indo-Pacífico ficará comprometida. “Se permitirmos que a Rússia anexe parte da Ucrânia sem reação, como reagiríamos em caso de agressão a Taiwan?”, questionou.

Desafios regionais e coalizões de segurança

  • China e Coreia do Norte: Macron pediu que Pequim use sua influência para impedir apoio militar norte-coreano a Moscou, ressaltando que a autonomia estratégica depende de respostas coletivas às tentações coercitivas de potências revisionistas.
  • Ausência chinesa: A ausência do ministro de Defesa chinês, Dong Jun, no fórum sinalizou o esfriamento das vias diplomáticas militares entre Pequim e Ocidente.

Reações e controvérsias

  • Críticas de Israel: Ao condenar práticas israelenses em Gaza, Macron foi alvo de críticas contundentes de autoridades israelenses, que consideraram desequilibradas suas referências ao conflito no Oriente Médio.
  • Apoio do “Quad” e ASEAN: Analistas do IISS e do CSIS avaliam que Japão, Austrália e Índia (o “Quad”) acolhem positivamente a ideia de alianças múltiplas, enquanto países da ASEAN reforçam a necessidade de respeitar a centralidade regional nos processos de cooperação.

Enquadramento europeu

  • Estratégia da UE: Em 16 de setembro de 2021, a União Europeia apresentou sua Estratégia para Cooperação no Indo-Pacífico, com sete áreas-prioridade — de transição verde a segurança marítima — e metas como fortalecer acordos de conectividade e cooperação em defesa.
  • Rota do comércio: Cerca de 40 % do comércio externo da UE transita pelo Mar do Sul da China, realçando o interesse europeu em manter rotas abertas e uma ordem baseada em regras.

Conclusão

Com seu apelo, Macron busca posicionar França e Europa como facilitadores de um “terceiro caminho” entre as superpotências, promovendo coalizões pragmáticas que preservem a integridade do sistema multilateral e ofereçam aos países do Indo-Pacífico alternativas de parceria além dos blocos polarizados.

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