
Em um momento decisivo para a política comercial externa da União Europeia, o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz se reuniram ontem à noite em Berlim, na histórica Villa Borsig, para um “working dinner” centrado nas crescentes tensões tarifárias com os Estados Unidos e no apoio contínuo à Ucrânia.
Contexto e local da reunião
Diferentemente de reportagens iniciais que apontavam Paris como palco do encontro, Macron foi recebido por Merz em Berlim, num jantar de trabalho que teve início por volta das 19h00 locais. O objetivo principal foi traçar uma posição comum da UE diante da ameaça de tarifas de 30% a partir de 1º de agosto, anunciadas pela administração Trump sobre importações europeias — sobretudo em setores como aço, alumínio, automóveis e produtos agrícolas.
Principais pontos da agenda
Resposta unificada aos EUA
- Tarifas de 30%: Ambas as partes avaliaram o impacto imediato sobre as exportações de bens industriais e agrícolas para os EUA.
- Instrumento anti-coação (ACI): França e Alemanha concordaram em reforçar o uso deste mecanismo previsto no protocolo comercial da UE para retaliar, se necessário, incluindo suspensão de propriedade intelectual ou exclusão de empresas norte-americanas de licitações públicas.
- Pacotes de Contramedidas: A Comissão Europeia prepara dois pacotes de retaliação já aprovados, que incidem sobre €93 bilhões de importações norte-americanas (itens como frango, jeans, aviões e bourbon) e um terceiro potencial para serviços digitais — voto no Conselho Europeu previsto para 24 de julho, com imposição apenas após 7 de agosto.
Apoio à Ucrânia
- Além das questões comerciais, Macron e Merz ratificaram hoje o compromisso de apoio militar à Ucrânia, concordando em acelerar o treinamento de pilotos ucranianos nos caças Mirage e sincronizar entregas de equipamentos de defesa.
Futuro do programa FCAS (Future Combat Air System)
- Disputas internas sobre o controle do consórcio (liderado pela Airbus) estiveram na pauta, com França defendendo maior influência sobre as especificações técnicas e Alemanha buscando equilíbrio entre parceiros industriais.
Tensões diplomáticas na OTAN e Oriente Médio
- Merz mencionou suas reservas sobre a redação de uma carta conjunta UE–EUA-Israel, ressaltando divergências sobre a abordagem ao Hamas. Macron, por sua vez, reforçou a necessidade de manter coesão política mesmo em temas sensíveis de segurança.
Divergências e convergências estratégicas
Embora a imprensa tenha destacado um aparente alinhamento crescente entre Paris e Berlim — sobretudo na preparação de retaliações comerciais — persistem nuances:
- França insiste em um tom mais duro e retalias imediatas para proteger indústrias locais e mostrar “respeito aos parceiros” sob ameaça.
- Alemanha mantém ênfase no diálogo diplomático e em um “trade-off” que evite escaladas bruscas, temendo impacto em cadeias de valor integradas.
Ainda assim, a reunião de ontem evidenciou que, em face do deadline de 1º de agosto, o eixo franco-alemão está disposto a apresentar uma frente comum, combinando firmeza (paquetes de contramedidas) com abertura a negociações emergenciais diretamente com Washington.
Próximos passos
- 24 de julho: votação no Conselho de Comércio da UE para autorização dos pacotes de contramedidas.
- 1º de agosto: prazo final para acordo com os EUA; na falta de convergência, entram em vigor as tarifas de 30%.
- Agosto/setembro: nova cúpula franco-alemã em Paris para avaliar os impactos comerciais e alinhar postura na cúpula da OTAN.
Conclusão
A reunião Macron–Merz em Berlim marca um momento crítico de coesão interna na UE, forçada por uma ameaça externa clara. Ao corrigir imprecisões (local e cargo de Merz) e integrar informações de hoje sobre os mecanismos de retaliação, defesa ucraniana e disputas no FCAS, este artigo reflete o estado mais atualizado e confiável dos acontecimentos.
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