Macron e Trump debatem tarifas, crise no Oriente Médio e guerra na Ucrânia na cúpula do G7

O presidente francês Emmanuel Macron e o presidente dos EUA, Donald Trump, apertam as mãos durante reunião na Casa Branca em Washington, em 24 de fevereiro de 2025.
O presidente francês Emmanuel Macron se reúne com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington, D.C., em 24 de fevereiro de 2025. Foto de arquivo: Brian Snyder/Reuters.

Em 16 de junho de 2025, na margem do encontro de líderes do G7 em Kananaskis (Canadá), o presidente francês Emmanuel Macron e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram em profundidade sobre três temas centrais: políticas tarifárias, a escalada de tensão no Oriente Médio e a guerra na Ucrânia. A informação foi confirmada por um alto funcionário do Palácio do Eliseu, que, porém, não divulgou detalhes do teor das negociações.

Contexto da Cúpula do G7

O G7 — composto por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, EUA e a União Europeia — tem enfrentado sérias divergências internas, sobretudo em torno da guerra na Ucrânia, da crise no Oriente Médio e das medidas protecionistas adotadas pelos EUA. Nas vésperas da cúpula, Trump levantou polêmica ao afirmar que a exclusão da Rússia do então G8, em 2014, “foi um erro” e sugerir até mesmo a inclusão de China e Rússia no grupo, minando a coesão tradicional do foro.

Tarifas Comerciais: Ruptura e Retaliações

Desde março de 2025, o governo Trump impôs sobretaxas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio importados da UE e do Canadá, alegando razões de “segurança nacional”. Macron, aliado a Trudeau, classificou tais tarifas como “ilegais” e “unilaterais” e advertiu para possíveis retaliações europeias caso as medidas não fossem revertidas. Durante o encontro, Macron teria reafirmado que essas políticas elevam custos, prejudicam consumidores e violam normas da Organização Mundial do Comércio.

Crise no Oriente Médio: Dificuldade de Convergência

O agravamento do conflito entre Israel e Irã dominou parte dos debates. Trump defendeu negociações bilaterais imediatas entre Teerã e Tel Aviv, postura que contou com apoio verbal de alguns membros do G7, mas que não se traduziu em consenso firmado em comunicado conjunto, justamente pela relutância dos EUA em acatar uma declaração unificada. Macron, por sua vez, alertou para o risco de ações militares sem paralelos canais de diálogo e insistiu na importância de incluir o Irã em discussões multilaterais de construção de confiança.

Guerra na Ucrânia: Sustentando o Compromisso Ocidental

No front ucraniano, o presidente francês enfatizou a necessidade de manter e, se possível, ampliar o apoio político, financeiro e militar a Kiev, diante de avanços russos em algumas frentes e de sinais de cansaço interno nos EUA. Trump, embora tenha condenado a invasão russa, defendeu uma “solução negociada” que contemple concessões territoriais, proposta que preocupa profundamente líderes europeus, pois poderia minar tanto a resistência ucraniana quanto a credibilidade ocidental perante Moscou.

Participação de Zelensky e Impasse no Comunicado Final

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi convidado a participar de parte da cúpula, com o objetivo de receber mais garantias de apoio militar. No entanto, o texto final do G7 ainda não inclui um pronunciamento conjunto claro sobre sanções adicionais à Rússia ou sobre assistência definitiva à Ucrânia, devido à oposição norte-americana a qualquer compromisso que seja interpretado como um ônus fiscal direto para os EUA.

Implicações para a Ordem Multilateral

Esse diálogo discreto entre Paris e Washington reflete dois vetores contraditórios:

  • Soberania Estratégica Europeia: Macron tem reforçado a urgência de a Europa desenvolver autonomia em defesa e comércio, para não depender exclusivamente da aliança transatlântica.
  • America First: Trump segue priorizando medidas que defendam interesses americanos imediatos, mesmo à custa de tensões com aliados históricos.

A incerteza sobre a inclusão de Rússia e China no G7, as divergências sobre anúncios públicos e a ausência de um compromisso comum no comunicado final indicam que a arquitetura de cooperação multilateral enfrenta desafios sem precedentes.

Conclusão

Embora não tenham sido divulgados acordos formais, a reunião à margem do G7 em 16 de junho de 2025 consolida o canal de comunicação franco‑americano mesmo em meio a crescentes desentendimentos. A eficácia desse diálogo, contudo, dependerá das próximas decisões oficiais – seja na flexibilização das tarifas, na formulação de um esforço diplomático coordenado para o Oriente Médio ou na definição de mecanismos de apoio sustentado à Ucrânia. Resta acompanhar os desdobramentos nos comunicados oficiais do G7 e as decisões bilaterais que deverão ser anunciadas nas próximas semanas.

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