Macron reforça influência no Ártico com visita à Groenlândia em 15 de junho

Macron durante coletiva de imprensa conjunta com Lula no Palácio do Eliseu, em Paris, 5 de junho de 2025.
O presidente francês Emmanuel Macron participa de coletiva de imprensa conjunta com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (não visível na imagem), no Palácio do Eliseu, em Paris, em 5 de junho de 2025. Christophe Petit Tesson/Pool via REUTERS

No dia 15 de junho de 2025, o presidente francês Emmanuel Macron desembarca em Nuuk, capital da Groenlândia, para uma visita oficial que marca um novo capítulo na política polar de Paris. Em encontro tripartite com o primeiro-ministro groenlandês Jens-Frederik Nielsen e a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, Macron visa alinhar interesses estratégicos em segurança no Atlântico Norte e no Ártico, fazer avançar agendas climáticas globais, impulsionar a transição energética e fortalecer parcerias para a exploração sustentável de minerais críticos.

Geopolítica do “Gap” GIUK

A Groenlândia se situa no chamado corredor GIUK (Greenlândia–Islândia–Reino Unido), rota historicamente vital para monitoramento de tráfego naval e aéreo no Atlântico Norte. Durante a Guerra Fria, essa passagem foi linha de contenção a submarinos soviéticos; hoje, ressurgem expectativas de uso estratégico por potências como Rússia e China. A visita de Macron sinaliza o interesse francês — e mais amplo da OTAN — em reforçar mecanismos de vigilância e dissuasão na região.

Urgência Climática no Ártico

O Ártico aqueceu até quatro vezes mais rápido que a média global nas últimas décadas, acelerando o derretimento de geleiras, o colapso de permafrost e a elevação do nível do mar. O “Paris Call for Glaciers and Poles”, lançado em novembro de 2023 sob iniciativa de Macron, alerta para consequências potencialmente irreversíveis e convoca países e cientistas a intensificar esforços de mitigação e adaptação.

Transição Energética e Minerais Críticos

Com a descarbonização em pauta, minerais como lítio, cobalto e terras-raras — abundantes na Groenlândia — tornaram-se ativos estratégicos. O domínio chinês em cadeias de suprimentos estimula a França e a União Europeia a diversificar fontes, garantindo insumos para indústrias verdes e de defesa. Debates previstos envolverão modelos de exploração que conciliem aproveitamento econômico, respeito às comunidades locais e preservação ambiental.

Segurança no Atlântico Norte e no Ártico

Além da vigilância navais, a França mantém patrulhas regulares de superfície e submarinas no Atlântico Norte, demonstrando capacidade de projeção de força e compromisso com a aliança ocidental. A integração de Finlândia e Suécia na OTAN fortalece essa dinâmica, criando um bloco de segurança mais coeso para conter eventuais desafios à liberdade de navegação e ao espaço aéreo ártico.

Relações França–Dinamarca–Groenlândia

Mesmo integrando o Reino da Dinamarca, a Groenlândia goza de autonomia reforçada pelo Ato de Autonomia de 2009. Macron deve reconhecer formalmente esse estatuto de autogoverno, ao mesmo tempo em que oferece apoio francês a projetos de infraestrutura, educação e pesquisa polar. O diálogo trilateral busca equilibrar os interesses de Nuuk e Copenhague, reforçando a cooperação histórica e preparando o terreno para parcerias de longo prazo.

Desdobramentos na Política Externa Francesa

A missão à Groenlândia insere-se no “Roteiro Polar” de 2022, que consolida ambições científicas, diplomáticas e militares em polos ártico e antártico. Ao reforçar sua presença no Conselho do Ártico e nos fóruns multilaterais de clima e segurança, a França projeta-se como ator global capaz de articular respostas coletivas a desafios emergentes — do derretimento das calotas ao acesso responsável a recursos naturais.

Conclusão

A visita de Macron à Groenlândia transcende formalidades protocolares. Trata-se de um esforço coordenado para posicionar a França na vanguarda da governança do Ártico, unindo dimensões geopolíticas, ambientais e econômicas. Em um cenário de intensificação das disputas por território, recursos e rotas marítimas, Paris aposta em alianças robustas e iniciativas conjuntas para moldar o futuro de uma das regiões mais sensíveis — e estratégicas — do planeta.

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