
Em 22 de junho de 2025, quando o conflito entre Irã e Israel entrava em seu décimo dia e há relatos de ataques coordenados dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas, o Primeiro-Ministro indiano Narendra Modi recebeu um telefonema do Presidente iraniano Masoud Pezeshkian. A conversa, divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Índia, ocorreu num momento de crescente tensão: os EUA haviam lançado bombardeios sobre Fordow, Natanz e Isfahan em resposta ao programa nuclear iraniano; o Irã, por sua vez, ameaçava retaliações e considerava o fechamento do Estreito de Ormuz, via essencial para o comércio global de petróleo.
A Ligação Telefônica
Durante a chamada, Pezeshkian atualizou Modi sobre a situação no terreno e detalhou o impacto das recentes operações aéreas. Narendra Modi ressaltou a urgência de um “desescalonamento imediato” e defendeu que diálogo e diplomacia sejam os instrumentos prioritários para preservar a paz regional. O comunicado oficial afirmou ainda que o líder indiano “reiterou o apoio da Índia à rápida restauração da paz, segurança e estabilidade” no Oriente Médio.
Posicionamento da Índia
A diplomacia indiana mantém há décadas uma postura de não-alinhamento ativo, procurando equilibrar interesses entre grandes potências e atores regionais. Nesta crise, Nova Délhi evita adotar uma posição direta de hostilidade ou apoio incondicional a qualquer lado, enfatizando sempre a soberania dos Estados e a solução pacífica de controvérsias em fóruns multilaterais.
Interesses Estratégicos da Índia
Além do imperativo de estabilidade global, a Índia possui investimentos cruciais no Irã, como o porto de Chabahar e a Rodovia Internacional Norte-Sul (INSTC), rotas que prometem conectar o Sul da Ásia à Ásia Central sem passar pelo Paquistão. Modi busca garantir que essas ligações permaneçam livres de sanções secundárias americanas e de qualquer retaliação iraniana que possa comprometer a logística e o fornecimento de energia.
Visão do Irã
Para Teerã, envolver a Índia no diálogo representa não só um canal para expor sua narrativa, mas também uma forma de mitigar o isolamento provocado pelas sanções ocidentais. Pezeshkian elogiou o papel da Índia como interlocutora neutra, ressaltando que Nova Délhi mantém relações econômicas e históricas estáveis com todos os atores regionais.
Implicações Regionais
Se a mediação indiana avançar, poderá surgir um mecanismo indireto de comunicação entre Teerã e Tel Aviv, caso falhem outras iniciativas como as do Quarteto do Oriente Médio e do Conselho de Cooperação do Golfo. Um cessar-fogo formal, ainda que temporário, evitaria não só um conflito terrestre de grande escala, mas também a interrupção prolongada do tráfego no Estreito de Ormuz, cujas consequências afetariam diretamente os preços do petróleo e a economia global.
Repercussões Globais
O engajamento de Nova Délhi reforça a imagem da Índia como potência moderadora no cenário internacional. Ao optar pela via diplomática, Modi projeta “soft power” e fortalece sua argumentação por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Além disso, a postura indiana pode inspirar outros países em desenvolvimento a atuarem como facilitadores em crises internacionais.
Desafios e Limites
A eficácia dessa diplomacia enfrenta obstáculos complexos:
- Pressão externa: Washington pode cobrar de Nova Délhi uma postura mais rígida contra o Irã, tensionando a relação bilateral.
- Falta de confiança mútua: Teerã e Tel Aviv se acusam de violações graves de soberania e atacam-se sem mediação.
- Atores não-estatais: Hezbollah e grupos jihadistas na Síria introduzem variáveis difíceis de controlar por vias clássicas de negociação.
Possíveis Cenários Futuros
- Cenário Pessimista: As hostilidades se renovam, ampliando-se para conflitos terrestres e envolvendo Arábia Saudita, Turquia e potências externas, com impacto severo nos mercados de energia e financeiros.
- Cenário Otimista: A diplomacia indiana viabiliza um cessar-fogo de curto prazo, criando espaço para negociações multilaterais lideradas pela ONU ou pelo Irã e Israel diretamente.
Conclusão
A chamada entre Modi e Pezeshkian marca um esforço significativo de Nova Délhi para operar como mediador em uma das crises mais graves do Oriente Médio nos últimos anos. Ao advogar por diálogo e rechaçar a escalada militar, a Índia reafirma seu compromisso com a paz internacional, embora dependa da vontade das partes envolvidas e do suporte de atores multilaterais para converter retórica em resultados tangíveis.
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