“Horror no Sudão não conhece limites”, diz ONU, enquanto mortes em Darfur disparam

Mulher sudanesa deslocada, acompanhada de crianças, caminha em um campo de refugiados perto da cidade de Tawila, em Darfur do Norte, em 11 de fevereiro de 2025, durante a guerra em andamento entre o exército e as forças paramilitares.
Mulher deslocada do Sudão caminha com seus filhos em um campo próximo à cidade de Tawila, no norte de Darfur, em meio à escalada do conflito entre o exército e as forças paramilitares, em 11 de fevereiro de 2025. / Al Jazeera

Nos últimos três semanas, 542 civis foram mortos na região de Darfur-Norte, enquanto as forças paramilitares do Rapid Support Forces (RSF) intensificam sua ofensiva contra a capital regional, el-Fasher. O alerta foi feito por Volker Türk, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que qualificou a situação como um “horror sem limites” e advertiu que o número real de vítimas pode ser ainda maior.

Contexto do conflito

  • Início da guerra civil: abril de 2023, entre o Exército Sudanês (SAF) e o RSF;
  • Vítimas até hoje: dezenas de milhares de mortos e mais de 12 milhões de deslocados internos;
  • Centros de combate em Darfur: el-Fasher, campos de refugiados de Zamzam e Abu Shouk;
  • Movimentação de civis: fuga de centenas de milhares rumo a Tawila, a cerca de 60 km pelo deserto.

Darfur tornou-se epicentro de uma crise que a ONU já definiu como a pior emergência humanitária do mundo. A campanha do RSF para tomar el-Fasher e suas imediações tem gerado execuções sumárias, bombardeios de áreas civis e graves violações do direito internacional humanitário.

Impacto humanitário

Organizações de direitos humanos e ONGs no terreno relatam:

  • Falta de acesso a água potável e alimentos;
  • Colapso dos serviços básicos de saúde;
  • Risco de epidemias em campos improvisados;
  • Crianças e mulheres entre as principais vítimas.

“A situação em Darfur é catastrófica: famílias inteiras estão sem abrigo, sem comida e sem perspectiva de segurança”, afirma um coordenador de uma ONG internacional que atua na região.

Violência e violações de direitos

Além dos ataques diretos, há registros de:

  1. Execuções extrajudiciais em Omdurman e arredores de Khartoum, com vídeos que mostravam homens de roupa civil sendo fuzilados por combatentes do RSF;
  2. Reconhecimento dos assassinatos por um comandante de campo do RSF, segundo o Alto Comissário Türk;
  3. Retaliações contra supostos colaboradores de uma das partes, cometidas pela Brigada Al-Baraa Bin Malik, grupo pró-SAF.

Türk alertou os líderes Abdel Fattah al-Burhan (SAF) e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo (RSF) para as consequências catastróficas desses crimes e enfatizou que “já passou da hora de este conflito cessar”.

Perspectivas militares e diplomáticas

  • O RSF avança também em al-Nahud (West Kordofan), porta de entrada para Darfur, ameaçando isolar ainda mais as tropas do SAF na região.
  • Para o Exército sudanês, retomar el-Fasher é crucial para romper o cerco e recuperar influência em Darfur.
  • Analistas de segurança internacional apontam que a vitória em el-Fasher poderá redefinir o equilíbrio de poder no confronto, hoje dividido entre norte/leste (SAF) e Darfur/sul (RSF).

Segundo Hiba Morgan, da Al Jazeera, “ambos os lados veem Darfur como estratégico: o SAF para provar que ainda controla o país; o RSF para consolidar sua autonomia e barganhar politicamente” (Morgan, 30 abr. 2025).

Conclusão

O ciclo de violência, deslocamento massivo e crueldade contra civis em Darfur reforça a urgência de um cessar-fogo imediato e de um robusto esforço humanitário. A comunidade internacional, liderada pela ONU, deve pressionar por:

  • Corredores seguros para ajuda emergencial;
  • Monitoramento independente das violações de direitos humanos;
  • Negociações mediadas para um acordo de paz que inclua proteção efetiva à população civil.

Sem uma ação coordenada e urgente, o “horror sem limites” descrito pela ONU continuará a se agravar, aprofundando a maior crise humanitária do século.

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