Yoweri Museveni busca reeleição aos 80 anos: análise do legado, das reformas e da percepção popular

Presidente de Uganda Yoweri Museveni discursando no Estado da Nação 2025 em Kololo Ceremonial Grounds, Kampala.
Presidente Yoweri Museveni durante o discurso do Estado da Nação de 2025, realizado em 5 de junho no Kololo Ceremonial Grounds, em Kampala, Uganda./ Reuters

O presidente de Uganda, Yoweri Museveni, de 80 anos, anunciou oficialmente sua intenção de concorrer à presidência em janeiro de 2026, buscando estender seu governo iniciado em 1986 para quase meio século. Esta articulação examina as bases legais que viabilizam sua candidatura, o impacto de suas políticas no desenvolvimento socioeconômico do país e a forma como os cidadãos percebem sua gestão, à luz de dados recentes.

Contexto Constitucional e Legal

  • Limite de mandatos: Em 2005, o parlamento ugandense aboliu o limite de dois mandatos presidenciais, permitindo que Museveni concorresse indefinidamente.
  • Limite de idade: Em dezembro de 2017, os deputados removeram o teto de 75 anos para candidatos à presidência, garantindo a habilitação de Museveni, então com 73 anos, para as eleições seguintes.
  • Permanência no poder: Essas emendas, impulsionadas pelo partido NRM (National Resistance Movement), consolidaram um quadro legal que favorece a continuidade de Museveni, embora críticos demonstrem preocupação com o enfraquecimento da alternância democrática.

Conquistas e Políticas de Museveni

Crescimento Econômico

  • A economia de Uganda cresceu em média 6,1% ao ano entre 1986 e 2019, com o PIB ampliando-se de 14,4 trilhões de xelins para 128,5 trilhões no mesmo período.
  • Iniciativas como o Parish Development Model (PDM) e o programa Emyooga facilitaram acesso a capital e capacitação empresarial, beneficiando sobretudo a população rural e jovem.

Infraestrutura e Energia

  • Projetos hidrelétricos, como as usinas de Isimba (2019) e Karuma (600 MW, inaugurada em 2024), elevaram a capacidade de geração a mais de 2 000 MW, expandindo o acesso à eletricidade de 5,6% (1991) para 42% da população.
  • A malha rodoviária pavimentada cresceu de 1 000 km em 1986 para 5 500 km em 2019, melhorando a integração regional.

Saúde e Educação

A educação primária gratuita, implementada em 1997, ampliou a matrícula de crianças e reduziu o analfabetismo.

Museveni liderou campanhas de combate ao HIV/Aids, reduzindo a prevalência de 28% (década de 1980) para abaixo de 5% no início de 2020, através da estratégia “ABC” (Abstinência, Fidelidade, Camisinha).

A expectativa de vida subiu de 48 anos (1995) para 63 anos (2017) e a mortalidade materna caiu de 506 para 336 por 100 000 nascidos vivos (2016).

Percepção Popular

  • Confiança e aprovação: Segundo pesquisa Afrobarometer de 2024, 62% dos ugandenses confiam “um pouco” ou “muito” em Museveni, e 68% aprovam seu desempenho, apesar de 84% enxergarem corrupção em seu gabinete.
  • Segurança e estabilidade: Programas de pacificação regional e o papel ativo das Forças de Defesa (UPDF) reforçam a sensação de segurança, ganhando apoio numa população que valoriza a estabilidade em um contexto de conflitos nos países vizinhos.
  • Insatisfação democrática: Embora 54% demonstrem compromisso pleno com a democracia, apenas 43% consideram que Uganda fornece uma “democracia satisfatória”, reflexo de desconfiança nas instituições políticas.

Desafios e Perspectivas

  • Sustentabilidade das metas: A proposta de elevar o PIB a US$ 500 bilhões em cinco anos é vista como ambiciosa, exigindo maior atração de investimentos e combate efetivo à corrupção.
  • Alternância de poder: O desgaste de práticas autoritárias—como uso de tribunais militares para civis—e a mobilização juvenil sob a liderança de Bobi Wine indicam pressões por renovação política.
  • Contexto regional: A política de parcerias estratégicas, incluindo com a China e a Rússia, traz recursos, mas também expõe Uganda a dependências externas e riscos geopolíticos.

Conclusão

Yoweri Museveni transita entre o papel de estadista fundador de muitas das estruturas modernas de Uganda e o de dirigente com quase quatro décadas no poder, apoiado por uma base que valoriza estabilidade e progresso material. As reformas constitucionais que permitiram sua reeleição, somadas aos avanços em infraestrutura, saúde e educação, explicam parte de sua longevidade política. Ao mesmo tempo, a crescente insatisfação com a qualidade da democracia e a percepção de corrupção revelam tensões que poderão influenciar decisivamente o pleito de 2026.

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