Crise Política no Nepal: Jovens Protestam, Parlamento é Dissolvido e Sushila Karki Assume como Primeira-Ministra Interina

Sushila Karki, ex-presidente do Supremo Tribunal do Nepal e primeira-ministra interina, em reunião ao ar livre com um representante diplomático.
Sushila Karki discute assuntos políticos e de governança em encontro ao ar livre com um diplomata, em um momento histórico de sua nomeação como primeira-ministra interina do Nepal.

O Nepal atravessa um período de turbulência política sem precedentes. Após uma semana de intensos protestos liderados por jovens, que resultaram na morte de pelo menos 51 pessoas, o país enfrenta uma crise institucional profunda. O presidente Ram Chandra Poudel dissolveu o parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Em meio a esse cenário, Sushila Karki, ex-presidente do Supremo Tribunal, foi nomeada primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo no Nepal.

O Estopim: Protestos Anticorrupção

A crise teve início com a imposição de uma proibição temporária das redes sociais, medida que gerou indignação entre os jovens nepaleses. A insatisfação se transformou em protestos em massa, conhecidos como os “protestos da Geração Z”, que denunciaram a corrupção, o nepotismo e a falta de oportunidades. As manifestações culminaram em confrontos violentos com as forças de segurança, resultando na morte de pelo menos 51 pessoas, incluindo manifestantes e policiais. O primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou em meio à pressão popular, e o parlamento foi dissolvido.

Sushila Karki: Trajetória e Nomeação

Sushila Karki, nascida em 7 de junho de 1952, é uma jurista respeitada por sua postura firme contra a corrupção. Formada em Direito pela Tribhuvan University, no Nepal, e com mestrado em Ciência Política pela Banaras Hindu University, na Índia, Karki iniciou sua carreira jurídica como advogada. Em 2016, foi nomeada presidente do Supremo Tribunal do Nepal, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo. Durante seu mandato, ficou conhecida por suas decisões independentes e por processar altos funcionários do governo e da polícia por corrupção. Sua postura a colocou em rota de colisão com o establishment político, levando a uma tentativa de impeachment que foi abandonada após pressão pública. Eventualmente, ela renunciou ao cargo.

Em 12 de setembro de 2025, após a renúncia de Oli e a dissolução do parlamento, Karki foi nomeada primeira-ministra interina pelo presidente Poudel. Sua nomeação foi respaldada por representantes dos protestos da Geração Z, que a viam como uma líder íntegra e capaz de restaurar a ordem e combater a corrupção. Karki assumiu o cargo com o compromisso de conduzir o país até novas eleições e implementar reformas estruturais.

Dissolução do Parlamento e Convocação de Eleições

Uma das primeiras ações de Karki como primeira-ministra foi recomendar a dissolução da Câmara dos Representantes. O presidente Poudel acatou a recomendação, e novas eleições foram agendadas para 5 de março de 2026. Essa decisão visa restaurar a legitimidade democrática e permitir que a população escolha seus representantes em um processo eleitoral transparente.

Impactos Econômicos e Sociais

A crise política afetou significativamente a economia nepalesa. O turismo, setor vital para o país, sofreu uma queda acentuada devido à instabilidade. Além disso, a confiança dos investidores estrangeiros foi abalada, resultando em uma desvalorização da moeda local e aumento da inflação. A juventude, principal força motriz dos protestos, enfrenta altas taxas de desemprego e falta de perspectivas, o que agrava a tensão social.

Desafios e Perspectivas

A nomeação de Karki representa uma tentativa de restaurar a ordem e a confiança nas instituições. No entanto, sua liderança enfrenta desafios significativos. A constituição nepalesa tradicionalmente impede que juízes aposentados assumam cargos executivos, a menos que explicitamente permitido. A falta de precedentes legais claros para sua nomeação pode gerar desafios jurídicos no futuro. Além disso, a implementação de reformas anticorrupção exigirá coragem política e apoio popular.

A sociedade civil e organizações internacionais estão acompanhando atentamente os próximos passos do governo nepalês, pressionando por um processo eleitoral transparente e por medidas concretas de combate à corrupção. A liderança de Sushila Karki será, portanto, fundamental para garantir que o país não apenas atravesse a crise, mas também avance rumo a um sistema político mais inclusivo e eficiente.

Conclusão

O Nepal vive um momento crítico de sua história, em que a pressão popular por justiça e transparência confronta as limitações institucionais do país. A nomeação de Sushila Karki como primeira-ministra interina representa não apenas um marco histórico pela representação feminina, mas também uma oportunidade de promover reformas e restaurar a confiança nas instituições democráticas. O sucesso de sua gestão temporária dependerá de sua capacidade de equilibrar demandas sociais, desafios jurídicos e estabilidade política, preparando o terreno para eleições livres e um Nepal mais resiliente e transparente.

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