
Em meio à escalada do conflito em Gaza, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu criticou duramente os líderes da França, do Reino Unido e do Canadá, acusando-os de “estarem do lado errado da história” e de embelezar (embolden) o grupo Hamas ao pressionarem Israel por um cessar-fogo imediato e pela remoção das restrições humanitárias. Para Netanyahu, essa postura “recompensa” o Hamas e incentiva novos ataques contra o Estado judeu.
Contexto da ofensiva israelense em Gaza
Desde o ataque surpresa de 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 mortos em Israel, Israel lançou a operação “Carros de Gedeão” em Gaza. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, entre 7 de outubro de 2023 e 14 de maio de 2025, 52.928 palestinos foram mortos e 119.846 ficaram feridos, incluindo milhares de mulheres e crianças.
A intensificação em março de 2025 agravou ainda mais o quadro: somente entre 18 de março e 14 de maio, foram 2.799 mortos e 7.805 feridos no enclave.
Pressão internacional e pedido de “ação concreta”
Em 19 de maio de 2025, o presidente Emmanuel Macron, o primeiro-ministro Keir Starmer e o primeiro-ministro Justin Trudeau emitiram declaração conjunta cobrando:
- Suspensão imediata da ofensiva atual;
- Abertura total dos corredores humanitários;
- Disposição para sanções contra Israel, caso não acate as condições.
Apesar de não exigirem o “fim total” da operação, o recuo destas potências foi visto por Netanyahu como um estímulo ao Hamas, pois as sanções visariam apenas ao governo israelo, e não ao grupo terrorista.
A reação de Netanyahu: “lado errado da humanidade”
Netanyahu publicou vídeo na plataforma X afirmando que, ao fazerem tais exigências, os líderes ocidentais estariam:
- “Reforçando o moral” do Hamas para “continuar lutando para sempre”.
- “Recompensando assassinos” com a perspectiva de um segundo Estado palestino controlado pelo grupo.
“Vocês estão do lado errado da humanidade e do lado errado da história.”
Ele também relacionou o grito “Free Palestine”(“Palestina Livre”) — proferido pelo autor do atentado que matou dois funcionários da embaixada israelense em Washington — ao mesmo chant do Hamas em 7 de outubro.
Crise humanitária: bloqueio e retomada parcial de ajuda
Desde 2 de março, Israel impôs bloqueio total à Faixa de Gaza, suspendendo completamente a entrada de suprimentos. Após quase três meses, apenas 198 caminhões conseguiram cruzar a fronteira e 90 chegaram aos pontos de distribuição neste fim de semana.
Organizações como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Médicos Sem Fronteiras alertam para o risco de colapso sanitário, visto que apenas 19 dos 36 hospitais da região operam parcialmente e há escassez crítica de combustível e insumos básicos.
Vozes do terreno: depoimentos e dados de ONGs
- Cruz Vermelha: “A proibição de entrada de insumos médicos pode configurar violação dos princípios humanitários fundamentais.”
- Médicos Sem Fronteiras: “Vemos crianças desidratadas, famílias inteiras sem acesso a remédios essenciais — um sofrimento evitável.”
- Morador de Gaza (anonimizado): “Não temos ferramenta, não temos remédio, dormimos com o medo das bombas; a fome é pior que a guerra.”
Análise jurídico-humanitária
- Convenções de Genebra (1949): prevêem a obrigação de proteger civis e garantir acesso livre a socorro humanitário.
- Estatuto de Roma (CPI): tipifica como crime de guerra a obstrução deliberada de ajuda a populações em conflito armado.
Juristas apontam que tanto o bloqueio prolongado quanto ataques a infraestruturas civis podem sujeitar responsáveis a processos na Corte Penal Internacional.
Geopolítica e cenários futuros
- Reconhecimento de Estado Palestino: França e Reino Unido podem avançar, pressionando pelo modelo de dois-Estados — o que Israel classifica como “ameaça existencial”.
- Porão árabe e regional: Egito e Turquia atuam como mediadores, mas Irã e grupos aliadas reforçam apoio ao Hamas.
- Diplomacia americana: embora tradicional aliada de Israel, os EUA sob Trump têm buscado um meio-termo, pressionando por liberação de reféns e cessar-fogo limitado.
Conclusão
A acusação de Netanyahu cristaliza o dilema central do conflito: a busca de segurança nacional versus o imperativo de proteção humanitária. As tensões entre direitos soberanos e obrigações internacionais deverão moldar tanto o desfecho imediato em Gaza quanto o futuro do processo de paz no Oriente Médio.
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