
A Coreia do Norte realizou, em 11 de agosto, exercícios de morteiros em resposta direta aos próximos exercícios militares conjuntos Ulchi Freedom Shield (UFS), programados por Estados Unidos e Coreia do Sul de 18 a 28 de agosto de 2025. Pyongyang advertiu que, se as manobras prosseguirem, haverá “consequências negativas”, acusando os aliados de preparar uma invasão.
O exercício de morteiros
De acordo com a agência estatal norte-coreana KCNA, subunidades de artilharia tática participaram de um concurso de tiro, atingindo múltiplos alvos simulados. As manobras ocorreram sob supervisão de altos oficiais militares, entre eles Pak Jong Chon e Ri Yong Gil, sem menção à presença do líder Kim Jong-un.
Embora Pyongyang não tenha divulgado os modelos utilizados, o arsenal norte-coreano inclui cerca de 7.500 morteiros em serviço, segundo estimativas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). Entre os sistemas conhecidos estão:
- Morteiros portáteis de 60 mm, como variantes do Type 63, com alcance efetivo de cerca de 2 km.
- Morteiros pesados de 120 mm, integrados em sistemas autopropulsados como o M-1992, montado em chassis VTT-323, capazes de alcançar até 8–9 km.
Essas peças são fundamentais no conceito de guerra do Norte, oferecendo mobilidade e capacidade de saturação contra alvos próximos à fronteira.
Os exercícios Ulchi Freedom Shield
O UFS é um exercício anual de defesa que combina simulações de comando com treinamentos de campo, envolvendo dezenas de milhares de militares. O objetivo, segundo Seul e Washington, é reforçar a interoperabilidade e a prontidão de resposta a ameaças norte-coreanas.
Para este ano, os exercícios principais seguem confirmados para 18 a 28 de agosto, mas 20 de 40 eventos de campo foram remarcados para setembro, decisão atribuída ao calor extremo e à intenção de distribuir a prontidão ao longo do ano. Não houve cancelamento.
Sinais de distensão na fronteira
Apesar do tom duro das declarações, houve um gesto simbólico de redução de tensões: Pyongyang iniciou a retirada de alto-falantes de propaganda na fronteira, dias após a Coreia do Sul desmontar seus próprios sistemas sonoros. A medida foi tomada pelo governo do presidente sul-coreano Lee Jae-myung, eleito em junho, como parte de um esforço para diminuir atritos visuais e auditivos entre os dois lados.
O fator No Kwang-chol
O ministro da Defesa norte-coreano No Kwang-chol, reinstalado no cargo em 2024, tem sido a voz mais dura contra os exercícios aliados. Foi dele a advertência recente de que o UFS representa uma “provocação militar direta” e que Pyongyang responderá com “contramedidas resolutas”. Seu histórico de linha dura sugere que o tom ameaçador deve se manter ao longo do mês.
Glossário
- DMZ (Zona Desmilitarizada): faixa de aproximadamente 4 km de largura que separa as duas Coreias desde 1953, estabelecida pelo Armistício. É uma das áreas mais militarizadas do mundo, com zonas de amortecimento que limitam exercícios e voos.
- NLL (Northern Limit Line): linha marítima de controle no Mar Amarelo, traçada pela ONU e EUA após o armistício, não reconhecida pela Coreia do Norte. É ponto frequente de disputas navais.
Cenários para as próximas semanas
- Continuidade com retaliação controlada — A realização do UFS provavelmente levará Pyongyang a conduzir novos testes de mísseis de curto alcance ou mais exercícios de artilharia, mantendo a lógica de “ação–reação”.
- Gestos limitados de distensão — A retirada dos alto-falantes pode abrir espaço para acordos tácitos de redução de risco, como canais de comunicação temporários durante o UFS.
- Risco de incidente — A sobreposição de manobras militares perto de fronteiras terrestres e marítimas aumenta a probabilidade de um erro de cálculo ou confronto acidental.
Conclusão
A Península Coreana vive um momento de sinais contraditórios: demonstrações militares e ameaças retóricas coexistem com pequenos gestos de distensão. A realização do UFS, mesmo com ajustes, será um teste para a capacidade das partes de evitar que a tradicional dinâmica de provocação e resposta descambe para um incidente grave.
Enquanto não houver canais diplomáticos sólidos, cada exercício, tiro de morteiro ou movimento naval continuará sendo interpretado pelo outro lado como possível prelúdio de conflito.
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