Tensões Geopolíticas e Investimentos Estratégicos: A Noruega, seu Fundo Soberano e a Expansão da Rokos Capital no Oriente Médio

Três caças F-16 da Força Aérea Israelense alinhados em pista de aeroporto com pilotos e técnicos próximos, com colinas verdes ao fundo.
Três caças F-16 da Força Aérea Israelense posicionados na pista de decolagem, com pilotos e técnicos realizando preparativos em uma base aérea cercada por colinas verdes.

Em um contexto global onde finanças e geopolítica se entrelaçam cada vez mais, decisões de grandes fundos soberanos e gestoras financeiras espelham não apenas a busca por retorno, mas também os valores éticos e interesses nacionais. Recentemente, a Noruega ordenou uma revisão de seu Government Pension Fund Global — o maior fundo soberano do mundo — após revelações sobre investimentos em uma empresa fornecedora de componentes para caças militares israelenses. No mesmo movimento de realinhamento estratégico, a gestora Rokos Capital Management, com US$ 22 bilhões sob gestão, anunciou a abertura de um escritório em Abu Dhabi no início de 2026, ampliando sua presença no Oriente Médio.

O Fundo Soberano Norueguês e a Revisão Ética

  • Histórico de Investimentos Éticos
    A postura do Fundo Soberano Norueguês em relação a investimentos socialmente responsáveis não é novidade. Desde meados dos anos 2000, o fundo adota rigorosos critérios de exclusão, evitando empresas ligadas a violações de direitos humanos, corrupção, armas controversas e danos ambientais severos. Essa abordagem consolidada visa alinhar os investimentos ao compromisso ético da Noruega, reconhecida internacionalmente pela promoção da paz e direitos humanos. Assim, a revisão atual não é um episódio isolado, mas o reflexo de uma política contínua e estratégica que busca conciliar retorno financeiro com responsabilidade social.
  • Tamanho e Mandato
    Com cerca de US$ 1,9 trilhão em ativos, o Government Pension Fund Global zela pela rentabilidade de longo prazo e pela conformidade a critérios éticos, ambientais e de direitos humanos.
  • Revelação e Decisão de Revisão
    Uma reportagem do jornal Aftenposten apontou que o fundo havia elevado sua participação na Bet Shemesh Engines Ltd. — fornecedora de serviços para motores de caças da Força Aérea Israelense — de 1,3% em 2023 para 2,09% ao fim de 2024, equivalente a cerca de US$ 15,2 milhões. O primeiro-ministro Jonas Gahr Støre classificou o investimento como “preocupante” e determinou uma revisão abrangente dos ativos relacionados a Israel pela Norges Bank Investment Management.
  • Atuação do Conselho de Ética
    O Conselho de Ética do fundo admitiu ter subestimado riscos Reputacionais ao não sinalizar a Bet Shemesh Engines para exclusão imediata. Atualmente, avalia-se o desinvestimento de empresas que contribuam para a ocupação de territórios palestinos ou o conflito em Gaza.
  • Portfólio Israelense
    Até o final de 2024, o fundo detinha cerca de US$ 1,95 bilhão investidos em 65 empresas israelenses. Já houve desinvestimentos de setores de energia e telecomunicações ligados a assentamentos, e cinco bancos israelenses estão sob análise para possível exclusão.

Geopolítica, Ética e Desafios para Investidores

A decisão norueguesa ilustra o desafio de conciliar:

  1. Retorno Financeiro: manter a solidez patrimonial para as futuras gerações de contribuintes noruegueses.
  2. Valores Éticos: aliar investimentos a padrões internacionais de direitos humanos e evitar associações a conflitos armados.
  3. Riscos Reputacionais: prevenir boicotes e pressões de grupos sociais que exigem transparência e coerência diplomática.

Em regiões sensíveis como o Oriente Médio, investidores institucionais precisam de mecanismos robustos de compliance e monitoramento contínuo para ajustar rapidamente seus portfólios a desenvolvimentos políticos.

A Expansão da Rokos Capital em Abu Dhabi

  • Dados da Operação
    A Rokos Capital Management, fundada por Chris Rokos e com US$ 22 bilhões sob gestão, planeja inaugurar seu novo escritório em Abu Dhabi no primeiro trimestre de 2026. A filial será liderada por Chris Irish, que se mudará de Londres para chefiar as operações na região .
  • Funções e Foco Local
    O hub oferecerá suporte a investimentos, trading, gestão de risco, relações com investidores, operações e compliance. A presença física visa estreitar laços com investidores locais e soberanos, além de acelerar decisões em um mercado de alta volatilidade política e econômica.
  • Tendência Regional e Impacto Geopolítico
    A entrada da Rokos segue o movimento de outros grandes gestores — como DWS, PGIM, Nuveen, Ashmore, Barings e Fiera Capital — que vêm expandindo suas operações no Golfo Árabe, atraídos pelo ambiente regulatório favorável, incentivos fiscais e crescente patrimônio de famílias e fundos soberanos locais. Esse influxo de capital estrangeiro em Abu Dhabi pode fortalecer a capital dos Emirados Árabes Unidos como centro financeiro regional, ao mesmo tempo que intensifica a competição econômica e política entre os países vizinhos, especialmente a Arábia Saudita e o Qatar. Esse equilíbrio de poder econômico, embora promova desenvolvimento, também exige habilidade diplomática para mitigar tensões históricas entre esses atores, refletindo diretamente no ambiente de negócios e investimentos.
  • Desafios e Riscos para Rokos Capital
    Apesar das oportunidades, operar no Oriente Médio apresenta riscos significativos para a Rokos Capital. Instabilidades políticas regionais — como conflitos armados esporádicos, tensões sectárias e disputas territoriais — podem impactar a segurança e a estabilidade dos investimentos. Além disso, o ambiente regulatório local, ainda em evolução, pode impor barreiras burocráticas e exigir adaptações contínuas. Tensões diplomáticas, como as relacionadas ao bloqueio entre alguns países do Golfo e o Irã, ou mudanças repentinas nas políticas de investimento estrangeiro, também representam desafios que demandam gestão de risco rigorosa e estratégia de longo prazo.

Implicações Futuras

  • Para a Noruega:
    A revisão do fundo soberano pode resultar em diretrizes ainda mais rigorosas para exclusão de empresas, servindo de benchmark global em investimento responsável.
  • Para Gestoras Globais:
    A abertura em Abu Dhabi reforça a importância estratégica do Oriente Médio como polo financeiro emergente. A convivência com riscos geopolíticos exige due diligence ágil e parcerias locais sólidas.
  • Para Investidores e Reguladores:
    A combinação de responsabilidade social, sustentabilidade e análise geopolítica aprofundada deve se tornar padrão em grandes carteiras institucionais, sob pena de perdas financeiras e de imagem.

Conclusão


Os eventos recentes demonstram que, na esfera dos investimentos internacionais, a consonância entre ética e estratégia é imperativa. Enquanto a Noruega ajusta seus critérios para manter a integridade de seu maior fundo soberano, a Rokos Capital capitaliza oportunidades no Oriente Médio, em uma região que, apesar das tensões, oferece dinamismo e diversificação para carteiras globais.

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