OTAN busca salto quântico de 400% em defesa aérea e antimísseis

Mark Rutte fala em coletiva de imprensa na sede da OTAN em Bruxelas, em 4 de junho de 2025.
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, durante coletiva de imprensa na véspera da reunião dos ministros da Defesa da aliança, em Bruxelas, Bélgica, 4 de junho de 2025. Foto: REUTERS/Yves Herman

Em discurso nesta segunda-feira (9 de junho de 2025) no think tank Chatham House, em Londres, o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, reclamará um aumento de 400% nas capacidades de defesa aérea e antimísseis dos países-membros. A proposta integra o cerne da agenda para a cúpula da aliança, marcada para 24 e 25 de junho em Haia, visando assegurar uma dissuasão credível em face das ameaças russas evidenciadas no conflito ucraniano.

Urgência estratégica

Rutte destaca que as operações aéreas russas na Ucrânia têm sido usadas como instrumento de terror, atingindo alvos civis e militares. “Vimos na Ucrânia como a Rússia inflige terror do alto; fortaleceremos o escudo que protege nossos céus”, afirmará, ressaltando que tais perigos persistirão mesmo após o eventual fim das hostilidades. Ele enfatiza a necessidade de um “salto quântico” nas capacidades defensivas coletivas para manter a credibilidade da OTAN.

Repercussões e posições de atores

O apelo de Rutte também responde à pressão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que defende que os aliados elevem os gastos militares para 5% do PIB. Rutte propõe que 3,5% sejam destinados à defesa propriamente dita e 1,5% a gastos correlatos de segurança, alinhando-se à demanda norte-americana.

Moscou reagiu classificando o plano como “confrontacional”. O porta-voz Dmitry Peskov afirmou que a suposta “ameaça russa” é usada para justificar despesas militares desnecessárias, que serão custeadas pelos contribuintes europeus.

Panorama europeu

Atualmente, apenas 22 dos 32 membros da OTAN cumprem a meta mínima de 2% do PIB em defesa. O Reino Unido comprometeu-se a aumentar o orçamento para 2,5% até 2027, com meta posterior de 3%; a Alemanha planeja recrutar 50 mil a 60 mil soldados ativos adicionais. Na Península Ibérica, Portugal sinaliza antecipar sua meta de 2% antes de 2029, refletindo o clima de urgência. Já a Espanha, com o menor índice da aliança (1,3% em 2024), enfrenta divisões internas sobre elevar os gastos, o que poderá influenciar seu compromisso no encontro de Haia.

Desafios de implementação

A ampliação de 400% em sistemas de defesa aérea e antimísseis impõe desafios logísticos e industriais. Interceptores, radares e plataformas de lançamento exigirão aumento acelerado da capacidade produtiva, processo que historicamente leva anos para atingir escala necessária. Politicamente, equilibrar orçamentos nacionais entre programas sociais e militares será sensível, especialmente em economias ainda em recuperação pós-pandemia.

Perspectivas para a cúpula de Haia

Os líderes discutirão também a estratégia de defesa integrada e a criação de reservas de prontidão rápida, aptas a mobilizar contingentes e equipamentos em crises agudas. Rutte expressa otimismo cauteloso de que a meta de 5% do PIB será validada pelos 32 membros, consolidando avanços em autonomia estratégica para toda a aliança.

Conclusão

O pedido de um incremento de 400% em defesa aérea e antimísseis, somado à elevação dos gastos militares para 3,5% do PIB (mais 1,5% em segurança correlata), representa o movimento mais ambicioso da OTAN em décadas. Segundo Rutte, sem esse “salto quântico”, a aliança ficará vulnerável a ameaças persistentes no espaço euro-atlântico, mesmo após o conflito na Ucrânia. A resposta dos aliados na cúpula de Haia determinará se a OTAN conseguirá reafirmar sua dissuasão coletiva e manter a coesão política em um cenário de instabilidade crescente.

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