A OTAN Eleva o Patamar de Gastos de Defesa e Reafirma a Defesa Coletiva em Haia

Líderes da OTAN reunidos na cúpula em Haia, 2025, discutindo aumento de gastos militares e defesa coletiva.
Cúpula da OTAN 2025 em Haia: líderes discutem aumento de orçamento militar e reafirmam compromisso com a defesa mútua./ Reuters

Na cúpula realizada nos dias 24 e 25 de junho de 2025, em Haia (Países Baixos), os líderes dos 32 países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aprovaram um aumento histórico nos orçamentos de defesa — elevando a meta de 2% para 5% do PIB — e reafirmaram, de forma inequívoca, o compromisso com o Artigo 5 do Tratado de Washington, que prevê que um ataque a qualquer aliado será considerado ataque a todos.

Investimento Recorde: “Grande Vitória” de Trump

Pressionado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que classifica como “mochila grátis” o fato de alguns aliados gastarem menos de 2% do PIB em defesa, o bloco concordou em dedicar, ao longo dos próximos dez anos, 3,5% do PIB a gastos “centrais” (tropas, armamentos e inteligência) e 1,5% adicional a despesas “ampliadas” (cibersegurança, mobilidade militar e adaptação de infraestrutura). Trump celebrou o acordo como “uma grande vitória” e recomendou que parte desse investimento seja destinada à compra de material militar norte-americano.

Defesa Coletiva: Resposta ao Artigo 5

O comunicado oficial da cúpula — propositalmente curto — reafirmou de modo “ferro e fogo” o Artigo 5, endossando que “um ataque a um é um ataque a todos”. A linguagem final, mais clara do que trechos preliminares, buscou eliminar qualquer ambiguidade quanto ao compromisso dos EUA. Questionado sobre sua posição, Trump declarou: “Eu defendo o Artigo 5. Se não defendesse, não estaria aqui.”

Tensões com a Espanha e Ameaças Comerciais

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que Madri cumpriria suas obrigações mesmo investindo abaixo dos 5% do PIB. Em resposta, Trump ameaçou impor sanções comerciais duras à Espanha, advertindo que “a economia espanhola poderia ficar em risco” se não seguisse o novo padrão de gasto.

Comércio versus Segurança: O Alerta de Macron

O presidente francês Emmanuel Macron aproveitou a ocasião para criticar possíveis tarifas punitivas dos EUA sobre produtos europeus, alertando que “não faz sentido exigir mais gastos militares enquanto (…) deflagramos uma guerra comercial no coração da OTAN”. Macron ressaltou a necessidade de coerência entre as políticas de defesa e comércio.

Liderança de Mark Rutte: Equilíbrio e Diplomacia

Pela primeira vez sediada nos Países Baixos, a cúpula foi presidida pelo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, ex-primeiro-ministro holandês nativo de Haia, empossado em 1º de outubro de 2024. Rutte foi elogiado por sua habilidade em “manter Trump engajado” e conduzir negociações difíceis, resultando num consenso sem precedentes em relação ao aumento de gastos.

Parceria Global e Ausências

Além dos 32 membros, foram convidadas Austrália, Japão e Coreia do Sul como parceiros “de fora do Atlântico”, mas apenas Nova Zelândia participou efetivamente dos encontros principais, reforçando o caráter transcontinental da aliança.

Ucrânia, Rússia e o Vazio sobre Membros Futuros

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, compareceu apenas ao jantar pré-cúpula e manteve reuniões bilaterais separadas, sem participar das sessões oficiais do dia 25. O comunicado final — além de omitir qualquer menção direta à agressão russa na Ucrânia — não ofereceu um Plano de Ação para a Adesão (MAP) a Kiev, provocando críticas de especialistas que veem na ausência de um cronograma para a associação uma oportunidade perdida.

Desafios Futuros e Revisão de 2029

Embora o compromisso de 5% do PIB represente um acréscimo estimado em centenas de bilhões de dólares anuais, a OTAN incluiu na declaração um relatório de progresso marcado para 2029, quando as metas serão reavaliadas à luz das novas ameaças, sobretudo a de uma possível retirada parcial de tropas norte-americanas da Europa.

Conclusão

A cúpula de Haia redefiniu a magnitude do esforço coletivo na OTAN, colocando a aliança diante de um novo patamar financeiro e reafirmando seu pilar de defesa mútua. Resta agora aos países-membros converter promessas em orçamentos concretos, fortalecer sua indústria de defesa e manter a coesão política, enquanto equacionam interna e externamente as complexas relações comerciais e de segurança em um mundo cada vez mais incerto.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*