
Entre 22 de abril e início de maio de 2025, Índia e Paquistão travaram seus confrontos mais intensos em décadas ao longo da linha de controle na Caxemira. Na pior escalada desde 2019, as duas potências nucleares empregaram caças, mísseis balísticos, drones de ataque e artilharia pesada. A primeira faísca foi um atentado em território indiano que matou 26 pessoas, majoritariamente turistas, episódio atribuído por Nova Délhi a “terroristas” apoiados por Islamabad—a acusação negada pelo Paquistão.
Processo de Redução de Tropas
Em entrevista ao Reuters durante o Fórum de Segurança de Shangri-La, em Singapura, o General Mirza declarou:
“Já retornamos quase completamente à situação anterior a 22 de abril. Estamos nos aproximando desse patamar, ou já o alcançamos.”
Esse movimento de desmobilização reflete tanto pressões logísticas como o reconhecimento mútuo de que uma presença militar massiva eleva drasticamente o risco de choques inadvertidos.
Estimativas de Efetivo Mobilizado e Desmobilizado
Aviso: os governos de Índia e Paquistão não divulgam uma divisão setorial oficial. As estimativas a seguir são de analistas externos, calculadas de forma proporcional aos reforços mobilizados em cada região.
Setor da Fronteira | Índia (tropas adicionais) | Paquistão (tropas adicionais) |
---|---|---|
Oriental (Caxemira Oriental) | ~ 15 000 | ~ 10 000 |
Central (vales de Poonch/Kupwara) | ~ 20 000 | ~ 15 000 |
Ocidental (Punjab/Rajasthan) | ~ 25 000 | ~ 20 000 |
Total adicional mobilizado | ~ 60 000 | ~ 45 000 |
% do efetivo ativo total | ~ 4 % de 1,46 M (Índia) | ~ 7 % de 660 K (Paquistão) |
Segundo o General Sahir Shamshad Mirza, cerca de 80 % a 90 % dessas tropas já retornaram às suas posições habituais de guarnição, aproximando-se dos níveis registrados antes de 22 de abril de 2025. Permanece, contudo, um contingente reforçado em alerta para patrulhamento e pronto emprego.
Riscos de Escalada Futura
Embora as forças tenham retrocedido em número, o limiar para um novo confronto encontra-se perigosamente baixo. Mirza destacou que, mesmo sem emprego de armas nucleares, não se pode descartar:
“…qualquer erro de cálculo em momento de crise, pois as respostas podem ser diferente.”
Além disso, o conflito ultrapassou a Caxemira e atingiu instalações militares no território principal de ambos, agravando a percepção de vulnerabilidade estratégica.
Perspectivas Diplomáticas e de Mediação
Atualmente, a comunicação restringe-se a hotlines militares:
- Diretores-Gerais de Operações Militares
- Contatos táticos locais
Fora disso, não existem canais formais de diálogo entre Nova Délhi e Islamabad. Mirza alertou que a “janela de oportunidade” para uma intervenção internacional é estreita, e instâncias multilaterais — como a Organização de Cooperação de Xangai ou até a ONU — carecem de mecanismo de crise operacional entre os dois países. Por sua vez, o governo indiano, representado pelo ministro da Defesa Rajnath Singh, condiciona qualquer negociação à entrega de suspeitos de terrorismo :
“Se o Paquistão leva a sério as negociações, deve entregar os terroristas para que a justiça seja feita.”
Contexto Geopolítico Atual
Desde as viradas de 2019 e 2021, quando episódios semelhantes quase levaram a um confronto nuclear, analistas ressaltam que:
- O envolvimento não declarado de potências externas (Estados Unidos, China) foi fundamental para negociar cessar-fogo.
- A militarização transfronteiriça cresce em paralelo a crises internas de segurança, como insurgências em Balochistão e revoltas na Caxemira.
- O impacto econômico já se reflete em adiamento de projetos de infraestrutura transfronteiriça e queda dos investimentos diretos bilaterais.
Cenários Futuros
- Consolidação de um cessar-fogo duradouro, com formalização de hotlines ampliadas e protocolos de verificação em campo.
- Escalações localizadas: episódios pontuais de sniper, bombardeios de artilharia leve ou ataques de drones, mantendo o atrito mas sem grande mobilização.
- Eskalation estratégica: novo ciclo de mobilização em massa, potencialmente envolvendo blocos regionais e maior risco de resposta nuclear.
Conclusão
A convergência para níveis pré-22 de abril de 2025 representa um alívio temporário, mas a ausência de mecanismos sólidos de gestão de crise, aliada ao histórico de desconfiança mútua, sugere que:
- É imperativo expandir canais de comunicação militar e diplomática, incluindo encontros regulares de alto nível.
- Governos devem negociar acordos-tipo de controle de incidentes em áreas sensíveis, com participação de observadores neutros.
- A comunidade internacional pode oferecer boas práticas de verificação (como as adotadas entre Grécia e Turquia) para evitar reativações.
Somente assim será possível reduzir de modo sustentável o risco de um confronto abrupto entre duas potências armadas com ogivas nucleares.
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