Perseguição Contínua aos Bahá’ís no Oriente Médio: Violações, Resistência e Perspectivas

Vista aérea de uma cidade densa no Oriente Médio, com prédios compactados e ruas estreitas, simbolizando o ambiente onde a comunidade Bahá’í enfrenta desafios diários.
Panorama urbano no Oriente Médio, representando o contexto social complexo em que os Bahá’ís vivem e resistem a perseguições e violações de direitos humanos./ Jaanus Jagomägi

Originária do Irã do século XIX, a Fé Bahá’í prega a unidade da humanidade e a harmonia entre as religiões. Contudo, no Oriente Médio — especialmente em países como Irã, Iêmen, Catar e Egito — seus seguidores enfrentam uma onda sistemática de opressão. Este artigo revisita os principais episódios recentes de perseguição, atualiza dados até julho de 2025, introduz depoimentos pessoais e analisa desdobramentos humanitários, jurídicos e diplomáticos, bem como caminhos potenciais para a promoção da liberdade religiosa na região.

Contexto Histórico e Base Legal da Repressão

Desde a Revolução Islâmica de 1979, as autoridades iranianas qualificam os bahá’ís como apóstatas, proibindo-os de praticar sua fé e inserindo essa discriminação em leis de “segurança nacional”. Essa matriz de repressão inspirou — e até financiou — grupos como os rebeldes hutíes no Iêmen e influenciou políticas de países vizinhos.

Irã: Epicentro da Opressão

  • Prisões e assédios: Em abril de 2025, o Iran Press Watch documentou pelo menos dois grandes incidentes em Yazd e Babol, onde agentes de segurança invadiram reuniões familiares e confiscaram pertences, incluindo livros sagrados e dispositivos eletrônicos, sob ameaça de prisão dos participantes.
  • Educação clandestina: A negação de acesso a universidades públicas persiste. Até junho de 2025, 389 estudantes bahá’ís formados nas “universidades secretas” ainda aguardam reconhecimento oficial de seus diplomas, segundo relatório anual da Baha’i International Community de novembro de 2024.
  • Demolição de bens religiosos: Cemitérios e propriedades vinculadas à fé — como a antiga Casa do Báb em Shiraz — continuam sob risco de destruição; ao menos três locais históricos foram demolidos entre 2023 e 2025.

Dados mais recentes e específicos

  • Número de detidos: Entre janeiro de 2024 e julho de 2025, foram registradas 47 detenções arbitrárias de bahá’ís no Irã, incluindo 12 prisões coletivas em dezembro de 2024.
  • Recusas de matrícula: Somente no vestibular de outono de 2024, ao menos 1 027 candidatos bahá’ís tiveram suas inscrições indeferidas com base em critérios de “origem religiosa”.

Iêmen: Influência Hútie e Detenções em Massa

Controlados pelos hutíes, territórios no norte do Iêmen abrigam mais de 100 bahá’ís detidos desde maio de 2023, muitos submetidos a longos períodos de isolamento e risco de tortura. Em fevereiro de 2025, cinco detenções ocorridas no distrito de Saada completaram seis meses sem processo formal.

Catar: Deportações, Multas e Decisões Judiciais

Apesar da retórica de “tolerância” do Estado, o Catar manteve em abril de 2025 a detenção de Remy Rowhani — presidente eleito da Assembleia Espiritual Bahá’í local — sob acusações de “disseminar conteúdos contra a privacidade” e “promoção de seita desviada”.

  • Deportações arbitrárias: Desde 2003, pelo menos 14 bahá’ís foram expulsos do país sem justificativa plausível, além de perdas de emprego e certificações profissionais negadas.

Egito: Ausência de Reconhecimento Legal

Desde 1960, o Estado egípcio recusa qualquer registro civil dos bahá’ís, impedindo emissão de certidões de nascimento, casamento e óbito. Essa lacuna obriga famílias a buscarem documentos estrangeiros ou falsos, violando direitos básicos de cidadania e acesso a serviços de saúde e educação.

Impactos Humanitários e Sociais

  1. Fragmentação familiar: Deportações e prisões prolongadas destroem redes de apoio e meios de subsistência.
  2. Exclusão educacional e profissional: Jovens sem diploma reconhecido e adultos sem carteira profissional — reflexo de políticas que visam “erradicar” a presença bahá’í.
  3. Estigma e violência diária: Propaganda oficial e atos de intimidação alimentam preconceito social, expondo indivíduos a ameaças constantes.

Reação Internacional e Via Diplomática

  • Nações Unidas: Resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Direitos Humanos instam o Irã a respeitar o direito à educação e liberdade de crença, destacando os bahá’ís como o grupo mais perseguido no país.
  • ONGs e Observatórios: Human Rights Watch e Baha’i International Community intensificam monitoramento, divulgando relatórios que pressionam governos a adotar sanções direcionadas a oficiais responsáveis.

Perspectivas e Recomendações

  1. Pressão multilateral: Condicionar acordos econômicos e de segurança ao compromisso real com a liberdade religiosa.
  2. Apoio a educadores clandestinos: Financiar e internacionalizar diplomas das “universidades secretas” iranianas para garantir oportunidades aos graduados.
  3. Diálogo inter-religioso: Engajar clericalistas moderados e líderes civis em fóruns de compreensão mútua, desfazendo mitos que associam bahá’ís a “hereges” ou “agentes estrangeiros”.

Vozes e Depoimentos Pessoais

“Fui detida por três dias sem saber por que motivo, e tudo o que carregavam era o meu exemplar de escritos bahá’ís. Quando me libertaram, fiquei sem trabalho e sem casa, pois minha família teve que fugir para sobreviver.” — Anônimo, ex-residente de Babol, Irã.

“Meu filho concluiu o curso de engenharia nas aulas secretas e é um profissional qualificado, mas sem diploma reconhecido, vive em desemprego crônico e depende de apoio humanitário.” — Mãe de estudante bahá’í, Egito, 2025.

Conclusão

Enquanto governos e milícias continuam a fechar o cerco a uma comunidade pacifista, o futuro dos bahá’ís no Oriente Médio dependerá não só de sua resiliência interna, mas da solidariedade global — diplomática, jurídica e social — em defender a liberdade de crença como pilar de qualquer sociedade verdadeiramente plural.

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