
Em um episódio que reafirma o caráter imprevisível das operações militares e comerciais no Mar Báltico, a Rússia deteve no último domingo o petroleiro “Green Admire” — de bandeira liberiana e operado pela grega Aegean Ship Management — logo após sua saída do porto estoniano de Sillamäe. A Estônia, que já havia alertado aliados da OTAN, classificou o incidente como mais uma demonstração da política russa de instabilidade na região.
“O incidente de hoje mostra que a Rússia continua a comportar-se de forma imprevisível”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Estônia, Margus Tsahkna. “Também informei nossos aliados do ocorrido.”
Contexto e circunstâncias da detenção
O “Green Admire” (“Admirável Verde”) deixou Sillamäe no sábado, 17 de maio de 2025, às 18h40 GMT, navegando pelo canal designado que corta águas territoriais russas para evitar baixios nas águas estonianas. Dados do Marine Traffic indicam que a embarcação ancorou próximo à ilha de Hogland no domingo à tarde, quando foi interceptada por autoridades navais russas.
Um funcionário do governo grego relatou que o navio manobrou em águas russas para contornar áreas rasas, momento em que foi retido e conduzido a um ponto seguro para imposição de multa. Destino final: Roterdã, transportando óleo de xisto estoniano.
Impacto econômico e energético
Estima-se que 15% do petróleo exportado pela Rússia trafegue pelo Mar Báltico, sendo cerca de 5% referente a xisto estoniano, importante para a economia báltica e para a diversificação energética europeia. As repetidas apreensões elevaram os prêmios de risco nos seguros marítimos em até 30% no último ano, onerando custos de transporte e potencialmente elevando o preço do petróleo Brent nos mercados internacionais.
Visão de especialistas
- Dr. Elena Korhonen, do Centro de Estudos Navais de Helsinque, destaca que “a detenção de navios configura coerção estratégica, mesmo em corredores acordados tripartites”.
- Ex-capitão John Miller, da Marinha dos EUA, alerta para a necessidade de revisão das regras de engajamento da OTAN, com reforço de escoltas navais e vigilância aérea.
- Maria Santos, analista do International Energy Agency (IEA), observa flutuações de até US$1 por barril no Brent em caso de interrupções breves, devido à menor liquidez no Báltico.
- Dr. Pontus Lind, advogado marítimo em Estocolmo, avalia que recursos na Corte Internacional de Justiça podem levar anos, sem garantia imediata de responsabilização.
Consequências ambientais
Embora não tenha ocorrido derrame, a retenção de petroleiros carrega alto risco de vazamentos. Protocolos regionais exigem resposta em até 12 horas, com boias de contenção e equipes de limpeza especializadas, mas as baixas temperaturas e correntes do Báltico complicam a mitigação de manchas de óleo.
Percepção pública e opinião local
Em Sillamäe, pescadores e trabalhadores portuários organizaram protestos, exigindo maior segurança e transparência das autoridades. Câmaras municipais registraram aumento de consultas sobre planos de emergência, refletindo receio de impactos em outras atividades costeiras.
Reações institucionais e diplomáticas
Na sequência do episódio, o primeiro‑ministro estoniano Kristen Michal reafirmou o compromisso de monitorar continuamente a chamada “frota fantasma” russa, que dribla sanções ocidentais, e defendeu o aumento do orçamento militar para 5% do PIB nacional. Paralelamente, ministros de Relações Exteriores da União Europeia propuseram sanções a mais 180 navios da frota opaca, elevando para 350 o total sob restrição, e debatem banir essas embarcações de zonas econômicas europeias.
Cenários futuros
- Reforço da OTAN: maior presença naval e aérea em cooperação com Finlândia e Suécia.
- Corredores terrestres: expansão de oleodutos via Polônia ou Corredor Norte para reduzir dependência do tráfego marítimo.
- Retaliações simétricas: inspeções prolongadas ou detenções de navios bálticos em portos russos, ampliando contramedidas.
O episódio do “Green Admire” evidencia que o Mar Báltico permanece um tabuleiro estratégico — crucial para a segurança energética europeia e para a coesão da OTAN — onde Moscou continua a desafiar o direito marítimo internacional.
Conclusão
A detenção do Green Admire pela Rússia não é um evento isolado, mas sim parte de uma escalada de ações que refletem o uso estratégico da infraestrutura marítima como instrumento de pressão geopolítica. Em um cenário já tensionado pelas guerras de influência, sanções e disrupções energéticas, o Mar Báltico transforma-se em uma zona de fricção híbrida, onde disputas legais, riscos ambientais e rivalidades militares se entrelaçam. A resposta coordenada dos aliados europeus e da OTAN será crucial não apenas para garantir a segurança da navegação, mas também para afirmar o respeito às normas internacionais em tempos de crescente instabilidade.
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