
O município de Pilar, localizado na região metropolitana de Maceió, Alagoas, tornou-se palco de um projeto pioneiro no Brasil: a estocagem subterrânea de gás natural. Idealizado pela empresa Origem Energia, o projeto visa armazenar até 500 milhões de metros cúbicos de gás por ano em poços exauridos do Campo de Pilar, utilizando uma técnica consolidada na indústria de petróleo e gás. No entanto, a iniciativa tem gerado intensos debates sobre seus impactos ambientais, riscos à saúde pública e implicações geopolíticas.
O Projeto e Seus Objetivos
A Origem Energia propõe utilizar reservatórios esgotados do Campo de Pilar para armazenar gás natural, aproveitando a infraestrutura existente da Petrobras. A técnica de estocagem, baseada na reinjeção de gás em poços exauridos, é amplamente utilizada na indústria para injetar e armazenar gás nos reservatórios que ali se encontram. O investimento estimado é de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão) nos próximos cinco anos.
A empresa assumiu a operação do campo de Pilar em 2022 e atualmente produz 1,6 milhão de metros cúbicos de gás natural por dia, gerando cerca de 1.000 empregos diretos. Segundo a Origem Energia, a estocagem de gás utilizará as mesmas técnicas e tecnologias de exploração de petróleo e gás. O cronograma inicial prevê começar a injetar gás já a partir de novembro ou dezembro de 2025, dependendo das autorizações.
Riscos Ambientais e Sociais
Especialistas e organizações ambientais apontam diversos riscos associados ao projeto:
- Vazamentos e explosões: Há preocupações sobre a possibilidade de falhas técnicas que possam levar a vazamentos de gás ou até explosões, com consequências graves para a população e o meio ambiente.
- Contaminação de águas subterrâneas: A proximidade de aquíferos e lagoas, como a Lagoa Mundaú, aumenta o risco de contaminação da água, afetando a saúde pública e a pesca local.
- Impactos à saúde: A exposição a poluentes como metano e benzeno pode causar doenças respiratórias e até câncer, especialmente em comunidades próximas aos poços.
- Falta de transparência: Moradores de Pilar relatam que não foram consultados adequadamente sobre o projeto e temem a falta de informações claras sobre os riscos envolvidos.
Reação Institucional
O Ministério Público de Alagoas (MPAL) instaurou uma investigação para avaliar a suficiência dos estudos de impacto ambiental e a adequação dos planos de mitigação de riscos e de emergência. Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) também está monitorando o caso e pode instaurar uma investigação caso identifique falhas ou falta de transparência no processo.
Perspectiva Geopolítica e Energética
A implementação desse projeto coloca Alagoas na vanguarda da inovação energética no Brasil, mas também destaca a necessidade de um debate mais amplo sobre a transição energética e os riscos associados ao uso de tecnologias como a estocagem subterrânea de gás. Especialistas sugerem que, em vez de investir em soluções de alto risco, o Brasil deveria focar em alternativas mais sustentáveis e seguras para garantir a segurança energética do país.
Conclusão
O projeto de estocagem subterrânea de gás natural em Pilar representa um avanço tecnológico significativo, mas também levanta sérias questões sobre os impactos ambientais, riscos à saúde pública e a necessidade de uma análise geopolítica mais aprofundada. É essencial que as autoridades competentes conduzam uma avaliação rigorosa e transparente do projeto, garantindo que os benefícios potenciais não sejam superados pelos riscos envolvidos.
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