Presença militar dos EUA na Europa é “imperativa”, diz ministra da Defesa da Estônia

Ministro da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, durante entrevista em Tallinn, Estônia, em 28 de abril de 2025.
Ministro da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, fala sobre a importância da presença militar dos EUA na Europa durante entrevista em Tallinn, Estônia, em 28 de abril de 2025. REUTERS/Janis Laizans/File Photo

Nos últimos meses, declarações de altos oficiais norte-americanos reacenderam dúvidas sobre o compromisso dos EUA com a defesa europeia. Enquanto o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou em fevereiro que “realidades estratégicas severas impedem os EUA de se focarem principalmente na segurança da Europa”, a perspectiva de realocação de tropas para o Indo-Pacífico gerou apreensão em países da OTAN. Neste contexto, a ministra da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, concedeu entrevista à Reuters para assegurar que uma retirada completa dos 80 000 militares americanos estacionados no continente é improvável – e explicitar por que essa presença continua sendo vital para a Aliança Atlântica.

O X da questão: compromissos versus prioridades globais

Nos EUA, cresce o debate sobre prioridades estratégicas: Europa ou Indo-Pacífico?

  • Declaração de Hegseth: ao dizer que os EUA não podem “ser focados principalmente na segurança da Europa”, Hegseth refletiu preocupação com a ascensão chinesa e cenários no Pacífico.
  • Receio europeu: tais comentários alimentaram temores de que Washington possa reduzir seu contingente na OTAN, exatamente quando a guerra na Ucrânia demonstra a ambição revanchista de Moscou.
  • Resposta estoniana: Pevkur frisou que, ainda que haja reposicionamentos pontuais, não há nem debate interno na OTAN sobre retirada massiva de tropas americanas da Europa.

Por que os EUA não podem abandonar a Europa?

FatorRazão estratégica
Flanco leste da OTANBase para dissuasão contra potenciais agressões russas; presença contínua desde 2014 reforça segurança dos Estados bálticos.
Projeção de poder globalInstalações como Nápoles (IT) e Ramstein (DE) são hubs logísticos cruciais para operações no Oriente Médio, África e além.
Coesão da AliançaRetirada enfraqueceria a credibilidade dos EUA perante aliados e adversários, gerando vácuo de poder e incentivando revisionismos territoriais.

A situação dos países bálticos

Após a anexação da Crimeia em 2014, Estônia, Letônia e Lituânia sediaram forças americanas quase sem interrupção.

  • Memória histórica: ex-repúblicas soviéticas, temem nova tentativa de expansão russa após a invasão de 2022 na Ucrânia.
  • Compromisso orçamentário: a Estônia planeja elevar gastos de defesa para 5,4% do PIB em quatro anos, muito acima da média de 2% da OTAN.
  • Apelo por mais investimento: Pevkur defende meta de 4% do PIB para Europa restaurar capacidades militares credíveis, mas reconhece dificuldade política e fiscal em países mais endividados ou distantes do flanco russo.

Debates sobre gastos na OTAN

A polêmica sobre quanto cada membro deve investir divide opiniões:

  • Meta mínima atual: 2% do PIB, em vigor desde 2014, ainda não cumprida por vários aliados.
  • Propostas de elevação: Trump sugeriu 5% do PIB; secretário-geral Mark Rutte fala em “acima de 3%” para novas capacidades.
  • Desafio coletivo: alcançar índices mais altos esbarra em restrições fiscais e prioridades internas, sobretudo em países do oeste e sul da Europa.

Para mais informações sobre os desafios de países como a Itália em relação a esses investimentos, confira nosso artigo sobre Enfrentando Dificuldades para Cumprir Meta da OTAN, Itália Cogita Ampliar Orçamento de Defesa.

Implicações para a segurança transatlântica

A presença americana em solo europeu transcende simbologia política:

  1. Dissuasão – tropas e equipamentos avançados impedem movimentos agressivos de adversários.
  2. Interoperabilidade – exercícios conjuntos mantêm prontidão e padronização entre forças da OTAN.
  3. Resposta rápida – bases pré-posicionadas permitem reação imediata a crises no flanco leste ou em teatros adjacentes.

Uma eventual redução significativa minaria esses pilares, abrindo espaço para concorrentes estratégicos.

Referências a relatórios e estudos

Para aprofundar a análise, destacam-se pesquisas de think tanks renomados:

  • RAND Corporation: relatório “Presença Militar dos EUA na Europa: Forças, Postura e Missões” (2023) examina custos e benefícios de diferentes configurações de bases americanas no continente, concluindo que a flexibilidade estratégica exige manutenção de pelo menos 70 000 tropas permanentes em vários países europeus.
  • Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR): estudo “Gastos com Defesa e Distribuição de Cargas na OTAN” (março 2025) analisa o impacto de elevações de gastos para 3–5% do PIB, indicando que metas mais ambiciosas poderiam reforçar a indústria de defesa europeia e reduzir dependência dos EUA em médio prazo.
  • Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS): no “Balanço Militar 2024”, o IISS detalha a evolução das capacidades militares russas e da OTAN, destacando a importância de bases avançadas para dissuasão e resposta rápida a crises no flanco leste.

Conclusão

Embora Washington venha realocando alguns recursos para o Indo-Pacífico, não há indicativo de abandono da Europa. Conforme enfatizado pela ministra estoniana Hanno Pevkur, a presença de cerca de 80 000 soldados americanos, sustentada por bases-chave em Nápoles e Ramstein, continua essencial para assegurar o flanco leste da OTAN, projetar poder global e manter a coesão da Aliança. Ao mesmo tempo, o reforço dos orçamentos de defesa europeus – com metas realistas entre 3% e 5% do PIB – permanece desafio central para compartilhar o fardo e garantir uma dissuasão robusta contra eventuais aggressões.

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