
Nos últimos meses, declarações de altos oficiais norte-americanos reacenderam dúvidas sobre o compromisso dos EUA com a defesa europeia. Enquanto o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou em fevereiro que “realidades estratégicas severas impedem os EUA de se focarem principalmente na segurança da Europa”, a perspectiva de realocação de tropas para o Indo-Pacífico gerou apreensão em países da OTAN. Neste contexto, a ministra da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, concedeu entrevista à Reuters para assegurar que uma retirada completa dos 80 000 militares americanos estacionados no continente é improvável – e explicitar por que essa presença continua sendo vital para a Aliança Atlântica.
O X da questão: compromissos versus prioridades globais
Nos EUA, cresce o debate sobre prioridades estratégicas: Europa ou Indo-Pacífico?
- Declaração de Hegseth: ao dizer que os EUA não podem “ser focados principalmente na segurança da Europa”, Hegseth refletiu preocupação com a ascensão chinesa e cenários no Pacífico.
- Receio europeu: tais comentários alimentaram temores de que Washington possa reduzir seu contingente na OTAN, exatamente quando a guerra na Ucrânia demonstra a ambição revanchista de Moscou.
- Resposta estoniana: Pevkur frisou que, ainda que haja reposicionamentos pontuais, não há nem debate interno na OTAN sobre retirada massiva de tropas americanas da Europa.
Por que os EUA não podem abandonar a Europa?
Fator | Razão estratégica |
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Flanco leste da OTAN | Base para dissuasão contra potenciais agressões russas; presença contínua desde 2014 reforça segurança dos Estados bálticos. |
Projeção de poder global | Instalações como Nápoles (IT) e Ramstein (DE) são hubs logísticos cruciais para operações no Oriente Médio, África e além. |
Coesão da Aliança | Retirada enfraqueceria a credibilidade dos EUA perante aliados e adversários, gerando vácuo de poder e incentivando revisionismos territoriais. |
A situação dos países bálticos
Após a anexação da Crimeia em 2014, Estônia, Letônia e Lituânia sediaram forças americanas quase sem interrupção.
- Memória histórica: ex-repúblicas soviéticas, temem nova tentativa de expansão russa após a invasão de 2022 na Ucrânia.
- Compromisso orçamentário: a Estônia planeja elevar gastos de defesa para 5,4% do PIB em quatro anos, muito acima da média de 2% da OTAN.
- Apelo por mais investimento: Pevkur defende meta de 4% do PIB para Europa restaurar capacidades militares credíveis, mas reconhece dificuldade política e fiscal em países mais endividados ou distantes do flanco russo.
Debates sobre gastos na OTAN
A polêmica sobre quanto cada membro deve investir divide opiniões:
- Meta mínima atual: 2% do PIB, em vigor desde 2014, ainda não cumprida por vários aliados.
- Propostas de elevação: Trump sugeriu 5% do PIB; secretário-geral Mark Rutte fala em “acima de 3%” para novas capacidades.
- Desafio coletivo: alcançar índices mais altos esbarra em restrições fiscais e prioridades internas, sobretudo em países do oeste e sul da Europa.
Para mais informações sobre os desafios de países como a Itália em relação a esses investimentos, confira nosso artigo sobre Enfrentando Dificuldades para Cumprir Meta da OTAN, Itália Cogita Ampliar Orçamento de Defesa.
Implicações para a segurança transatlântica
A presença americana em solo europeu transcende simbologia política:
- Dissuasão – tropas e equipamentos avançados impedem movimentos agressivos de adversários.
- Interoperabilidade – exercícios conjuntos mantêm prontidão e padronização entre forças da OTAN.
- Resposta rápida – bases pré-posicionadas permitem reação imediata a crises no flanco leste ou em teatros adjacentes.
Uma eventual redução significativa minaria esses pilares, abrindo espaço para concorrentes estratégicos.
Referências a relatórios e estudos
Para aprofundar a análise, destacam-se pesquisas de think tanks renomados:
- RAND Corporation: relatório “Presença Militar dos EUA na Europa: Forças, Postura e Missões” (2023) examina custos e benefícios de diferentes configurações de bases americanas no continente, concluindo que a flexibilidade estratégica exige manutenção de pelo menos 70 000 tropas permanentes em vários países europeus.
- Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR): estudo “Gastos com Defesa e Distribuição de Cargas na OTAN” (março 2025) analisa o impacto de elevações de gastos para 3–5% do PIB, indicando que metas mais ambiciosas poderiam reforçar a indústria de defesa europeia e reduzir dependência dos EUA em médio prazo.
- Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS): no “Balanço Militar 2024”, o IISS detalha a evolução das capacidades militares russas e da OTAN, destacando a importância de bases avançadas para dissuasão e resposta rápida a crises no flanco leste.
Conclusão
Embora Washington venha realocando alguns recursos para o Indo-Pacífico, não há indicativo de abandono da Europa. Conforme enfatizado pela ministra estoniana Hanno Pevkur, a presença de cerca de 80 000 soldados americanos, sustentada por bases-chave em Nápoles e Ramstein, continua essencial para assegurar o flanco leste da OTAN, projetar poder global e manter a coesão da Aliança. Ao mesmo tempo, o reforço dos orçamentos de defesa europeus – com metas realistas entre 3% e 5% do PIB – permanece desafio central para compartilhar o fardo e garantir uma dissuasão robusta contra eventuais aggressões.
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