
Na tarde de domingo, 15 de junho de 2025, uma nova onda de protestos tomou cidades do sul da Europa para denunciar o impacto do turismo em massa sobre moradores, habitação e cultura local. Sob a coordenação da SET (Southern European Network Against Touristification), manifestantes de Espanha, Itália e Portugal se uniram em atos que combinaram teatralidade e reivindicações sérias sobre o futuro de seus centros urbanos.
Ações e símbolos
- Barcelona: Cerca de 600 pessoas percorreram as Ramblas e bairros históricos portando pistolas de água contra vitrines e liberando fumaça colorida, enquanto colavam adesivos com dizeres como “defesa de bairro, turista vá para casa” nos estabelecimentos.
- Lisboa: Milhares de lisboetas saíram ao Chiado e Alfama, encenando uma “despejo” simbólico de Santo Antônio — padroeiro da cidade — para criticar a perda de lares. Houve ainda entoação de cânticos como “turismo sim, turistificação não” e discursos lembrando o recente abaixo‑assinado de 6.600 moradores por um referendo sobre aluguéis de curta temporada.
- Genoa: Grupos carregaram réplicas infláveis de navios de cruzeiro por vielas do centro, em protesto contra o fluxo de visitantes trazido por cruzeiros que congestionam ruas estreitas e prejudicam o comércio local.
- Veneza: Locais bloquearam o acesso a ruas estreitas com cadeiras e concentraram-se em frente a canteiros de obra de dois novos hotéis que somarão 1.500 camas, temendo nova pressão imobiliária e erosão do patrimônio histórico.
Contexto e números
- Pressão sobre a moradia: Em Barcelona, cada morador conviveu com mais de 16 turistas em média em 2024 (26 milhões de visitantes para 1,6 milhão de habitantes), provocando alta de até 40% nos aluguéis nos bairros centrais.
- Estrangulamento de serviços: Em Lisboa, tuk‑tuks bloqueiam ruelas e as redes de transporte sofrem atrasos constantes—motivos que levaram a Câmara Municipal a anunciar redução de 50% dessas lotações e ampliar vagas de estacionamento para veículos de turismo.
- Receita em alta: Ainda que o setor projete US$ 838 bilhões em gastos de visitantes na Europa em 2025 (um crescimento esperado de 11%), moradores questionam se o retorno econômico compensa o desgaste social e ambiental.
Respostas oficiais e caminhos
- Regulação de curtíssimo prazo: Barcelona confirmou que, até 2028, encerrará a concessão de novas licenças para apartamentos turísticos, buscando priorizar residentes na habitação urbana.
- Descentralização: Portugal intensifica campanhas para levar turistas a regiões menos exploradas, como Douro e Centro, onde se investe em enoturismo familiar e alojamentos rurais, aliviando a sobrecarga de Lisboa e Porto.
- Taxação e bilhetagem: Municípios estudam taxas progressivas sobre estadias curtas e sistemas de reserva prévia em áreas sensíveis (já adotados em parte em Veneza), de forma a limitar fluxos e financiar serviços públicos.
Desafios à frente
Os protestos deste domingo reforçam que o problema vai além de “turistas demais”: trata‑se de um modelo econômico que trata cidadãos e espaços urbanos como mera mercadoria. O diálogo entre autoridades, setor turístico e população ainda parece distante de uma solução consensual. A pressão pela criação de “cidades vivas” — onde visitantes e moradores convivam sem exclusões — promete ser o principal desafio das políticas de turismo nos próximos anos no Mediterrâneo.
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