
No final de maio de 2025, o presidente Vladimir Putin sancionou a “Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050”, conforme declarado pelo assessor do Kremlin Nikolai Patrushev em entrevista ao jornal Argumenti i Fakti. O plano ambiciona reposicionar a Rússia entre as principais potências navais globais por meio de investimentos maciços, modernização de frotas e reforço da capacidade tecnológica, contrastando com perdas recentes no teatro ucraniano e desafios geopolíticos emergentes.
Contexto e aprovação
- Data de aprovação: Kremlin confirmou que Putin endossou o documento em 27 de maio de 2025;
- Entrevista: Publicada em 9 de junho de 2025 pelo Argumenti i Fakti;
- Visão de longo prazo: Enfatiza cenários oceânicos futuros, evolução de ameaças e definição clara de metas operacionais para a Marinha russa;
Panorama atual da Marinha Russa
- Terceira maior do mundo: Atrás apenas de China e EUA em número e tonnage de combatentes.
- Ativos principais:
- 79 submarinos (14 SSBNs nucleares balísticos)
- 222 navios de guerra (incluindo fragatas, destróieres e corvetas)
- Frota do Norte, sediada em Severomorsk, como força-chave no Ártico e no Atlântico Norte.
- Perdas na Ucrânia: Vários navios e embarcações de apoio danificados ou afundados desde 2022, afetando moral e capacidades de patrulha costeira.
Iniciativas de modernização e investimento
- Construção de novos navios e submarinos
- Fragatas Super Gorshkov (Projeto 22350M): Com até 64 células VLS para mísseis Kalibr, Oniks e Zircon, previsão de início de construção em 2024–2025.
- Submarino Perm (Projeto 885M ‘Iassen-M’): Primeiro projetado desde o início para lançar mísseis hipersônicos 3M22 Zircon, com entrada em serviço estimada em 2026.
- Armamento de última geração
- Míssil hipersônico Zircon (3M22): Em serviço desde 4 janeiro de 2023, atinge Mach 9 e até 1.000 km de alcance, integrado a fragatas e submarinos modernos.
- Kalibr e Oniks: Consolidação de capacidade de ataque de precisão em plataformas de superfície e subaquáticas.
- Programas nucleares e infraestrutura
- Modernização de SSBNs e SSGNs: Substituição de unidades soviéticas por novos submarinos estratégicos concluída até meados de 2030, com expansão de instalações de suporte em Severodvinsk e Kamchatka.
- Substituição de importações: Desenvolvimento interno de sistemas de combate, eletrônica e propulsão nuclear para reduzir vulnerabilidades a sanções.
- Investimento orçamentário
- Gastos com defesa e segurança retornaram a patamares de Guerra Fria, alocando cerca de 6% do PIB à área militar em 2024–2025.
Desafios estratégicos e geopolíticos
- Concorrência com China: PLA Navy deverá atingir 460 navios de guerra até 2030, ampliando ainda mais seu domínio no Indo-Pacífico.
- Operações no Ártico: Necessidade de renovação de quebra-gelo e navios de pesquisa, muitos com mais de 30 anos de serviço.
- Isolamento tecnológico: Embargos sobre semicondutores e componentes críticos forçam acelerada substituição de importações.
- Logística de longo alcance: Ampliação de bases avançadas no Mediterrâneo, Oceano Índico e África Ocidental para projeção de poder.
Perspectivas e implicações
A estratégia até 2050 reflete uma Rússia determinada a:
- Reestruturar o comando naval, alinhando frotas diretamente ao Estado-Maior da Armada;
- Fortalecer alianças navais, estreitando cooperação militar com China, Índia e Irã em exercícios conjuntos;
- Explorar rotas comerciais e energéticas no Ártico, aproveitando o degelo para novas vias marítimas.
Caso implemente com êxito os investimentos planejados e supere restrições logísticas e tecnológicas, a Marinha Russa poderá recuperar parte da influência perdida no pós-Guerra Fria e desafiar a supremacia ocidental em áreas estratégicas. Porém, atrasos industriais e flutuações orçamentárias são riscos críticos para o alcance desses objetivos.
Conclusão
A aprovação da “Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050” marca o compromisso de Moscou em reerguer suas forças navais por meio de renovação de frota, modernização de armamentos hipersônicos e expansão da infraestrutura. O êxito do plano dependerá da manutenção de elevados investimentos, da superação de sanções tecnológicas e de reformas estruturais na governança militar. Caso esses vetores sejam atendidos, a Rússia poderá, de fato, reconquistar o status de potência marítima de primeira linha até meados do século.
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