Putin aprova “Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050” para restaurar o poder marítimo da Rússia

Vladimir Putin preside reunião sobre desenvolvimento estratégico na residência Novo-Ogaryovo, em 6 de junho de 2025.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante reunião do Conselho Presidencial para Desenvolvimento Estratégico e Projetos Nacionais, realizada na residência estatal de Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou, em 6 de junho de 2025. (Foto: Sputnik/Gavriil Grigorov/Pool via REUTERS)

No final de maio de 2025, o presidente Vladimir Putin sancionou a “Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050”, conforme declarado pelo assessor do Kremlin Nikolai Patrushev em entrevista ao jornal Argumenti i Fakti. O plano ambiciona reposicionar a Rússia entre as principais potências navais globais por meio de investimentos maciços, modernização de frotas e reforço da capacidade tecnológica, contrastando com perdas recentes no teatro ucraniano e desafios geopolíticos emergentes.

Contexto e aprovação

  • Data de aprovação: Kremlin confirmou que Putin endossou o documento em 27 de maio de 2025;
  • Entrevista: Publicada em 9 de junho de 2025 pelo Argumenti i Fakti;
  • Visão de longo prazo: Enfatiza cenários oceânicos futuros, evolução de ameaças e definição clara de metas operacionais para a Marinha russa;

Panorama atual da Marinha Russa

  • Terceira maior do mundo: Atrás apenas de China e EUA em número e tonnage de combatentes.
  • Ativos principais:
    • 79 submarinos (14 SSBNs nucleares balísticos)
    • 222 navios de guerra (incluindo fragatas, destróieres e corvetas)
    • Frota do Norte, sediada em Severomorsk, como força-chave no Ártico e no Atlântico Norte.
  • Perdas na Ucrânia: Vários navios e embarcações de apoio danificados ou afundados desde 2022, afetando moral e capacidades de patrulha costeira.

Iniciativas de modernização e investimento

  1. Construção de novos navios e submarinos
    • Fragatas Super Gorshkov (Projeto 22350M): Com até 64 células VLS para mísseis Kalibr, Oniks e Zircon, previsão de início de construção em 2024–2025.
    • Submarino Perm (Projeto 885M ‘Iassen-M’): Primeiro projetado desde o início para lançar mísseis hipersônicos 3M22 Zircon, com entrada em serviço estimada em 2026.
  2. Armamento de última geração
    • Míssil hipersônico Zircon (3M22): Em serviço desde 4 janeiro de 2023, atinge Mach 9 e até 1.000 km de alcance, integrado a fragatas e submarinos modernos.
    • Kalibr e Oniks: Consolidação de capacidade de ataque de precisão em plataformas de superfície e subaquáticas.
  3. Programas nucleares e infraestrutura
    • Modernização de SSBNs e SSGNs: Substituição de unidades soviéticas por novos submarinos estratégicos concluída até meados de 2030, com expansão de instalações de suporte em Severodvinsk e Kamchatka.
    • Substituição de importações: Desenvolvimento interno de sistemas de combate, eletrônica e propulsão nuclear para reduzir vulnerabilidades a sanções.
  4. Investimento orçamentário
    • Gastos com defesa e segurança retornaram a patamares de Guerra Fria, alocando cerca de 6% do PIB à área militar em 2024–2025.

Desafios estratégicos e geopolíticos

  • Concorrência com China: PLA Navy deverá atingir 460 navios de guerra até 2030, ampliando ainda mais seu domínio no Indo-Pacífico.
  • Operações no Ártico: Necessidade de renovação de quebra-gelo e navios de pesquisa, muitos com mais de 30 anos de serviço.
  • Isolamento tecnológico: Embargos sobre semicondutores e componentes críticos forçam acelerada substituição de importações.
  • Logística de longo alcance: Ampliação de bases avançadas no Mediterrâneo, Oceano Índico e África Ocidental para projeção de poder.

Perspectivas e implicações

A estratégia até 2050 reflete uma Rússia determinada a:

  • Reestruturar o comando naval, alinhando frotas diretamente ao Estado-Maior da Armada;
  • Fortalecer alianças navais, estreitando cooperação militar com China, Índia e Irã em exercícios conjuntos;
  • Explorar rotas comerciais e energéticas no Ártico, aproveitando o degelo para novas vias marítimas.

Caso implemente com êxito os investimentos planejados e supere restrições logísticas e tecnológicas, a Marinha Russa poderá recuperar parte da influência perdida no pós-Guerra Fria e desafiar a supremacia ocidental em áreas estratégicas. Porém, atrasos industriais e flutuações orçamentárias são riscos críticos para o alcance desses objetivos.

Conclusão

A aprovação da “Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050” marca o compromisso de Moscou em reerguer suas forças navais por meio de renovação de frota, modernização de armamentos hipersônicos e expansão da infraestrutura. O êxito do plano dependerá da manutenção de elevados investimentos, da superação de sanções tecnológicas e de reformas estruturais na governança militar. Caso esses vetores sejam atendidos, a Rússia poderá, de fato, reconquistar o status de potência marítima de primeira linha até meados do século.

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