Putin discute negociações nucleares EUA‑Irã em encontro com sultão de Omã em Moscou

Imagem de Sultan Haitham bin Tariq Al Said de Omã e o Presidente Vladimir Putin da Rússia apertando as mãos após negociações no Kremlin, Moscou.
O sultão de Omã, Haitham bin Tariq Al Said, e o presidente russo, Vladimir Putin, apertam as mãos após discussões no Kremlin em Moscou, Rússia, sobre as negociações nucleares EUA-Irã. [Kristina Kormilitsyna/Sputnik via Reuters]/ Al Jazeera

Na terça‑feira, 22 de abril de 2025, o presidente russo Vladimir Putin recebeu em Moscou o sultão de Omã, Haitham bin Tariq Al Said, para tratar das negociações nucleares entre os Estados Unidos e o Irã, nas quais Omã atua como mediador-chave. Segundo o porta‑voz do Kremlin, Dmitry Peskov, o tema foi abordado “no contexto dos esforços de mediação omanense” , enquanto o assessor de política externa do Kremlin, Yury Ushakov, acrescentou que ambas as partes “discutiram o progresso das negociações entre representantes iranianos e americanos”.

Papel estratégico de Omã como mediador

Desde a retirada dos EUA do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) em 2018, Omã tem servido de ponte diplomática entre Teerã e Washington. O país do Golfo, tradicionalmente neutro, aproveita sua relação de confiança com ambos os lados para facilitar diálogos discretos e contornar impasses ditados pelas sanções e pela retórica beligerante. A terceira rodada de conversações entre Irã e EUA está agendada para este sábado em Omã, reforçando a importância de Mascate no processo.

Interesses russos e reaproximação com Teerã

A Rússia, signatária do acordo nuclear de 2015, mantém desde janeiro uma parceria estratégica com o Irã, materializada em tratado assinado em Moscou. Além disso, Moscou busca equilibrar sua relação com a administração Trump, em que pese as divergências sobre sanções e direitos humanos, oferecendo‑se como interlocutor para desmontar tensões militares. Em declarações à imprensa, Putin reiterou que “qualquer ação militar dos EUA contra o Irã seria ilegal” e afirmou que a Rússia “ajuda onde pode” no avanço das conversações.

Contexto geopolítico e sanções ocidentais

Desde o lançamento da guerra na Ucrânia, em 2022, a Rússia enfrenta sanções ocidentais sem precedentes. Em resposta, Moscou estreitou laços com países da Ásia, África e Oriente Médio, buscando diversificar parcerias econômicas e políticas. No encontro com o sultão, Putin destacou o interesse de empresas russas de energia em “desenvolver relações” com Omã, sinalizando futuros investimentos e cooperações no setor petrolífero e de gás.

Convite à cúpula Rússia‑Países Árabes

Ainda em Moscou, Putin anunciou planos de realizar, ainda em 2025, uma cúpula entre Rússia e países árabes, sem divulgar data ou local, convidando formalmente o sultão de Omã a participar. A iniciativa visa consolidar uma frente diplomática alternativa ao Ocidente, aproveitando o prestígio crescente dos Estados do Golfo como mediadores em crises globais — do conflito na Ucrânia à guerra em Gaza.

Citações de Especialistas

De acordo com analistas da Associated Press, “detalhados acordos técnicos são essenciais para um acordo de não proliferação verificável e eficaz”, ressaltando que apenas as negociações de alto nível não garantem um desfecho sem metas técnicas claras. Ex-oficiais de alto escalão também enfatizam que “a vontade política e metas estratégicas claras são cruciais para traduzir essas conversas em um acordo viável”, destacando os desafios em concluir pontos como níveis aceitáveis de enriquecimento e condições para o alívio de sanções.

Próximos passos: negociações em Omã e visitas de alto nível

A terceira rodada de conversas Irã‑EUA, marcada para sábado em Omã, contará com a presença de delegações chefiadas pelo ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, e representantes norte‑americanos. Além disso, Araghchi deve embarcar a Pequim em 23 de abril, atendendo convite de Guo Jiakun, porta‑voz do Ministério de Relações Exteriores da China, para discutir “relações bilaterais e temas regionais sensíveis”.

Implicações e cenários futuros

  1. Desanuviamento militar: se as negociações avançarem, poderá haver flexibilização das sanções americanas, reduzindo o risco de confronto direto no Golfo Pérsico.
  2. Fortalecimento de Omã: o país reforça sua imagem de mediador neutro, atraindo protagonismo diplomático e possíveis investimentos externos.
  3. Relações Rússia‑Oriente Médio: o diálogo estreito com Estados árabes amplia a influência de Moscou na região, criando um contraponto ao eixo ocidental liderado pelos EUA e pela UE.
  4. Aliança multipolar: a articulação entre Rússia, China, Irã e Omã sinaliza a consolidação de um bloco de poder que desafia a ordem internacional vigente.

O encontro em Moscou entre Putin e Haitham bin Tariq Al Said reforça a importância da via diplomática para evitar uma escalada militar e demonstra como potências não‑ocidentais podem atuar de forma coordenada para mediar crises globais. Com a cúpula Rússia‑Países Árabes e o próximo ciclo de negociações, o desenlace das conversas nucleares EUA‑Irã poderá desenhar um novo capítulo nas relações internacionais e no equilíbrio geopolítico do século XXI.

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